MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)

HUIT

24 DE DEZEMBRO DE 1984
PARIS, FRANÇA

  NIKI LAUDA PARECIA VER ALGUM POTENCIAL em mim, ou ele simplesmente me gostava, porque depois da primeira entrevista que consegui, ele nunca me negou as outras, nem mesmo quando fui atrás de si para falar sobre as polêmicas da temporada e sobre seu futuro.

  Algo dentro de mim me diz que sua esposa estava por trás de tudo isso.

  Foi ele também que conseguiu me levar até Nigel Mansell. O piloto não estava muito afim de conversar e eu nem imagino o por quê. Mas assim que Niki deu seu voto de confiança, ele me recebeu em sua casa em Paris.

  As minhas perguntas eram as que todos queriam saber, mas eu sabia as fazer de uma maneira inocente, manipulando Nigel a me contar o que ele raramente contava, e foi assim que descobri como surgiu a iniciativa de deixar a Lotus e como era seu relacionamento com seu antigo companheiro de equipe.

  O clima era azedo, e ele mal esperava para poder correr na Williams.

  Eu não iria escrever nada além do que ele me disse, obviamente. Tenho uma oportunidade de criar vínculos com os pilotos e isso é algo grande, algo significativo especialmente para meu futuro, e não posso deixar isso escorregar por minhas mãos.

  Não quer dizer que isso tenha acontecido tão facilmente assim. Demorei semanas para conseguir receber uma resposta concreta de Nigel, e por fim ele me aceitou em sua casa no café da tarde.

  Gentilmente me ofereceu chá e biscoito, o que neguei educada, e então iniciamos nossa conversa.

  Deixei sua casa depois das oito da noite, o que até deixou ele mesmo surpreso. Eu no entanto fiquei satisfeita por ter feito Nigel confiar em mim por algumas horas, desejando que isso durasse mais.

  Entretanto eu estava ansiosa para ir para casa, é véspera de Natal e Ayrton me disse que é uma data significativa para eles, brasileiros, e eu ainda não havia falado com ele no dia.

  Deixei todas as minhas coisas jogadas na mesa e peguei meu telefone em mãos, garantindo que não seria desligado da tomada, e disquei seu número, esperando ansiosa para o momento em que ele iria me atender.

  Isso demorou alguns longos segundos.

  — Alô? — uma voz desconhecida por mim disse em português.

  — Ayrton está aí? — pedi em inglês.

  — Quem está falando? — pediu desconfiada.

  — Sou Céline, amiga de Ayrton.

  — Está bem, só um segundo... Béco! Ligação pra você!

  Franzi o cenho.

  A mulher havia afastado o telefone da boca para gritar em português, e em poucos segundos ouvi sua voz distante.

  — 'Que é?

  — Telefone pra você, parece ser Céline.

  — Céline! — ele disse animado.

  — Ayrton?

  — Céline, olá! Que bom que ligou, estive mesmo pensando em falar com você!

  — Mas é claro que sim! Não poderia deixar de desejar uma feliz véspera de Natal!

  Ayrton riu.

  — Aqui a gente diz "Feliz Natal" já na véspera. Na verdade, o natal para nós é no dia vinte e quatro — explicou rindo.

  — Mesmo? Mas a data oficial é no dia vinte e cinco.