"Agora, nos meus restos, estão promessas nunca cumpridas"
Glastonbury, dois anos antes.
Eu sabia perfeitamente dos riscos e das regras que devia seguir e o quão improvável o futuro podia ser. Mas naquele momento eu não me importava com o futuro, apenas queria estar com a garota que mais amava, a única e exclusiva.
Quando eu conversava com Stella seu abraço era o meu ponto de paz, ainda mais depois de um dia longo e desgastante. Enquanto estávamos escondidos de todos, apreciando a companhia um do outro, só conseguia sentir gratidão por ter encontrado na mesma pessoa o amor infinito e a minha melhor companhia.
— Como foi seu dia, meu amor? —Ao erguer a cabeça pude reparar mais uma vez cada detalhe em seu rosto, iluminado pelo sol, e nossos olhares se encontram. Foi a visão mais perfeita.
—Nada de muito especial, linda. Treinos, estudos... Acho que não variou muito. E o seu?
— O mesmo de sempre. — Franziu a testa de um jeito fofo. — Tarefas com a minha mãe. Na parte da tarde, aulas com o Joseph e, agora, a melhor parte do meu dia está sendo aqui com você, William. -Meu coração se aqueceu quando escutei.
— Ah... às vezes acho que não te mereço. Mas o que estudaram?
— Noções de aritmética, leitura e uma meditação sobre a Carta de São Paulo aos Coríntios. Aquele capítulo onde ele fala sobre o amor como a maior virtude. - Fez um sinal com as mãos para dar ênfase. - Não posso negar que foi complicado. O Joseph está cada vez mais exigente, cara!-Eu que o diga nos treinos, mas é verdade mesmo. Joseph, aquele velho mandão valoriza cada detalhe das lições. - Rimos
- Amor, isso é jeito de falar do seu padrinho?
- E menti? Não. Ele é meio excêntrico. Mas vale a pena prestar atenção no que ele fala, dá para tirar grandes lições para a vida. Ele é muito sábio.
-Admiro o jeito visionário dele - disse Stella.-De ensinar também às meninas, mesmo com tudo o que falam por aí. E sobre você e seus treinos - pôs a mão em minha coxa -, saiba que mal cabe em mim o orgulho de tê-lo comigo.
- Obrigado, querida. - Afaguei seus cabelos.
- William - falou -, essa última coisa que te falei me fez pensar muito. A passagem da Carta aos Coríntios e o que São Paulo quis dizer ao retratar o amor como dom sublime, acima de todos os gestos...
- E o que andou pensando, Stella?
- Essa é a parte em que sou chamada de herege! É impossível ouvir e não questionar, sabe. Ainda mais com tudo que a gente viveu, William. Nós crescemos ouvindo sobre essa guerra na Terra Santa. Às vezes, consigo me lembrar do seu pai, o meu pai e Joseph sempre conversando sobre isso e a justificativa da Igreja e de todos era sempre essa: Deus Vult. Deus o quer.
Mas como Alguém que é o Amor: paciente, compassivo, que tudo suporta, tudo crê, tudo perdoa e não guarda rancor, que é mais forte do que todas as virtudes, iria querer que matassem pessoas apenas por serem diferentes, com origem e cultura diversas das nossas? Ela não poderia ter mais razão. Confesso que também penso assim, mas não sou louco de expor aos quatro ventos a minha mera opinião.
- Dizem que Jesus quer isso, mas quem somos nós para ao menos pensar e afirmar algo assim sobre Ele? E o livre arbítrio?
- Mais uma pergunta: O que faz você, o Zayn e mais outros garotos daqui querer ser Templários e irem para a Terra Santa para matar em nome dAquele que é a vida e nos leva a amar? Que me inspira a te amar desde a infância!
- Parece que o Zayn quer mesmo ir, mas e você? O que realmente quer, amor? Tem certeza disso? - questionou Stella, fitando-me, dessa vez num tom descontraído.

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My Young Templars
Misterio / SuspensoApós a mudança de Stella para Londres com seus pais, a garota recebe a notícia da trágica morte de uma pessoa especial. Com a dor da perda e a busca por respostas, Stella e seus amigos se veem frente à uma maldição que atravessou séculos. Agora tent...