DOUZE

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26 DE OUTUBRO DE 1986
ADELAIDE, AUSTRÁLIA



  ERA A ÚLTIMA CORRIDA DO ANO, e apesar do desempenho espetacular de Ayrton, era frustrante ver que não foi capaz de superar as outras equipes que, de uma maneira surreal, estavam a frente da Lotus.

  Ayrton quem fez a maior parte das poles nessa temporada, literalmente a metade. Oito poles de dezesseis foram suas. O problema era o desempenho do carro na corrida.

  Alain foi campeão outra vez, e eu revirei meus olhos ao ver.

  Era injusto, injusto ele ter um carro tão ruim a ponto de não conseguir ganhar nenhuma das corridas.

  Ayrton saiu furioso da pista, não havia terminado em um lugar bom, nem na corrida, sequer no campeonato. Seu rosto estava vermelho e suado, e seu cabelo extremamente bagunçado.

  Ele foi primeiramente chamado para uma entrevista, uma que eu não pude acompanhar por estar ocupada demais entrevistando os ganhadores do Grande Prêmio. Sinceramente não estava nem um pouco interessada no que Alain tinha pra dizer.

  Não escutei nada de sua entrevista, precisei focar na minha própria, e assim que terminei, procurei por Ayrton que não estava nos boxes como achei que estivesse.

  Andei pelo padoque inteiro e depois de tanto caminhar, o encontrei no meio do mato, só, sentado em cima de seu capacete e encarando um terreno baldio um tanto distante do circuito de rua.

  Suspirei compreensiva um tanto antes de me aproximar de Ayrton, que parecia não notar minha presença. Ela apenas foi notada quando encostei minha mão em seu ombro em uma forma de demonstrar certo apoio ao piloto que claramente estava abalado, e era facilmente compreensível.

  O brasileiro olhou para mim por cima dos ombros e tentou sorrir fraco, mas o que saiu foi apenas uma curva em seus lábios ao segurar minha mão com a sua.

  — Estive procurando você por horas — falei. — As pessoas, na verdade. Sentiram sua ausência.

  Ayrton respirou fundo e encarou sua frente outra vez.

  — Não estou muito afim de dar entrevistas — ele disse.

  Concordei lentamente, olhando para frente assim como ele.

  — Ok — eu respondi, arrastando meu braço até o seu para poder abraçá-lo, e então apoiei minha cabeça em seu ombro em silêncio.

  Não demorou muito tempo para eu sentir o cabelo mais volumoso de Ayrton grudar com o meu, já que ele havia se apoiado ali no topo da minha cabeça e assim ficamos em silêncio outra vez.

  Foram longos minutos assim sem falar nada e apenas encarando o nada na nossa frente. Tempo depois, Ayrton soltou um suspiro pesado e se afastou.

  — É frustrante, Céline. Eu trabalho duro o ano inteiro, faço metade das poles, faço milagres com o carro e ganho três corridas na temporada? — desabafou.

  Meu rosto se franziu em uma careta antes de apoiar meu queixo em seu ombro para poder o enxergar melhor.

  Ayrton estava realmente chateado.

  — Sua hora vai chegar, Béco — garanti, deixando um beijo em seu ombro. 

  Eu percebi que ele queria dizer alguma coisa, mas algo fez ele desistir no meio do caminho e apenas suspirar em resposta.

  Antes que eu pudesse sequer deixar ele mergulhar outra vez em frustração e raiva, me coloquei de pé ao seu lado e estendi minha mão, vendo ele a encarar confuso.

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⏰ Última atualização: Aug 10 ⏰

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