ⅩⅩ. deus deve nos odiar

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eu não vou apontar dedos
eu não vou dizer que foi você
eu vou deixar a vida tomar conta
e no tempo certo você verá a verdade

truth ─ zayn

────────── ୨ 𝐗 ୧ ──────────

Estou mais uma vez com Pandora, dessa vez no hospital. A encontrei desmaiada na antiga mansão dos Gates e a trouxe pra cá. Ela estava com muitos ferimentos e acredito que perdeu muito sangue porque tem um corte feio na região da costela. Weems e a enfermeira tentaram a todo custo me mandar de volta para Nunca Mais, mas não podia ir embora e deixá-la sozinha em meio a todo esse caos.

A luz do sol invade o quarto pela manhã, fecho as cortinas para que não incomode Pandora, mesmo que ela provavelmente nem esteja sentindo os raios atravessarem a janela.

A enfermeira veio no quarto há pouco tempo para checar como ela estava e trocar os curativos. Há uma sutura em sua testa e outra no abdômen, apesar da gravidade não foi preciso que ela passasse por cirurgia, o que foi um grande alívio. A enfermeira mesma disse que não sabia como ela ainda estava viva depois de ter chegado ao hospital numa situação tão deplorável.

Nunca acreditei em Deus, mas ultimamente, graças a Pandora sei que ele realmente existe. Nesse momento, me pergunto se todo o tempo que passei negando a sua existência ocasionou todas as coisas ruins da minha vida. A morte de minha mãe, a distância entre mim e meu pai, e agora, Pandora, lutando entre a vida e a morte. Pela segunda vez.

Estou segurando sua mão, esperando que como nos filmes, ela aperte a minha, acorde e diga que está tudo bem. Mas nada acontece. Deve ser um sinal de que Deus nos odeia.

Aliso seus cabelos, desde que chegamos tenho notado que agora eles possuem um tom castanho. É diferente, mas ela está linda como sempre. Apoio minha cabeça na maca, minutos depois sinto um toque suave em minha mão. Ergo-me no mesmo instante, Pandora está abrindo os olhos.

── Oi. ── Ela fala com um pouco de dificuldade e eu sorrio.

── Você acordou ── Falo me dando conta do que está acontecendo e ela geme na cama.

── O que aconteceu? ── A menor questiona confusa

── Não se lembra? ── Pergunto preocupado, ela fecha os olhos novamente e pensa um pouco.

── A mansão dos Gates ── Começa ── Estava investigando, discuti com Tyler e fui atacada pelo monstro. Quase consegui ver o rosto dele, que merda. O que aconteceu depois?

── Eu cheguei e te encontrei desmaiada. ── Explico acariciando sua mão, mas ela tira no mesmo instante.

── Por que você estava lá? Como sabia que estávamos lá?

── Eu segui vocês. ── Respondo meio confuso, o corpo dela se enrijece e eu finalmente entendo.

── Por quê?

── Fiquei preocupado com você. Fui te procurar no seu quarto e não te encontrei. ── Respondo tentando amenizar a situação, mas seu olhar a entrega. Desconfiança. Medo.

Pandora está com medo de mim e isso me atinge como uma espada cravada em meu peito.

── Não me diga que não acredita em mim... ── Travo o maxilar

── Xavier... ── Ela começa mas eu interrompo

── Não, pode ser sincera. Se está mesmo pensando isso de mim depois de tudo, quero que me diga.

── Você quer sinceridade? Então lá vai ── Ela começa no mesmo tom que usei e eu me arrependo no mesmo instante. ── Toda vez que o monstro atacou, você tava logo ali. Começando com o Rowan no festival da colheita, depois com a Wandinha na floresta no dia da interação e hoje quando fui atacada. E mesmo assim você diz que não o viu.

── Não sabia que proximidade era um crime ── Rebato, incrédulo com as suas acusações ── A Wandinha realmente entra na sua cabeça, não é? Pelo amor, Pandora. Tenta pensar mais em você mesma e não simplesmente sair acreditando nas teorias loucas da sua prima.

── Não acaba por aí, Xavier. Tem essa sua obsessão pelos desenhos. Desenhou o hyde uma dezenas de vezes e nunca o viu. Pelo menos é o que diz, né? ── Ela me olha e eu balanço a cabeça em movimentos suaves. Não creio que estou mesmo escutando tudo isso. ── Desenhou o covil dele e quando Eugene foi investigar tentou matá-lo para não contar o seu segredo. E atacou até a mim na mansão para que eu não descubra a verdade.

── Pandora, você ao menos se ouve? Acha mesmo que eu machucaria Eugene? ── Peço me levantando, meu coração apertando e um nó se formando em minha garganta ── Machucaria você?

── E ainda tem a sua aparição super conveniente na mansão Gates depois de eu ter sido atacada ── ela acusa e eu sinto meu coração estilhaçar-se em inúmeros pedaços. Devia ter escolhido melhor as palavras quando falei que meu coração era seu para que fizesse o que desejasse.

── Eu segui vocês porque estava preocupado ── me defendo ── Me diz, se eu sou o monstro, porque não matei você? Como consegue pensar em algo assim depois de tudo que passamos? A Rave'N, nossos beijos, as saídas escondidas. Pandora, você acha mesmo que eu faria algo para machucar você ou seus amigos? Sabendo o quão importantes eles são pra você ou o quão importante você é para mim?

Ela permanece calada. Seu silêncio me aflige. Não costumo saber a hora de partir, mas nesse momento sei que não devo ficar. Não quando a garota que amo não consegue sequer olhar nos meus olhos e dizer que confia em mim. Ela está cega e não posso fazer com que ela enxergue que não sou o monstro, porque é isso que ela quer ver e não vai parar até que esteja certa. Pandora é assim.

── Vai embora, por favor. ── Ela pede e eu apenas deixo escapar um suspiro pesado.

Não falo mais nada, não quero me arrepender de nenhuma bobeira mais tarde. Estou chateado, todavia minha consciência permanece tranquila. Pego minha jaqueta e caminho para sair do quarto, mas paro um pouco antes da porta, sem me virar para a garota.

── Eu amo você, Pandora. Amo tanto que chega a doer. ── Começo ── Independente de tudo, meu amor por você não diminui. Sinto muito que não possa enxergar isso agora, mas se uma hora você mudar de ideia e estiver certa dos seus sentimentos, eu estarei bem no lugar em que você me deixou. Não me arrependo nunca de tudo que vivemos, mesmo que para você, aparentemente, não tenha significado nada.

Não ouso olhar para trás porque sei que se o fizer não vou conseguir ir embora, e eu preciso. Não ouso ficar onde minha presença não é desejada. Então apenas atravesso a porta, deixando-a sozinha. Deus deve realmente nos odiar.

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﹏ 🎥 notas da autora::

escrevi esse capítulo morrendo de tristeza por esses dois, mas já já acaba então tá safe! só mais cinco capítulos pra encerrar a fic, não sei se tô pronta 😓

mas enfim, aproveitem o capítulo pq so posto de novo sexta feira, um beijaaao 💘

𝐅𝐀𝐋𝐋𝐄𝐍 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒, xavier thorpe.Onde histórias criam vida. Descubra agora