O Cara da Quinta

Me deixa a Um Passo do Limite

Betto ajudou na obra até não suportar mais o sol - duas horas depois, já estava se refrescando na sala de estar. Sasuke permanecera criando aquela malha de listras no grande vão que o antigo teto deixou ao ser arrancado. Foi um dia calmo de ventos quentes e sem grandes problemas. Quando a tarde chegou e, com ela, o fim do seu dia de trabalho, colocara metade das vigas. Na quarta-feira, as telhas serão entregues, portanto, tem que estar com a estrutura pronta até lá - tem tempo ainda.

Sentado numa delas, tomando café no copo com bolo enquanto balançava as pernas tal qual uma criança faria para se distrair, observava o sol se pôr no fim do cafezal, o céu pintado em quase todas as cores do arco-íris - sempre quis saber como era possível tais tonalidades - e haviam nuvens esparsas aqui e ali, projetando sombras naquela aquarela de luz.

Que sorte eles têm, pensou entre um gole no copo que servia de tampa para a garrafa, uma mordida no bolo e uns trechos de uma velha canção que ele cantarolava.

Um mundo deste tamanho na janela deles todos os dias.

Suas orelhas captaram o som de passos rangendo a madeira da escada e ele olhou para baixo. Lá vinha Naruto, avançando pelo andar interditado pela ausência de cobertura, e quando ficou bem ao alcance dos seus olhos, sorria de maneira que fez Sasuke entender algumas das razões para nunca ter deixado as aulas de cerâmica depois de tantas vezes em que ele lhe afrontou. Não se julga por ser meio cego e não entender, logo de cara, que gostava desse rapaz torto e cheio de energia.

Tem algo na teimosia determinada e na felicidade sincera que o cativa. Ele não tem medo de viver a própria vida e apesar ser dessa geração que muito se cobra de si mesma, sobretudo dos homens, e para quem o mundo ficou ainda maior, mais rápido e mais agitado, sobretudo se pensar na situação dos PCD's, Naruto vai longe porque briga a cada passo. Sasuke gosta muito disso, gosta do fato de ele lembrar a todos que sua deficiência não o fez de cristal.

Só um cara com obstáculos e dificuldades diferentes dos outros, que precisa das adaptações necessárias às suas limitações, mas que isso não é motivo para um abatimento ou vitimismo. É o protagonista desta história. Estava ofegante e suado por causa do esforço de subir tantos lances de escada, mas a expressão alegre de estar ali evanesceu qualquer ideia de reprimenda que Sasuke pudesse ter, tudo o que mostrou foi um sorriso pequeno e satisfeito por sua ousadia.

Pena que os dois são de mundos tão diferentes, tão distantes. Nem em um milhão de anos ele estaria no mesmo patamar de Naruto. É só olhar para a fazenda e para o seu quarto de fundo de garagem. Sasuke suspirou e empurrou estes pensamentos para o fundo de si. Este loiro lindo merece alguém à altura da sua grandeza e do seu sorriso precioso. Não um pedreiro sem muitas expectativas.

Naruto apoiou os quadris na escada para o telhado e acenou para o namorado, achando-o a criatura mais linda de todos os tempos, empoleirado depois de um dia de trabalho, mirando-o de volta enquanto toma café e come bolo. Imaginou, por um instante, largar a bengala e subir a escada até lá cima, viu a si mesmo equilibrado na viga enquanto caminhava elegante e equilibrado até Sasuke, que o receberia com um sorriso cheio de orgulho e malícia. Então sentaria em seu colo e ali em cima, sem qualquer sustentação além da madeira, namorariam como um casal apaixonado e ousado até a noite cobrir o vasto céu completamente, eles se curtiriam sem qualquer empecilho.

Abriu os olhos e enxugou a lágrima que brotou do seu devaneio. Saiu da escada porque o moreno descia. Antes que disse qualquer coisa, abraçou-o e o beijou, querendo que este gesto bastasse para afugentar a curta tristeza que às vezes lhe acometia. Como uma gripe sazonal este tipo de pensamento. Os beijos saíram da sua boca e desceram pelo pescoço. Naruto bem quis conter um arfar arrastado, mas Sasuke ficava mais experiente na arte de lhe descontrolar a cada encontro.