Eu pus um Feitiço em Você

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O serviço começou junto com as férias na fazenda Uzumaki.

Sasuke Uchiha chegava todos os dias pontualmente às seis com sua moto Kansas puxando um carrinho com todos os materiais, ferramentas e outros itens de que fosse precisar, trajando o macacão azul marinho com o símbolo da empresa estampando as costas. Escalava as paredes e destelhava o teto com tanta rapidez e habilidade que mal se ouvia cacos caindo numa parte do jardim. Em três dias, havia duas pilhas perto da casa: as de telhas boas e as de ruins. E junto da pilha de ruins, foram apoiados todo o madeiramento estragado e podre, os restos de paredes derrubadas do alto e um amontoado de caixas, pacotes e outras quinquilharias igualmente carcomidas pelo mofo.

Ele faz juz ao slogan. "Eficiência e Solidez no Serviço".

Naruto ficava mais impressionado a cada dia.

No quarto dia, ele foi para o bosque munido de um machado e voltou em sua forma de lobo puxando uma corrente de ferro com os dentes, cujas pontas foram amarradas numa estrutura para prender e puxar enormes troncos de madeira. Foi uma surpresa e tanto ver a fera surgir do bosque, em suas proporções cavalares, puxando um tronco com muita força. Mito permitiu que algumas árvores de reflorestamento fossem derrubadas para ser feito o novo teto, então Sasuke plantou mudas grandes e boas no lugar e deixou as raízes das cortadas para que crescessem.

Motivado por sua curiosidade, ficou no coreto observando seu namorado cortando, serrando e lixando os troncos com quase um metro de diâmetro até que formassem vigas, caibros, ripas, rebites, quinas e o que mais fosse preciso. Um dia atrás do outro, concentrado no serviço, interagindo pouco com os outros. Quando Sasuke parava para se hidratar ou para comer as marmitas que trazia, Naruto chamava-o para perto ou se aproximava com certo cuidado, pois havia lascas de madeira para toda parte no gramado e pedaços grandes que serviriam de lenha caso Mito quisesse, ou seja, uma bagunça. 

No sábado, o casarão era uma casa com teto de lona preta, que às vezes inflava por conta do vento e subia como se um balão de ar quente fosse sair do interior - e Naruto ria e encantava os seus primos pequenos, bem curiosos com a obra, ao dizer que a casa se desprenderia do chão e voaria para o Norte quando o vento mais forte passasse pela lona.

Tal como aconteceu com a casa da Dorothy.

Pontualmente ao meio-dia, Sasuke negava todos os convites para comer junto dos moradores, pois, nessas férias, era tão empregado quanto os outros funcionários da fazenda - "Sou só peão de obra, Dona Mito, não se incomode comigo, por favor." dizia ele todas as vezes - , portanto, não achava correto ter certas intimidades com seus patrões: parava as ferramentas, sentava à sombra com sua marmita e ia comer, geralmente ouvindo música no fone de ouvido.

Apesar de preferir este momento desacompanhado, Naruto mandava para as cucuias a decisão do namorado, pois bastava achá-lo sozinho para chegar com a sua própria marmita enrolada num pano de prato, recém preenchida pela comida feita minutos antes, e exigir a companhia dele.

Sasuke acabara de deitar à sombra do coreto, dentro do carrinho de mão, balançando as pernas, o saco de argamassa servindo de travesseiro, quando ouviu o barulhinho típico da bengala de Naruto durante suas passadas - desviou o olhar para o lado e o viu se aproximando devagar equilibrando um prato pequeno coberto por um pano branco.

Não lembra de ele ser grudento assim durante as aulas de cerâmica. Tampouco lembra de algo sobre refeições em casal no contrato. Sasuke também não lembra de ter reclamado deste hábito nos outros cinco dias de trabalho que passaram. Se Naruto quer tanto assim estar ao seu lado, ele não se importa, mas sente - sem dúvidas - que acabará interpretando errado esta carência. Tirou os fones de ouvido ao vê-lo desviar as pilhas de madeiramento, tomar fôlego e continuar andando.

O Cara da QuintaOnde histórias criam vida. Descubra agora