OS SEGREDOS DE CHARLOTTE JOHNSON

COMO UM QUEBRA CABEÇAS

Querido diário, o mundo tem tantos mistérios, e ainda assim lutamos para os desvendar.
Não acho que seja possível descobrir tudo, não acho que eu vá conseguir descobrir tudo. Talvez isso não tenha de ser um problema, no fim os mistérios são o tempero da vida.

Não ligo de viver em meio a mentiras, todos vivemos, eu só quero ter algo que saiba que é verdade.

                 Trecho do diário de Charlotte
                        1 de maio de 1913

nadotrac (a) raicingnao Erviv

Lrovis  tme vasche presem.

Um enigma até que interessante, mas como alguém que ama quebra cabeças e livros de mistérios, desde que se entende por gente, esse enigma não chegava perto de ser um desafio real.
Na ordem certa, ou seja, na ordem alfabética da primeira palavra, esse era o resultado.

Erviv nadotrac (a) raicingnao

Lrovis presem tme vasche

Um embaralhamento simples de palavras, que sem muito esforço se mostrou dizer: Viver trancado a ignorância, Livros sempre tem chaves.

Mas a questão é que mesmo sabendo quais são as frases, essas continuam misteriosas.
A ignorância obviamente deve ter relação com as lendas, que aparentemente não contam bem o que realmente aconteceu com as bruxas. Mas o que "Livros sempre tem chaves" quer dizer? Os livros de história contam a versão dos fundadores.

Talvez Charlotte precisasse pensar fora da caixa, ela sempre foi muito mais racional do que criativa. Bem, duas cabeças pensam mais do que uma, e quem poderia ser melhor para ajudá-la a encontrar livros que contém uma história real, do que o filho do prefeito?

Ali, parada em frente a uma das casas mais imponentes da cidade, ao lado de uma das pessoas mais vulneráveis que já conheceu. Charlotte só esperava poder ver logo o rosto amigável, e infelizmente profanado, de Noah.

Cachos ruivos e olhos azuis ciano surgiram ao abrir da grande porta principal, mas definitivamente não pertenciam a um rosto amigável.

– Você não tem casa não? Deveríamos começar a cobrar aluguel. – Niguel a lançava um olhar preguiçoso de desdém, mas logo se animou ao ver Thais.

Não era de se surpreender, a jovem mulata de olhos verdes era uma beleza exótica, e simplesmente fascinante. No fim seus traços meigos eram as únicas coisas que compensavam sua burrice.
Também era gentil e leal, mas Charlotte dúvida que alguém além de Anna e agora ela, conseguissem notar isso.

– Já você deveria vir mais vezes – começou Niguel para Thais, mudando sua expressão arrogante para algo que deveria ser sedutor, mas era apenas hilário. – Poderia vir acompanhada da sua amiguinha ruiva, seriam muito bem recebidas.

– Que gentil! – respondeu a morena, que obviamente não tinha a capacidade de perceber qualquer tipo de segundas intenções, assim como não entendia sarcasmo. – Mas pensei que a Anna e o Noah não se gostassem.

– É, esses dois não se bicam. – concordou o garoto.

Thais ficou com uma expressão de confusão, como sempre, e se virou para Charlotte sussurrando no ouvido da mesma.

– Como eles se bicariam sem bico?

Aquilo arrancou um breve sorriso de Lotte, o que por sua vez arrancou um sorriso de Thais que percebeu que aquilo era um mal entendido. A garota sempre ria de suas confusões, e não ligava que outros fizessem o mesmo contando que não estivessem zombando de forma maldosa, o que era realmente admirável. Infelizmente a inocência da mesma a impedia de perceber muitas implicâncias maldosas, mas para sua sorte tinha sempre Anna para a defender e agora estava começando a conquistar também a lealdade de Charlotte.