Por que será ?

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A cozinha está silenciosa, os moradores já estavam acomodados em seus quartos, com exceção do médico que espera pacientemente a água ferver sobre o vidro do fogão por indução, que sendo sincero ele ainda não sabia exatamente como usar. Não demonstrou, mas se sobressaltou quando a voz sempre animada soou, um pouco sonolenta ali atrás — Tem o suficiente pra dois? – o jovem secretário, agora se sentava no balcão de mármore escuro, bem a frente ao fogão onde o médico se mantinha em pé. Os dedos já procuravam na caixa chique de chás um sabor que lhe agradasse — Claro. Insônia ? – a água que já havia chiado, agora era trazida até o balcão, e derramada dentro das pequenas xícaras de porcelana — Ainda não me acostumei com o fuso horárioooooo – a última palavra foi finalizada com um bocejo, o que arrancou um pequeno sorriso do médico. 

Os chás foram selecionados, os saquinhos eram mergulhados na água enquanto a mesma começava a mudar de cor, Felix se mantinha em pé, enquanto do outro lado do balcão, Fredy sentado em uma banqueta alta se debruçava no balcão, mexendo lentamente sua bebida — Então… Como Pedro chegou aqui ? – a pergunta pega o médico de surpresa, tencionando seu corpo, a xícara em suas mãos é pressionada, fazendo o calor do chá quase machucar a mão do médico — Não acho que caiba a mim responder essa pergunta – a seriedade de suas palavras surpreendeu o secretário, que rapidamente ergueu os olhos em direção ao médico — A não, não entenda errado, eu não quis ser mal educado. Shiia, eu sempre dou bola fora. Minha mãe sempre diz que eu sou uma ameba quando abro a boca. Sério, ela realmente ficou uns quinze minutos de olhos arregalados quando soube que eu passei na faculdade de direito. Claro, não era como se eu tivesse sido o primeiro da turma, mas ainda sim o canudo tá na mão. Não que eu seja o excelentíssimo advogado, mas sei fazer bem meu papel, acredita que uma vez – a conversa acontecia unilateral e era tão rápida que o médico apenas o acompanhava com um balançar de cabeça. Mas o trovão que ecoa pelo céu pegou ambos de surpresa, uma nem um pouco agradável, já que o jovem secretário que interrompera suas divagações pra beber um gole do chá, agora fora lavado pela bebida quente, que se derrama por seu rosto e peito por conta do susto — 젠장 ¹ – o xingamento em outra língua ecoou alto enquanto homem sacudia as roupas molhadas. Doutor Felix, rapidamente largou sua xícara sobre a bancada, e correu em direção ao secretário — Fica parado – empurrando o castanho de volta ao acento, ele rapidamente retirou sua camisa, olhando a extensão dos ferimentos. O tronco agora tinha manchas vermelhas espalhadas pela pele clara, o garoto se sacudia no assento — Pare quieto – a voz firme, do médico cria um beiço nos lábios de Fredy. 

O médico recorre até a geladeira, retirando de lá alguns cubos de gelo enquanto a chuva começava a ganhar força lá fora. Ao se aproximar, ele enrola as pequenas pedras frias em um pano de prato e delicadamente vai de encontro às partes avermelhadas do corpo do garoto, evitando trocar a queimadura do calor, pelo do frio — É uma queimadura de primeiro grau. Não representa perigo, ainda sim vai ser dolorosa por um tempo – o ar sério do médico surpreende o homem que era atendido — Você não é psicólogo ? –  a pergunta feita era tão genuinamente inocente que Felix não se incomodou em respondê-la — Fui generalista² por alguns anos, antes de optar pela pós graduação em psicologia. Por tanto sou apto a prestar atendimento fora da minha área de especialização – os cuidados ainda eram dados a pele avermelhada e machucada, quando o secretário soltou apenas um murmúrio de admiração, arrancando uma pequena risada do médico. O embrulho de gelo ainda era segurado contra  o tronco afetado, mas agora seu olhar se atenta ao rosto do homem onde respingos de chá também atingiram. A mão de Felix segura o rosto do outro, buscando indícios de uma possível queimadura, por menor que fosse, se não tratada poderia causar uma bolha, e essa por consequência uma infecção se negligenciada. De rosto erguido Fredy se via sobre o poder daquela aura profissional e da mão grande que vira seu rosto de um lado pro outro — Não parece ter machucado seu rosto. Vou limpar as coisas aqui, suba para seu quarto, tenho uma pomada boa pra queimaduras em minhas coisas, passo la pra te entregar, tudo bem ? – a mão ainda sobre o rosto impedia que a cabeça fosse balançada em afirmação, sobrando apenas as palavras pra que o entedimento fosse dado, e quando elas sairam Fredy se sentiu estranho com a fraqueza delas – Tud…Tudo – sua respiração parecia errada, e seu rosto parecia quente, talvez fosse o contato com a agua que tenha inluencado suas sensacões. Mas de fato, e sem saber o motivo, ele sente o rosto esquentar ainda mais quando a voz soa a entrada da cozinha — Doutor é você que esta a..qui – o homem que surge na porta tem sua voz interrompida ao se deparar com a cena, no minimo, diferente.

