Nossa! Charlotte sentia como se estivesse recebendo centenas de picadas de formigas direto em seu cérebro, parecia que sua cabeça iria explodir de dor a qualquer momento. O que diabos havia sido aquilo na noite anterior? E por que seu corpo doía tanto agora? Talvez tivessem colocado algo no ponche durante o baile e agora ela estivesse sofrendo com a ressaca. Faria sentido, afinal era nisso que dava convidar um bando de adolescentes mimados e irresponsáveis para uma festa.Ela começou a se lembrar de algumas coisas da noite anterior, havia um barulho alto vindo de dentro dela, como se seu coração batesse a mil por hora. Seus músculos pareciam não ter se rasgado por pouco e era como se sua pele tivesse sido esticada até o limite e então colocada de volta no lugar. Seus dentes doíam muito, as agulhas haviam sumido, mas a dor que elas causaram quando rasgaram sua gengiva parecia bem real.
Bem real? Não, aquilo era absurdo. Na verdade ela percebia claramente agora que nada daquilo foi real. Haviam batizado sua bebida e ela correu para a floresta porque estava triste e bêbada, devia ter desmaiado e começado a sonhar com aquelas garras, dentes e...e...Pelo??? Não, parecia mais cabelo.
Droga, ela colocou o próprio cabelo na boca enquanto dormia? Normalmente não seria tão nojento, mas sua mãe a fazia lavar o cabelo com leite de burra, manteiga e azeite toda semana.
"Se você não pode ter cachos, ao menos tenha um cabelo brilhoso e hidratado" a voz de Amy ecoava na mente da filha, com aquele sendo só um dos inúmeros discursos da mãe que Charlotte já havia decorado. Até podia lembrar da expressão de ordem que a mulher fazia, mas imaginar tal cena fez um arrepio percorrer a espinha da garota, que definitivamente já havia tido experiências desgastantes até demais com isso.
Ela enfim se prestou a abrir os olhos, a luz do sol, que normalmente já não era muito agradável para a sua visão sensível e fácil de incomodar, não foi a melhor aliada para sua dor de cabeça. Juntando um pouco de coragem, a garota levou a mão a boca e confirmou sua suspeita, realmente estava com cabelo na boca, bem enfiado entre seus dentes.
Ela só errou em uma questão: aquele cabelo não era dela.
MAS QUE COISA ERA AQUELA? Espere, ela estava na segurança de seus próprios pensamentos, podia blasfemar a vontade. MAS QUE PORRA ERA AQUELA?
Havia cabelos espalhados a sua volta cobertos por.....por..... Santo Deus! Ela estava sangrando? Não, aquilo era demais para ser dela, se fosse estaria morta. Charlotte respirou fundo, superando o nojo e o medo, então encarou novamente aquela terrível cena e pode constar que haviam pedaços de tecidos naquela mistura, e infelizmente as visitas as fábricas de embutidos do pai deixavam claro que ela estava coberta de viseiras, tripas e pedaços soltos de pele.
Queria pensar que tudo aquilo não passava de pedaços de porco, talvez tivessem jogado aquilo encima dela depois que desmaiou, como uma forma de pegadinha idiota. Queria se agarrar naquela ideia com todas as forças, mas no seu íntimo ela sabia a verdade.
Bem no fundo de sua mente, num canto que não parecia desejar ser acessado, ainda haviam partes visíveis de uma lembrança perturbadora: aquela coisa...Aquela coisa que Charlotte se tornou, correndo de quatro como uma besta pela floresta, e agarrando uma jovem que usava um vestido feito do mesmo tecido que agora se via em pedaços e coberto de sangue.
Uma garota que contava com os mesmos cabelos castanhos que Charlotte tinha enfiado entre seus dentes. Que tinha a mesma pele pálida que podia ser vista espalhada pelo chão daquela clareira como uma pintura sádica, pele essa a qual Charlotte se lembrava, de forma vaga e dolorosa (literalmente, pois tentar alcançar tal lembranças causava tamanho desconforto que, em comparação, a dor de cabeça agonizante que ela sentia instantes antes parecia uma simples reclamação de criança) de ter desprendido do corpo da moça, tira por tira, pedaço por pedaço, com as garras ferais que haviam surgido sabe-se lá de onde e ido para sabe-se lá qual lugar. As mesmas garras que quando apareceram, fizeram os dedos de Charlotte sangrar, e que dá mesma forma que a rasgaram, também rasgaram a garota, misturando seu sangue ao dela, enquanto descontava sua raiva e frustração em alguém que aparentemente, apenas estava no lugar errado, na hora errada.
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OS SEGREDOS DE CHARLOTTE JOHNSON
Teen FictionAlgumas pessoas nascem para brilhar e outras nascem para habitar as sombras. Charlotte Jhonson estava certa de que se encaixava na segunda opção. Entre florestas obscuras, lugares místicos e cidades no meio do nada. Charlotte irá descobrir que muita...