UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

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Charlotte estava satisfeita consigo mesma, havia conseguido interpretar com maestria o papel de garota doente ainda em recuperação. Ao que parecia, contanto que não olhasse nos olhos de Noah enquanto atuasse, sua farsa iria se manter. Ela odiava a ideia de mentir para Noah, tanto quanto odiava a ideia de mentir para Sabrina, mas comparado a ideia de sugar algum deles para o caos que se tornou sua vida, esse era o menor dos males.

Entretanto havia alguém a quem ela poderia acabar levando de cabeça para sua loucura, e embora se sentisse uma egoísta por expor outra pessoa a essa história de monstros e maldições, alguém esse que já sofreu sua cota de problemas por conta dessas lendas, parecia não haver outra opção. Annabella teria de a perdoar.

Durante toda a aula, o foco de Charlotte foi inteiramente depositado em planejar a melhor forma de explicar os mais recentes e insanos acontecimentos de sua vida para Anna. Tinha de fazer isso de forma que tudo parecesse o mais crível o possível, chegou a conclusão de que o uso da nomeação "criatura animalesca", seria mais adequado do que "monstro homicida" caso ela pretendesse não parecer uma doida varrida.

Charlotte estava tão ansiosa que teve de se conter para não começar seu discurso durante o intervalo, ao invés disso ela ardilosamente convenceu Anna a levá-la para sua casa após a aula, sobre o pretexto de se atualizar quanto as aulas que havia perdido.

[...]

A casa Brown era como boa parte das mansões das famílias fundadoras, extravagante até o tênue limite da breguisse. A prioridade contava com corredores e mais corredores lotados de pinturas e esculturas a mostra. Os móveis eram em sua maioria feitos com madeira de cerejeira, seguindo a nova moda e trocando o foco europeu por algo mais oriental. Provavelmente só os papéis de parede verdes deveriam valer o bastante para quitar um ano de hipoteca da casa Jhonson.

Apesar de gostar da cor, Charlotte não os aceitaria nem de graça. Não gostava da ideia de uma decoração a base de arsênico, já havia lido sobre muitos estudos mostrando consequências horríveis da exposição constante. Felizmente o quarto de Annabella tinha um papel de parede bege, aparentemente sem o envolvimento de elementos tóxicos. Ao adentrarem o cômodo, que deixava claro que a habilidade de Anna de conseguir o que quisesse também era usada com seus pais, Charlotte entendeu que havia chegado o momento de revelar sua real motivação.

Anna mal conseguia piscar os olhos perante aquela chuva de informações absurdas. Bestas? Bruxas? Esperaria essa história de muitas pessoas, mas não de Charlotte.

— Então o que dizem é verdade? — A ruiva questionou, ainda em choque.

— Tudo o que tem acontecido comigo, me leva a acreditar fielmente que as lendas sobre sua bisavó possam ser reais. — Charlotte disse. Ela estava cuspindo informação atrás de informação, sem nem ao menos parar para racionalizar muito. Parecia a única forma de ter psicológico para lidar com aquilo.

— Eu me referia ao que estão dizendo sobre a tal nova droga que deixa as pessoas loucas. Lotte, eu esperava mais de você.

— Eu não estou louca! Gostaria de estar, mas não estou.

— Então.....Eu posso ver? — Anna questionou, calmante, como se pedisse para a amiga a mostrar sua coleção de bonecas de porcelana, não uma suposta metamorfose monstruosa.

— Ver? — Charlotte questionou, confusa com a pergunta, e mais ainda com o fato de Anna estar encarando aquilo de forma tranquila.

— Oh Lotte, você não pode me dizer que é capaz de se tornar um monstro gigante e não me mostrar. — Respondeu Anna, indignada. De fato, uma garota peculiar...

— M-as, m-as é perigoso e eu não controlo isso, já disse que são as emoções.

De repente, Charlotte ouviu um estalo, como uma bota batendo com força no chão. Em uma fração de segundos, um choque começou a se espalhar pelo seu dedo mindinho, abrindo caminho para a dor que o dominou logo em seguida.

OS SEGREDOS DE CHARLOTTE JOHNSONOnde histórias criam vida. Descubra agora