O primeiro dia em Nevermore até o momento não está sendo tão interessante e para piorar, eu estou com muita fome mesmo, estar em um lugar cheio de criaturas, faz parecer uma ótima ideia provar o sangue de cada um, está sendo uma grande tortura, afinal eu vim para cá para poder ter novas aventuras em minha vida, a comida daqui até que é boa, mas o que está me incomodando é a sede que estou sentindo.
Retorno ao meu quarto com o humor completamente ruim, quando chego Yoko não estava lá, bom pelo menos um pouco de paz para arrumar minhas coisas e pensar em uma forma de poder sair um pouco daqui e matar minha sede. Arrumo todas as minhas coisas, também estou com o amuleto do meu pai e da minha mãe, é um pêndulo totalmente feito de obsidiana negra, uma das poucas coisas que carrego de minha família, claro tem também uma foto que estou com os meus pais no Dumort, o hotel do clã do meu pai, uma das pouquíssimas vezes que eles não estavam tentando se matar, eu tinha 9 anos nessa foto e foi a última vez que nós 3 desfrutamos de um momento juntos, desde então minha mãe está presa em Alicant e meu pai me liga pouquíssimas vezes, ele tem medo de me deixar perto do seu clã por meus instintos serem puramente assassinos, mal sabe ele que não me interesso naqueles vampiros dele, mas se ele prefere me manter longe, eu apenas respeito, me acostumei a viver sozinha pelo mundo, nunca precisei de amigos ou alguém que me acompanhasse, sempre fui ótima em caçar, em conseguir dinheiro, em por medo em qualquer um que ousasse olhar firme em meus olhos tão vermelhos quanto sangue. Estava divagando em minhas lembranças, já tinha terminado de arrumar minhas coisas quando Yoko entra no quarto.
- ah, oi s/n.
- Oi - demoro um pouco e então viro para ela, seus olhos param em meu amuleto que estava amostra.
- belo amuleto, do que é feito?
- obsidiana negra, é uma herança de família. - dou de ombros como se não me importasse, mas me importo, sinto falta de minha mãe e meu pai.
- Yoko? - chamo ela, talvez seja a única que consiga me ajudar com minha sede.
- sim? - ela responde me encarando, quando a conheci ela usava óculos escuros, é a primeira vez que vejo seus olhos, são castanhos, então ela consegue mudar a cor dos olhos, eu queria conseguir, não queria ficar colocando medo a todo o momento, tem horas que eu só quero que me ignorem e não fiquem me encarando. Yoko é uma diurna assim como eu, somos bem parecidas.
- Eu estou com sede desde o momento que aquela garota colorida me apresentou a escola, poderia me ajudar?
- Eu tenho caixinhas de sangue, se te ajudar eu divido.
- Oh, eu adoraria, por favor, estou com muita sede mesmo.
Ela vai até seu estoque e me trás uma caixinha, eu pego quase em desespero e começo a tomar, mas logo me decepciono, sério, sangue de cabra? Por favor, eu preciso de sangue mundano.
- Você só tem sangue de cabra? Nenhum sangue mundano?
- mundano? - ela me pergunta com a sobrancelha arqueada.
- sim, mundano... Seres humanos? - Ela é uma vampira e não sabe a definição de mundanos? Em que mundo vive?
Vejo que ela da uma risada anasalada
- É que faz muito tempo que ninguém usa a expressão "mundanos" - ela responde fazendo aspas no ar com os dedos .
- E por que não?
- Nós não precisamos mais ficar nos escondendo, todos sabem que existem criaturas como nós aqui de Nevermore, não nos chamam mais de submundanos, mas de excluídos, existe muito preconceito contra nós, nos chamam até mesmo de aberração, mas a gente não se importa com isso. - Ela me explica com paciência.
Mesmo com sede de sangue humano eu me obrigo a me contentar com sangue de cabra por enquanto, só por enquanto.
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