- Alex... Alex!
Comecei a abrir os olhos com dor. Por algum motivo as cortinas estavam abertas, deixando a luz entrar, quase me segando nos primeiros segundos. Coloquei uma mão sobre meus olhos e comecei a lentamente me acostumar com a vista. Foquei em uma figura grande e forte, de barba ruiva, me encarando. Era tio Jack. Resmunguei me virando pro lado.
- Só mais uns minutos...
Antes de perceber, Jack arrancou o cobertor de mim e eu olhei para ele com raiva.
- Eu disse pra dormir cedo. A gente tem trabalho, levanta.
Ele disse jogando a coberta, enrolada, no meu rosto e saindo, fechando a porta. Suspirei emburrado e me levantei. Ótimo jeito de começar as férias, tio Jack! Muito obrigado! Peguei meu celular para ver a hora, escondendo um pouco de esperança de ter alguma notificação do Ben. Mas não tinha. 8 horas... Horário incrível para cortar madeira, com certeza. Bufei e me vesti, seguindo para o banheiro. Olhei no espelho e meu cabelo está espantoso, graças a deus que Ben acordou mais tarde que eu na manhã após a festa, eu, com certeza, teria o assustado desse jeito. Tentei arruma-lo como posso. Essas olheiras também não ajudam. Devo ter dormido por 5 horas hoje. Coloquei a mão sobre minha boca, escondendo de mim mesmo um sorriso que queria aparecer por lembrar de ontem a noite. De jeito nenhum eu conseguiria dormir depois daquilo... Só de lembrar do quão próximos ficamos, quão perto ele estava, meu coração acelera loucamente. Se tio Jack não tivesse aparecido, será que nós... Chacoalhei minha cabeça e joguei água no meu rosto, afastando a idéia. Como se eu não tivesse pensado nisso o suficiente de madrugada.
Escovei os dentes e desci até a cozinha. Tio Jack estava com seu óculos de leitura, folheando um jornal com uma xícara de café na mão, franzindo o cenho.
- Bom dia. - Disse me sentando sobre a mesa. Ele respondeu com um som de garganta e virou mais uma folha, tomando uma gole da xícara. Comecei a preparar um pão com manteiga e geléia artesanal, o observando ler, com curiosidade. - Boas notícias? - Jack riu sarcasticamente.
- A única boa notícia que eu vi nesse jornal durante toda minha vida está na parede.
Ri olhando para uma notícia antiga emoldurada, pendurada com orgulho na parede de madeira escura, anunciando a abertura da Jack's Handmade Things.
- E então? Estou pronto pra aprender a esculpir?
- Ainda não. Mas tem uma pilha de madeira esperando ansiosa por você lá atrás.
Tio Jack disse me olhando com graça. Bufei desanimado. Eu não tenho interesse em esculpir, pra ser honesto, mas qualquer coisa é melhor do que continuar cortando pedaços de troncos por horas.
- Falei com a sua mãe ontem. - Ele disse com os olhos no jornal. Não respondi. - Ela disse que está com saudades.
- Se sente tanto a minha falta não deveria ter me mandado pra longe, em primeiro lugar.
- Seus pais fizeram o que consideraram melhor para você. Eles se importam muito.
- Até parece...
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Conseguia sentir os olhos de tio Jack em mim enquanto eu encarava o pão à minha frente, sem coragem de levantar os olhos.
- É bom que eles queiram te dar a experiência do trabalho e da independência enquanto você está no ensino médio. Isso é se importar.
Eles não me mandaram pra cá para conseguir "experiência". Simplesmente não conseguem lidar comigo. A única preocupação deles é que eu seja eu mesmo. Só isso.
- Claro... Ótimos pais.
Disse e dei duas mordidas no pão. É tão frustrante. O medo irracional de que eu me apaixone por alguém que eles não aprovam. Simplesmente porque esse alguém é um garoto.
(Você precisa aprender a virar homem.)
(Isso é má influência dos amigos da cidade.)
(Por isso sempre arruma briga.)
(Talvez seja minha culpa... Fui ausente, agora ele é assim.)
(Um tempo no interior, trabalhando, vai concertar esse problema.)Terminei de comer e me levantei em silêncio, indo em direção aos fundos. Tirei minha jaqueta, arrastei um grande pedaço de tronco e peguei o machado. Não entendo porque as coisas devem ser assim. Não entendo o que eles esperam de mim. Por que eu não sou o suficiente só sendo o filho deles? Comecei a atacar com agressividade a madeira no chão. Afinal, eles não deveriam ligar pro que eu faço ou gosto. Nunca se importaram mesmo. Bati, mais uma vez com o machado, apoiando meu pé no tronco para puxa-lo de volta. Mas claro, outras características não tem relevância. Quem se importa com quantas medalhas de diferentes esportes e concursos de produção textual eu ganhei? Mais uma machadada. Ninguém se importa. O que importa é simples: Nunca responda! Ajude em casa! Seja um bom exemplo pro seu irmão! Mais uma. Por que você não é mais como Joe? Seu irmão mais velho, o filho perfeito! Bom menino que vai pra igreja e tem uma linda namorada. Com certeza, a vida que eu quero. Eles nunca me perguntaram o que eu quero. Mais uma. Meus braços doíam por não parar, porém eu só conseguia colocar mais e mais força.
- Mais uma...
Problemático, defeituoso.
(Agora você briga na escola também?)
- Cala a boca...
Mais uma, e mais uma...
(Não te criei pra ser assim.)
(Com esse tipo de comportamento você vai acabar sozinho.)Antes sozinho do que como vocês. Eu não sou vocês! Não quero ser vocês!
Mais uma, mais uma...
(Você está destruindo essa família!)
Eu destruo tudo. Sou problemático. Não posso me mostrar. Tenho que manter o papel. Se eu mentir vocês vão me odiar menos, não é? Vou poder ser o filho de vocês, como eu deveria, certo? Bati com menos força. Não, claro que não. É um paradoxo. Ou eu sou um monstro egoísta, ou um mentiroso manipulador. Claro. Mais uma, com mais força. Se se importasse de verdade teriam me defendido. Ou, no mínimo, teriam conversado comigo. Acho que não importava o que eu tinha a dizer, não é? Mais uma. Não importava antes, por que agora importaria? A menos que se trate de amar. Seu filho não será gay! Essa vergonha você não passará, certo, pai?! Meus braços ardiam. O tronco finalmente se partiu, mas continuei. Mais uma machadada, agora na terra, vazia. Repetidamente, sem parar. Mesmo sem fôlego. Não me importo! Foi pra isso que eu vim, não foi?! Ficar mais forte ou morrer tentando!
- Mais uma... Mais uma... Mais...
Minhas pernas falharam, bambas. Me rendi à dor. Cai de joelhos me apoiando no machado, sem ar. Meu peito doía, como se fosse esmagado ou tivesse um pedaço arrancado. Uma pressão atordoante tomava todo meu corpo. Eu não aguento mais isso... Eu disse que ia melhorar. Não vou sentir raiva, não vou ser impulsivo, não vou me aproximar de ninguém. Eu prometi. Pensei em Ben, em todas as memórias ao mesmo tempo. Dançando no seu quarto, voltando do colégio, o observando na sala quando ele estava distraído, o morro... A festa... Meu quarto....
(Você só sabe machucar todo mundo à sua volta. Você é egoista, Alex!)
Não posso fazer isso. Não com ele...
Continua...
Nota do autor:
Seria isso um capítulo da perspectiva do Alex??? Pois é, eu queria que vocês conhecessem ele melhor antes de continuar. Percebi que não ia conseguir passar tudo o que eu quero em diálogos, etc, então fiz esse especial. Terá mais capítulos do Alex? Provavelmente não. Mas ainda tem muita coisa pra acontecer e ser descoberta. Espero que estejam gostando :)
Boa leitura!
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His Words (Yaoi)
FanfictionEu nunca soube em quem confiar. Acho que eu nunca tive alguém assim. A forma insuportável que isso pesava no meu peito, doia tanto... Mas graças a ele eu não sei mais como é me sentir assim.