Reviravolta Reviravoltante

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Madara também se sentou, esgotado pela exaltação.

Não tem idade para estar brigando com outra idosa dessa maneira.

Havia uma jarra com água sobre a mesinha, então se serviu e tomou um longo gole.

Os dois ficaram em silêncio por longos minutos, quebrado pelo canto dos pássaros e pelo farfalhar das cortinas agitadas pelo vento matutino e fresco.

-E se eles quiserem ficar juntos? Sem que eu faça nada para interferir. - Mito indagou meio esperançosa, meio inocente. Sua voz soou baixinha demais para ser natural dela. Madara a fitou de soslaio e soltou um suspiro longo antes de rir pelo nariz. Ela não entendeu a reação.

-Seu neto tem que ser muito doido para querer o meu. Sasuke não é o príncipe que ele parece ser. - colocou água em outro copo e empurrou para perto dela. Mito agradeceu com um aceno e tomou um gole. - Eu soube que ele teve uma briga feia com uns seis Uzumakis diferentes.

-Teve. Por causa de uma moto.

-Se por um arranhão numa moto, ele fez o que fez, imagine o que faria se, por algum acaso, Naruto fizesse algo que ele não gosta. Ou os seus destratassem meu neto. Quero nem estar aqui. - voltou os olhos para a janela, um pouco mais calmo e com os ombros mais leves depois de desabafar.

-Nasceu tão parecido assim contigo, Madara?

-Ih... Mais do que deveria. Nem a aparência escapou. - Mito sorriu ao concordar. Madara não era dos homens mais bonitos daquela família, mas conservava um charme próprio depois de tantos anos. - Minha filha, que Deus a tenha, era linda e exuberante. Itachi herdou a beleza todinha dela. Não deixou nada para Sasuke, porém... - riu pelo nariz. - O moleque faz qualquer um ficar de quatro.

-Hn, eu vi. - ela olhou para a mesma janela sorrindo ao lembrar de como o moreno dançava com Naruto e do quanto aqueles olhos azuis cintilavam de felicidade sincera, da forma como Sasuke falava certas coisas para causar uma boa impressão e em como, simplesmente parado, encantou tanta gente do seu grande rebanho. Era exatamente assim que acontecia quando Madara aparecia nas festas, nos eventos ou em qualquer lugar. Um magnetismo difícil de escapar. - O moleque tem garbo.

-Oh se tem e disso eu me orgulho por ter herdado de mim.

Ficaram novamente em silêncio por um longo tempo.

-Não acha que... - Mito encurtou o olhar por trás dos óculos redondos. - Isso é coisa de Hashirama?

-Isso o quê?

-Depois de 50 anos, nos encontramos assim. Seu neto se envolvendo com o meu, nós dois aqui desabafando sobre o que nunca falamos. - virou o rosto para olhá-lo, lúcida e controlada. - Hashirama nos apaziguava, lembra, sempre que brigávamos.

-Ah... é verdade. Ele dava um jeito de nos acertarmos. "Não quero ver meus amores de bico torto". - relembrou e Mito riu porque era exatamente assim que seu finado marido falava. - Talvez. Hashirama era bem cabeça-dura e teimoso. Não largava o osso enquanto não emendasse as coisas.

-Não acredito em coincidências do destino. - afirmou segura. - E nem que meu finado esposo fazia as coisas pelo mal de ninguém. Se for ele influenciando, de alguma forma, a união dessa geração depois de tantas desavenças, não é para que o pior aconteça. - Madara teve a ligeira sensação de que ouvia notas de remorso na voz de Mito, remorso pelo seu desejo de vingança. Hashirama repudiava este ímpeto voraz da mulher quando as coisas não saíam de acordo com a sua vontade. Dizia que "os rios correm no rumo que eles mesmos criaram e nós, dentro do barco, só podemos ir, sem desviá-los".

Pela primeira vez em anos, ele a viu corar. Tão linda. Ainda guardava todos os traços que fez seu amado escolhê-la por esposa. Se pudesse amá-la como mulher, Madara tinha certeza que teria tomado-a como sua e vivido com ela uma vida bem longa e apaixonada, mas seu coração decidiu que sua paixão por Mito era sumariamente fraternal. Um afeto tão forte que nem o tempo era capaz de desgastar e aqui estava ele, depois de ser insultado e apedrejado, achando Mito Uzumaki a criatura mais linda que já viu, orgulhoso de saber que foi amigo de uma mulher tão poderosa. Seu rosto estranhou produzir um sorriso, foi quase doloroso, mas estava lá.

O Cara da QuintaOnde histórias criam vida. Descubra agora