MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)

SIX

20 DE SETEMBRO DE 1984
MÔNACO, MONTE CARLO

FAZEM DIAS que Ayrton não fala comigo e eu sei o por que. O problema era que ele estava errado e não queria me escutar.

Nem tive tempo de tentar conversar com ele na hora, porque assim que terminei de ler o título da matéria, ele saiu dos boxes, provavelmente escutando os meus chamados e os de Peter, mas ignorando todos.

Eu não fazia ideia de como sabiam daquela informação, porque eu nunca havia falado com ninguém além do próprio Ayrton sobre isso.

Alguém da equipe vazou? Só poderia ser.

Eu realmente não fazia ideia de como isso poderia ter acontecido, mas Ayrton não me escutava.

Fui atrás dele naquele mesmo momento, mas ele trancou a porta da sala onde entrou e me impediu de poder conversar. Eu tinha vontade o suficiente para continuar ali e esperar ele sair para resolver a questão, mas me impediram de fazer isso.

O final de semana inteiro ele ficou sem falar comigo, e o resultado desse vazamento foi péssimo para todos. Ele foi retirado da corrida como punição por ter fechado contrato com outra equipe antes do seu com a Toleman acabar, e ele estava furioso, não falava com ninguém a não ser com Reginaldo, o único que conseguiu uma entrevista sobre o assunto da troca de assento.

Enviei faxes, tentei ligações e até mesmo telegrama, mas Ayrton com sua teimosia não me respondia. Suspeitava até de ele sequer vê-las de tão orgulhoso que era.

Isso estava me fazendo mal. A distância e o assunto mal resolvido. Eu gosto de Ayrton, e saber que ele está chateado comigo por algo que eu não fiz e nunca faria me deixa triste.

Eu estava fazendo de tudo para tentar falar com ele, mas nada adiantava, então minha última opção for ir atrás dele pessoalmente. Já o dei tempo suficiente.

Foi difícil saber onde ele estava porque ninguém sabia ao certo, mas consegui entrar em contato com John, o piloto de seu helicóptero, e ele me disse que Ayrton estava a caminho de Mônaco. Por qual motivo, eu não sabia.

Conseguir ir até a cidade-estado também foi complicado, até porque precisei usar um dinheiro reserva para fazer isso, mas a situação em que estava era algo urgente, emergência.

Saí de rua em rua perguntando para as pessoas se haviam visto um brasileiro — é até engraçado como eles são tão típicos para nós, sempre tem algo que entrega.

Ayrton é o seu sotaque forte, puxado, ou então sua maneira de vestir.

Demorou algumas pessoas para finalmente conseguir uma informação relevante. Haviam visto ele caminhando perto do cassino.

Andei por Mônaco inteira até finalmente o achar. Estava caminhando com as mãos no bolso enquanto conversava com uma mulher mais velha, bem vestida. Eles pararam de caminhar, mas a conversa continuou. Por um tempo eu fiquei observando-os de braços cruzados, esperando a conversa terminar. Ele tinha toda sua atenção nela e por uns instantes pensei na possibilidade de ele estar me trocando.

Ele não faria isso, faria?

Quando foi se despedir da mulher, apenas com um aperto de mão, ele então me viu. Parecia surpreso, sem saber o que fazer. Antes que ele pudesse fugir, eu caminhei em sua direção.

— Você vai me ouvir — apontei.

— Eu escolho não fazer isso — disse calmo.

— Não estou nem aí. Você vai me ouvir! Eu nunca disse a ninguém que você estava de saída da Toleman, nunca disse a ninguém que eu sequer suspeitava disso ou algo do tipo. Eu não faço a menor ideia do que aconteceu, de como descobriram, mas eu vou jurar por todos os meus bens, por todas as coisas que amo no mundo, e por minha carreira, Ayrton, que eu não abri minha boca para ninguém — apontei, finalizando minha fala.