Capítulo 21

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Parei um instante em frente à casa do Alex. Não consegui evitar de olhar pro telhado da varanda, bem em frente à sua janela. O lugar que sentamos em uma noite que agora parecia tão distante e impossível que eu só consigo me perguntar se aquilo realmente aconteceu ou se eu simplesmente sonhei com algo bom. Naquela noite, pelo menos por alguns minutos, eu me senti muito mais do que infinito... Achei que estava conectado com o infinito do Alex de alguma forma. De algum jeito... Acho que isso também foi só algo que existia apenas na minha cabeça.

Subi os dois degraus pra varanda, parando em frente à porta do chalé. Tive que respirar fundo antes de apertar a campainha. Eu não passava mais aqui na frente... Preferia andar um quarteirão à mais pra chegar no morro ao invés de passar aqui. Eu sabia que mesmo do jeito que estávamos agora, eu ainda olharia pra janela, esperando que ele estivesse lá. Esperando por mim também... Mas esses pensamentos foram cortados quando o Alex apareceu na porta, parecendo tão animado quanto eu.

- Oi

Ele disse ao abrir. Parecia que ele não sabia o que dizer, pela forma que ele me olhava e por quão mecânico o oi soou. Ele parecia tenso. Desde quando nos tornamos estranhos um pro outro?

- Oi...

Respondi o olhando. E ficamosassim por poucas frações de segundos que pareceram dolorosamente infinitas. Eu tinha tantas perguntas... De repente todas piscavam na minha cabeça como trovões. Em tons altos e irritados. Essa situação estava... Desesperadora.

- Entre...

Alexander disse dando espaço pra mim entrar. Eu assenti, entrando. A casa continuava a mesma. Tudo parecia igual. No entanto, a atmosfera estava tão diferente. Parecia que eu não deveria estar aqui. Essa era a sensação.

- É melhor fazermos isso logo, né?

Não olhei pra ele quando eu disse. Admito que meu tom foi um pouco mais agressivo do que precisaria. Mas eu estava tão irritado. Parece que ele sentou isso, porque não respondeu. Só fechou a porta um instante depois e foi andando pro corredor, me guiando.

- Venha, é mais calmo nos fundos. Meu tio está trabalhando no escritório

Ele disse me olhando por cima do ombro enquanto andava, e eu o segui.

- Não é a parte que você trabalha? - Lembrava dele me contando sobre isso.

- Está limpo agora, então não precisa se incomodar

Me vi desejando que ele usasse o tom alegre de volta. Ele parecia tão formal. Tão frio... Fomos pro fundo, onde tinha uma areazinha aberta no canto, coberta só por um telhado sustentado por pilares de tronco bruto. Lá haviam uma mesa e uma churrasqueira. O resto do jardim era só grama e um tronco grosso cortado, cheio de marcas de machado. Provavelmente onde o Alex precisava colocar a madeira pra cortar. Ele foi até a mesa e eu me sentei do outro lado, tirando minha mochila e colocando do meu lado.

- Nosso trabalho é sobre o que mesmo?

Alexander perguntou me olhando, e eu o olhei de volta, sentindo meu peito doer quando nossos olhares se cruzaram.

- Banquete socrático. Bom, um filósofo do banquete socrático. Aristófanes

Ele bufou e deitou o rosto sobre os braços cruzados sobre. a mesa, desviando o olhar.

- Ele acha que está num programa de cupido? Mandando um tema como esse pra duplas...

Nunca vi Alex usando esse tom pra fazer. Murmurando baixo e grave. Se não fosse o contexto, esse tom teria me dado arrepios.

- O que quer dizer? - Ele levantou o olhar pra mim.

- Banquete socrático é uma reunião dos filósofos mais importantes da época pra discutirem sobre o amor

His Words (Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora