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Todos dizem que o primeiro mês é o mais difícil, eu confirmava que era difícil, mas discordava em relação ao "mais", todos os 3 meses que estive nessa escola haviam sido difíceis.

No quesito provas e atividades fui muito bem, sou inteligente, sempre fui. Mas infelizmente no quesito social eu estava deixando à desejar.

Eu acordei completamente desesperada quando percebi que a quantidade de horas que eu tinha dormido estavam suspeitas.

Meu despertador não tinha tocado e eu estava atrasada quase uma hora e meia.

Com certeza eu não poderia entrar em sala agora, mas mesmo assim tinha que correr para conseguir pegar pelomenos a segunda aula.

Mamãe tinha ido num exame então eu teria que ir andando para a escola, sem luxos de carona.

O dia estava gelado e nublado, tudo que eu menos precisava ali era que começasse a chover.

As ruas estavam silenciosas mas as vezes era possível ver alguém saindo para trabalhar ou colocando o lixo para fora.

Eu não chegava a correr, mas andava muito rápido, eu gostava da meu recorde de não faltar nanhuma aula. Quando parei para respirar um carro parou ao meu lado.

-Oi, você é a Emily né? Quer uma carona para a escola?- Olhei para o lado para ver quem falava comigo era ninguém mais do que Anna, a filha do concelheiro de sua sala junto de sua mãe que vinha dirigindo o carro.

Eu tinha  passado a vida toda escutando a conhecida frase do "não aceite carona de estranhos" mas ela era filha do conselheiro, minha colega de classe, já estava atrasada o suficiente e preferia aceitar uma carona de um estranho que nem era tão estranho assim do que chegar atrasada e congelando na escola.

-Oi, eu mesma, você é a Anna né?- A menina no carro assentiu- tudo bem, a carona seria de grande ajuda.

As portas do carro se destrancaram e me sentei no banco traseiro, sem saber o que falar fiquei quieta, mas Anna logo começou a falar fazendo com que não ficasse um coisa tão tensa.

- Eu tô atrasada porque meu cachorro tava mal, aí a gente deixou ele no veterinário e você? Por que tá tão atrasada?- A Anna sempre se mostrou uma pessoa boa eu não queria parecer grossa, mas eu não conseguia arranjar palavras que soassem de maneira delicada.

- Eu acabei dormindo um pouco a mais.

- Acontece.- A mãe da menina respondeu com simplicidade.

- Eu vi sua camisa, você gosta da Marvel?- Anna tentava puxar papo comigo.

Olhei para baixo tentando me recordar da roupa que eu usava.

- Sim, eu gosto, e você?

-  Muito! Gosto de também de Harry Potter, Livros em geral e amo Taylor Swift.- Ela exclamou animada.

- Então seremos boas amigas- Não, eu não era muito fã de Taylor Swift, mas eu tentava ao máximo manter uma boa interação.

Silêncio.

Então a mãe de Anna ligou o rádio quando a filha voltou a falar.

Quando chegamos eu agradeci imensamente à mãe da Anna e fui até minha sala correndo.

Quando havia chego na sala dei duas batidas na porta e entrei.

- A senhorita está atrasada, senhorita Evelyn.- O professor dizia fazendo todos olharem para mim.

- Desculpa senhor. Eu posso entrar?

O professor fez um aceno meio desdenhoso me permitindo entrar.

Fui andando até a única mesa vazia, que não estava exatamente vazia.

A mesa estava ao lado de Rodrick, ele havia deixado todas suas coisas como cadernos e mochila em cima da mesa vaga.

Eu fiquei parada ao lado da mesa esperando que ele retirasse as coisas dele,ele parecia mais preocupado em batucar na mesa ao som da música que ele escutava no fone.

Dei um cutucão nele, mas queria ter dado um porrete na cabeça dele. Infelizmente querer não é poder.

Quando me viu tirou o fone e sorriu.

- Por que eu deveria tirar? Você chegou depois. Atrasada.- Ele sorria.

- Ah, faça-me o favor! Esse é o único lugar vago!- Eu mesma comecei a juntar as coisas dele.

- Senhorita!- O professor acabara de chamar atenção- Você chega atrasada interrompendo minha aula, o mínimo que você deve fazer é se sentar e ficar quieta!

Eu concordei rapidamente e joguei todas as coisas do Rodrick no chão.

- Ah, vai se fuder. Quero ver se fosse com você.- O menino debochava.

- Vai à merda.- Minha paciência já tinha se esgotado e nada me impedia  de cravar com o lápis na mão dele.- Só cala a boca.

Acho que estou de TPM.

- Vem calar.- Ele sorria.

- Infantilidade, até seu irmão de quatro anos é mais maduro.

Ele revirou os olhos.

Rodrick passou a aula inteira me perturbando com bolinhas de papel, desenhos infantis, batuques de ritmos de músicas, ficava chutando a cadeira tentando chamar atenção mas eu me concentrava em ignorar tudo isso.

Logo que o sinal tocou recolhi minhas coisas e sai da sala, não aguentava mais aquilo.

Na hora do almoço fui até o refeitório e como sempre estava sozinha, peguei um suco de laranja na cantina e voltei para uma sala que estava vazia, quando terminei de beber já não me sentia tão bem consegui me sentir pior, sentia meu estômago latejar.

O sinal tocou e eu fui voltando pra sala, não estava me sentindo bem, então fui de cabeça baixa, o que talvez não tenha sido uma boa ideia porque os corredores estavam lotados.

Eu esbarrei num grupo de alunos, levantei para pedir desculpa ao rapaz, mas tive a visão horrorosa dos amigos do Rodrick e o mesmo.

- Nossa, essa aí tá fissurada por mim né?- Rodrick disse enquanto abria espaço entre os amigos.

- você conhece ela?- Um dos meninos perguntou.

- É minha vizinha- Ele se aproximou e observou meu IPhone e os AirPod - Olha como é filhinha de papai- Ele brincava eu estava claramente incomodada.- Seu papai faz seu lanche?- Ele pegou a garrafa de suco da minha mão.

No momento que ele falou sobre pai eu senti meu mundo girar, nãoera possível uma pessoa tão chula fazer uma piada de merda como essa.

Toda a raiva que eu comprimia no meu pulso serrado foi direto pra cara dele

- Não fala do meu pai!- Eu disse dando um soco em seu rosto, o que fez ele cair em cima do amigo dele.

Os segundo pareceram congelar, eu tinha socado uma pessoa, no rosto.

Eu nunca bati em ninguém, nunca, eu não sou assim.

Sai correndo o mais rápido o possível dali.

Fui direto para o banheiro, me tranquei na última cabine ajoelhei em frente ao vaso e chorei, chorei pra caralho.

- Emily?- A voz era famíliar, era a Anna- Consegui escutar ela se aproximar da cabine, vi que ela sentou do outro lado da porta- Amiga, a gente pode conversar? Não faz isso com você, por favor.

Levantei e abri a porta, ela levantou e me deu um abraço, como eu precisava daquilo naquela hora, acho que sinceramente era tudo o que eu precisava.

- Eu queria te dar meus olhos, porque os seus obviamente não estão funcionando.- Anna disse sem se separar do abraço- Evelyn, você é maravilhosa.

PrimadonnaOnde histórias criam vida. Descubra agora