Mesmo que não seja eu... Me deixe ficar

A males que vem pro bem

Eu estava em frente a um espelho, vestindo o terno que Samuel me deu assim que cheguei aqui, além de mim no reflexo, eu podia ver a casa, a praia, Jimitry e Samuel, que pra minha surpresa sorria, mas como em um piscar de olhos minhas roupas mudam, na verdade... eu não vestia nada. Estava nu e cheio de sujeira, as imagens que apareciam agora no reflexo, embrulharam meu estômago e já traziam lágrimas aos meus olhos. Imagens borradas de homens nus ao redor de uma cama, eu queria fugir dali, mas meu corpo estava paralisado, como se fossem cobras, sinto mãos subirem por minhas pernas, tocando minha cintura e se enrolando em meus ombros, sou puxado para trás caindo diretamente sobre a cama. Mãos gélidas começam a tocar meu corpo, e por mais que eu me debata e grite, minha voz não sai. Os rostos borrados daqueles homens formavam uma cortina de medo em minha frente, um sorriso assustador surge entre eles, o ar parecia não entrar em meus pulmões, minha garganta fechava e por mais que eu lutasse meu corpo não se mexia, as mãos que tocavam meu corpo parecia ferro em brasa contra minha pele. Uma sensação de estar afundando na cama me assusta, finalmente consigo erguer minha mão, ao faze-lo a vejo coberta de sêmen e lama, a cama agora era uma poça lamacenta, que me engolia como areia movediça, quanto mais eu tentava fugir, mais eu afundava, ignorando meu desespero, aquele rosto borrado que sorria sussurrava em meu ouvido.

" Não importa com quantas roupas caras seu corpo esteja coberto, ele sempre será tão sujo quanto esse buraco. Você não pertence a esse lugar Pedro, e quando mais cedo você entender isso melhor " a voz ecoa uma risada alta enquanto meu corpo e meu rosto são cobertos pela lama, me deixando sozinho na escuridão

— Shhh, está tudo bem... Vai ficar tudo bem... eu disse que você nunca mais estaria sozinho – uma voz suave sussurra em meu ouvido me trazendo um pouco de lucidez, eu não conseguia abrir os olhos, mas o batimento cardíaco que ressoava em meu ouvido, me fez adormecer novamente, dessa vez sem pesadelos.

Acordo sentindo um peso em meu corpo e muito calor, me assusto quando sinto uma respiração em minha orelha, meu rosto cora e meu coração acelera, lentamente me viro, não sei se fiquei mais decepcionado, ou surpreso e envergonhado por ver Jimy dormindo ao meu lado, o calor agora se concentrava completamente em meu rosto, tento tirar seu braço da minha cintura, e ele resmunga, fazendo um beiço descontente, rio silencioso vendo os cabelos claros caídos sobre seu rosto. Jimitry seria um perfeito exemplo dos príncipes de contos de fada, mas de alguma forma, acho que me apaixonei pelo cavalo branco do príncipe. Balanço a cabeça tentando me livrar daquele pensamentos sem sentido, e dou um grito quando aquelas duas esmeraldas estão totalmente voltadas pra mim — Bom dia baby. Dormiu bem, se sim não há de que – a pose convencida de Jimitry era engraçada, mas não podia ser negada, sua presença sempre me trazia tranquilidade, mas por alguns momentos durante a noite, foram outras emoções que senti — Hum, bom... Bom dia, desde... desde quando está aqui ? – não queria ser indelicado, mas não estava acostumado a dormir com ninguém na mesma cama, era estranho o ter ali. Ele se espreguiça, remexendo os lençóis, e tremendo como um cachorro que acabou de sair do banho — Humm, não sei bem, acho que já era de manha, Samy passou a maior parte da noite – mais uma vez aquele frio estranho ataca meu estômago — Sa... Samuel, dormiu aqui ? – eu não podia acreditar, ainda que pudesse sentir seu perfume naquele momento, achei que fosse apenas coisa da minha cabeça " Você nunca mais estará sozinho " eram suas... então eram suas aquelas palavras !? — Ele veio ontem a noite. Achou que você comeu pouco no jantar, e lhe trouxe um lanche, mas quando chegou perto da porta, você tava gritando e chorando, ele só entrou – inconscientemente franzi as sobrancelhas. Eu havia trancado a porta ontem a noite, bom ele devia ter uma cópia da chave ou... Assim que olho pra porta a mesma esta pendurada no marco, eu até poderia dizer que ela foi arrombada, mas essa frase não representaria o estado daquele pedaço de madeira. Viro meu queixo caído e meus olhos arregalados em direção a Jimitry, que dá de ombros — Você tem o sono pesado – ele apenas ergue as sobrancelhas como se aquilo não fosse nada demais e se levanta — Vem vamos tomar da manhã – seu sorriso como sempre era animado, mas meus olhos continuam arregalados e logo me viro como um tomate — Você... Você tá – não consigo finalizar a frase, em seu corpo apenas uma samba canção — Há, eu ter muito calor, você gosta da cor, eu acho que combina com meus olhos – as associações de Jimitry me matavam, quem escolhe uma cueca por achar que combina com seus olhos !? Ele ri, tocando meus ombros — Pronto pode olhar agora – meio receoso me viro, mas graças ao universo ele está coberto por um roupão — Vamos lá Baby, vamos comer algumas coisas boas. Quem se trocar primeiro ganha – o encaro de testa franzida, e logo ele corre pra fora do quarto. Não controlo o sorriso que me toma os lábios, ter Jimitry por perto era como estar sempre acompanhando da própria alegria.