Felix em pé segurando o rosto de Fredy, semi nu e com as bochechas rosadas, encarando fixo os olhos do outro. A cena se desfazes no mesmo segundo em que Felix reconhece quem o chama — Ivan, o que… o que faz aqui, esta tudo bem ? – a preocupação do médico se direciona ao recem chegado, que o encara de olhos arregalados e um pouco constrangido — Me, me desculpe não quis atrapalhar, nos… nos falamos outra hora – Ivan já se virava pra deixar o lugar quando, rapidamente seu pulso foi segurado pelo médico
— Espera, fica aqui, eu posso falar agora – a angustia que foi sentida em sua voz trouxe de volta ao medico o lado psicológico da profissão, ele pode perceber sem duvidas a voz embargada e as lágrimas que tentavam se disfarças sob os olhos castanhos do segurança
— Fredy, se você estiver realmente melhor, poderia nos dar licença – a frase foi dita com calma e doçura, afinal de alguma forma  os dois haviam se tornado seus pacientes, porém um deles parecia em melhor estado, podendo esperar um pouco mais por seus cuidados. Como se só agora saisse de um tranze o secretario se mexe na caderia
— Ah claro doutor, eu estou otimo, vou subir sem problemas, nem foi nada de mais, estou novo em folha, o senhor trabalha muito bem com as mãos — a frase sai tão rapida e natural que só depois ele se toca de que, estar semi nu, escorado no balção da cozinha e dizer tais palavras era um pouco sugestionavel
— Ah não espera, isso foi estranho. Obvio que não foi isso que eu quis dizer, na verdade foi, mas não desse jeito. Se bem que na real o senhor é ate atraente, ainda que não seja minha vibe, mas nada contra tambem aposto que o senhor faz sucesso com os dois lado, eu até senti um frio na barriga quado senhor tocou meu peito e 

— Fredy!! – seu nome foi chamado alto pelo médico que lhe encarava sério — Apenas suba ok!? – selando os lábios com um zíper imaginário, o mais novo apenas recupera sua camisa ensopada e caminha pra fora do espaço, parando rapidamente apenas pra fazer mais uma pergunta — Eu ainda te espero sem camisa no quarto ?? – Felix apenas suspira e fecha os olhos, enquanto o homem chega por conclusão própria que aquela frase também soou bem estranha — Aish, é melhor eu ficar quieto e subir né ? – o olhar serio e o aceno de cabeça do médico, fez com que o zíper, que não deveria ter sido aberto, fosse fechado novamente e os pés subissem apressados os degraus da escada.

Os dois que permaneceram na cozinha ainda tinham contato íntimo através da palma que segurava o pulso, e só quando o garoto encarou o próprio braço foi que Felix se deu conta de seu ato — Me perdoe, te machuquei ? – o pulso é rapidamente liberto, enquanto Ivan torce os lábios e balança a cabeça — Que bom, venha, vamos sentar– o médico lhe puxa em direção a um pequena mesa de madeira no estilo jardim, que ficava ao fundo da cozinha, já que o balcão estava inutilizável no momento. Ao redor da mesa duas cadeiras de fibra sintética trançadas e um pequeno estofado de dois lugares feito do mesmo material os esperavam, a cor escura do movel contrastava com as almofadas fofas e branquinhas, onde agora Felix os sentava pra que pudessem conversar com mais calma. 

O garoto ao seu lado torcia as mãos e mordia os lábios, claramente nervoso — Foram pesadelos de novo ? – a voz de Felix era calma e expressava a clara paciência e preocupação do médico, porém Ivan apenas balança a cabeça em concordância, sem confiar na própria voz, ainda trêmula pelo choro recente — Quer conversar sobre ? – o médico pergunta, ainda que já soubesse a resposta. Ficou feliz por ter sido procurado pelo outro, mas sentia que Ivan ainda não estava pronto para se abrir consigo, confirmando sua percepção, o mais novo balança a cabeça em negativa. As mãos agitadas agora tinha as unhas se cravando contra as palmas em um aperto doloroso e que já deixava algumas marcas por ali. Sutilmente, ainda se mantendo escorado no estofado e olhando ao longe de forma despreocupada, Felix envolve suas mãos nas do garoto, interrompendo o ato inconsciente de se ferir, as palmas quentes formavam um sanduiche com a do medico, mas o que aqueceu e agitou o peito de Ivan, foi a frase dita tranquilamente, como se fosse uma verdade imutável
— Tudo bem, eu estarei aqui pra quando você estiver pronto. 

O clima da cozinha agora era calmo e quase silencioso, as pessoas que lá estavam conversavam amenidades enquanto as horas passavam e o sono não vinha. Porem o homem que esperava no quarto ainda sem camisa, se sentia inquieto e pensativo — Eu sou um homem, que já teve muitas mulheres e agora tenho uma linda noiva me esperando – Fredy se olhava serio no espelho, enquanto a agua corria no chuveiro recem ligado, seu olhos mudam do reflexo pra algo um pouco mais abaixo, e claramente animado

— ENTÃO POR QUE CARALHO FIQUEI DURO POR QUE UM CARA TOCOU MEU PEITO!!?????
 
 

Mesmo que não seja eu... Me deixe ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora