Aonde Chegamos

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A brisa fraca que invadia a janela do quarto, trazia consigo os murmúrios lá de baixo, a vista que podia ser contemplada do alto daquele andar, através dos vidros bertos, dava ao espectador parado ali, uma visão que nunca nem em sonhos teve a ousadia de imaginar. As cadeiras brancas enfeitadas por flores delicadas, eram perfeitamente alinhadas uma ao lado da outra. O tapete branco criado por pétalas de flores criavam um caminho quase mágico, ao qual os noivos percorreriam até alcançar o coreto montado ali apenas para cerimônia, mas que no fim ficará pra sempre no quintal, e futuramente terá um balanço pendurado nele, e tudo por conta da dona daquela risada que ecoa alto através da janela aberta.

Ao se aproximar da abertura de madeira, Pedro ainda enrolado em seu roupão de seda, tem a visão da pequena correndo animada pelo jardim, os cabelos castanhos formando cachinhos balançavam ao vento enquanto as pequenas perninhas corriam atrás de Toby, o filhote de labrador, que obviamente foi presente de Jimitry. Era engraçado pensar que só fazia um mês que a pequenina tinha chegado ali, enroladinha nos braços de Félix, e sem fazer ideia de como sua vida havia mudado. O nervosismo do doutor foi compartilhado por todos, afinal ninguém fazia ideia de que Felix tivesse uma filha perdida em algum lugar, mas após acomodar a menina no quarto, ele retorna a sala iniciando a conversa que pegou a todo de surpresa, não só pela peculiaridade de como tudo começou, mas pela tristeza de como tudo transcorreu...

" Conheci Melissa ainda no segundo grau, nos tornamos amigos muito fácil e era com se no fundo sempre tivéssemos nos conhecido, iniciamos a faculdade e as coisas ficaram um pouco mais complicadas pra ela. Eu já não tinha contato com meus pais, mas Melissa era filha única, e a pressão para que concluísse a faculdade de medicina e assumisse o hospital dos pais era grande... Mas Mel nunca foi uma menina dos estudos, ela era aventureira, good vibes, e natureba, conhecer o mundo era o que realmente lhe encantava, a relação com seus pais já era delicada, mas depois que ela conheceu Paula, as coisas só pioraram. O pai dela nunca aceitou sua sexualidade, mas como Mel se mantinha quieta, nunca houve grande escândalo, mas com Paula a coisa era de verdade, Mel queria casar, queria se exibir ao lado da garota, queria mostrar pro mundo a sorte que teve ao encontrá-la. E de fato Paulinha era uma pessoa extraordinária, cresceu órfã, se virando sozinha e cuidando da tia doente, até que a mesma também deixasse este mundo, mas o sorriso!? Esse nunca lhe faltou no rosto, e nem a certeza de que a vida era bonita e valia a pena ser vivida...

Em um noite, Mel apareceu em minha porta pedindo abrigo, nunca vou esquecer aquela marca em sua bochecha, e o corte nos lábios, nos ombros, apenas uma mochila esturricada de roupas, e na mão o celular com o comprovante de passagens compradas... Foi a ultima vez que a vi pelos próximos anos. Achei que nunca mais a veria, mas estava feliz por ela, ainda trocavamos algumas mensagens em datas especiais, então minha surpresa foi absurda quando descobri quem era a doadora do rim que precisei... Mantivemos o contato mais próximo após a cirurgia, elas ficaram em minha casa até que Mel se recuperasse, e entre as conversas de café da manhã, a vontade de ambas de terem uma criança sempre ficou muito clara, porem o medo de embarcar nessa de olhos vendados não permitiu que elas levasse o sonho adiante, então... Eu me ofereci, me apresentei como doador para uma inseminação in vitro, achei que seria uma espécie de compensação, ainda que seu ato de amizade jamais tivesse sido cobrado ou algo do tipo... O sorriso de delas aquele dia e os olhos cheios de lágrimas, me tiraram qualquer dúvida sobre minha atitude impulsiva. Foi tudo feito dentro da lei, e cordado entre todas as partes. Após apenas dois meses, o resultado positivo chegou, ainda que tenham voltado para o Espírito Santo onde moravam, as fotos de ultra som chegavam por mensagem. O convite do aniversário de um aninho também já havia sido enviado em um video lindo cheio de borboletas, mas... Elas estavam voltando de uma viagem para convidar os amigos de Paula, quando... Um motorista bêbado invadiu a contramão... Os médicos disseram que foi um milagre que Cecília tenha tido apenas um arranhão na testa, por sorte a menor estava na cadeirinha, mas mesmo com cinto Paula e Mel... Juntos com os documentos de Mel, meu número foi achado junto a uma carta, dizendo que eu era o pai biológico e que se algo lhes acontecesse, a guarda da menina não devia ser passado a ninguém além de mim... De qualquer forma, Paula não tem familiares próximos, e os pais de Mel nem sequer quiseram conhecer a neta... Por tanto Samuel me perdõe por aparecer assim em sua casa, peço apenas um tempo pra que consiga um lugar pra me mudar e ...

Mesmo que não seja eu... Me deixe ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora