Capítulo 4

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Eu estava no espelho tentando ajeitar um pouco melhor meu cabelo. Não estava fazendo alguma diferença, mas eu queria parecer bem. É a primeira vez que trago alguém aqui em casa em muito tempo. Ouvi Alex me chamando de fora. Respirei fundo buscando confiança e desci. Abri a porta sorrindo e ele me cumprimentou da mesma forma. Alex entrou olhando em volta e eu acabei me sentindo um tanto ansioso.

-Casa legal.

-É, lar doce lar. - Falei num tom sarcástico. Não tinha nenhuma foto pela casa então não me preocupei com isso. Todos os cômodos estavam minimamente organizados com exceção do quarto do meu pai, que está fechado. - Então, meu quarto é lá em cima. Se quiser comer alguma coisa ou sei lá, mi casa es su casa.

-Que bom anfitrião!

Alex disse rindo e eu retribui meio debochado. Fomos até meu quarto e Alex fechou a cortina. Olhei meio confuso mas ele não pareceu preocupado. A porta estava fechada, o que me fez pensar que caso eu tenha me enganado sobre ele, eu estava sem saída. Alexander tirou um som jbl da mochila e colocou em cima da minha escrivaninha.

-Nada burguês.

Falei sacasticamente e ele sorriu de canto. Ligando o som.

-Homade Dynamite, da Lorde.

Ele pegou dois lenços azuis escuros e me entregou um. Alex amarrou vendendo os olhos e eu ri confuso.

-Pra que isso?

-Coloca. É mais fácil se soltar quando não tem ninguém olhando né?

Eu não estava entendendo o que ele queria dizer até ele começar a dançar no ritmo da música. Me rendi e coloquei a venda. Senti meu corpo arrepiar e esquentar com a música tocando. Acabei sorrindo e começando a dançar. Era estranho estar nessa situação, era como se eu quisesse rir pela vergonha mas não conseguisse resistir à melodia. Eu me senti tão vivo e feliz! Parecia que eu estava flutuando. Me esbarrei em Alex e a gente começou a rir. Ele segurou meu braço e a gente começou a dançar juntos, ainda rindo. Nós provavelmente pareciamos idiotas. De alguma forma, eu me senti um tanto conectado com ele. Como se o que eu sinto e Alex sente fossem uma coisa só, que todos podem ver e entender perfeitamente. Então a música acabou. O silêncio não pareceu triste ou desconfortável. Alex ainda segurava meus braços e eu segurava os dele. Era uma experiência incrível. Esse deve ser o verdadeiro poder da música... O poder de unir as pessoas. De transmitir sentimentos.

Nenhum de nós se mexia. Nem para tirar o lenço, nem para nos afastamos um pouco. Então senti Alex segurando meu braço um pouco mais forte, não pra machucar, só parecendo mais perto.

-Ben, eu...

Ele estava prestes a dizer alguma coisa quando ouvi a porta de baixo abrindo e a voz do meu pai.

-Cheguei mais cedo garoto!

Eu e Alex nos soltamos imediatamente e tiramos as vendas. Alexander foi abrir a cortina enquanto eu me encostei na porta.

-Ah! Certo! Já tô indo! - Olhei pra Alex e fiz sinal pra ele ficar em silêncio ali até eu voltar. Não tenho certeza por quê, mas não quero que meu pai saiba que tem alguém aqui. Por mais inocente que seja a situação. Sai do quarto fechando a porta e desci as escadas. Meu pai estava sentado de mal jeito no sofá. - Aconteceu alguma coisa no trabalho?

-Aquele chefe idiota liberou todo mundo mais cedo pra resolver uns problemas pessoais dele. Pode alcançar meu remédio pra dor de cabeça por favor? Um copo de água também.

-Certo, um segundo.

Fui até a cozinha e ouvi uma notificação do celular do meu pai. Entreguei o remédio e o copo, ele estava concentrado com o celular.

-Eu vou sair, volto pro jantar.

Ele tomou o remédio e se levantou digitando. Meu pai saiu e eu fui lá pra cima. Alex estava sentado na minha cama olhando pra fora.

-Seu pai já está indo?

-Pois é. Ele é um homem ocupado.

-E sua mãe?

Fiquei meio desconfortável. Não tenho certeza se "Minha mãe nos abandonou pra ficar com um advogado rico e bonito" é um bom assunto pra se ter com alguém que eu acabei de conhecer. Desviei o olhar com a mão atrás da cabeça.

-É... Ela não mora aqui na verdade.

-Ah, desculpa... - A gente ficou em silêncio por alguns segundos. Então Alex quebrou o gelo. - Talvez seja melhor eu ir agora. Eu tenho que ajudar tio Jack com a loja. Você devia passar lá alguma hora... Por mais que você provavelmente já conheça, já que você mora aqui desde sempre.

Ele riu e eu sorri.

-Tá, eu passo lá qualquer hora. Qualquer coisa pra te atrapalhar no trabalho.

Ele olhou sarcástico pra mim. Desci com ele até a entrada de casa.

-Então, a gente se vê amanhã.

-É. - O ruivo estava prestes a se virar, mas eu pedi pra ele esperar, meio num susto. Ele olhou surpreso pra mim e eu fiquei um pouco envergonhado. - Valeu, pela música etc... - Alexander sorriu de um jeito fofo, parecia que seu rosto dizia "é sério que você me parou pra dizer isso?" - E também, acho que você ia dizer alguma coisa antes do meu pai aparecer. O que era?

-Ah! Bom, sobre isso... - Alex não me olhava nos olhos enquanto falava, o que me deixou mais curioso. - Na verdade não era nada importante. Acho que eu até esqueci o que era.

Ele deu uma risada falsa. Era óbvio que ele estava mentindo. Por mais que eu estivesse muito curioso, preferi não pressionar. Seja lá o que for, ele vai me dizer quando sentir que deve. Não posso forçar intimidade com ninguém.

-Tá bem. Vê se não esquece o caminho de casa também!

Disse brincando e ele soltou um pouco de ar num tipo de risada. Nos despedimos e ele foi embora. Entrei em casa e me joguei na minha cama. Ela estava com um perfume diferente. Um cheiro bom. Talvez Alexander tenha deitado enquanto eu estava lá embaixo. Ele cheira muito bem... Quando vi, tinha dormido e já eram 11 horas da noite. Me levantei pra ir até a cozinha comer alguma coisa. No caminho, vi meu pai deitado na cama, ainda de roupa social do trabalho. Porém, parecia ter batom no seu pescoço. Preferi fingir não ter reparado e ir pra cozinha. Acontece muitas vezes de meu pai aparecer despenteado com cheiro de perfume feminino. Claro que não me incomoda ver meu pai saindo. Mas sempre ser um perfume diferente me deixa preocupado. Não é essa vida que ele queria.


Continua...

His Words (Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora