Capítulo Sete

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Como aquilo era possível?

Ela havia visto Fallon se jogar do prédio mais alto de Seattle, e em questão de tempo ela estava bem ali na sua frente...

A não ser que ela não estivesse, pelo ao menos não fisicamente. Vieney poderia acreditar nisso caso não fosse tão cética.

— Fallon? — perguntou mais uma vez, e tentou ir até a garota mas suas mãos ainda estavam amarradas aos ferros.

— Não. Maisie.

Os olhos de Vieney, mesmo que ainda estivessem cansados de tanto chorar, procurou pelo corpo da garota indícios de que ela estava falando a verdade.

E lá estava. Ou melhor, não estava. Essa garota, seja lá quem fosse, não tinha tatuagens visíveis.

— Eu te vi... eu... — procurou as palavras certas, mas não encontrou nada além de um vazio pleno em sua cabeça. — Como isso é possível?

A garota focou sua atenção em Vieney. Em comparação com Fallon, ela era muito robótica.

— Isso o quê?

— Você estar aqui. Eu te vi se jogar, cacete! Você... você morreu!

Vieney viu algo mudar na expressão dela. Sua postura robótica e seu olhar vago mudou para algo mais vulnerável e tenso enquanto seus pés a levava para a beirada que Fallon havia se jogado.

Era como se ela estivesse vendo tudo acontecer de novo.

— Não! Se afasta daí, por favor.

Lentamente, a garota se virou.

— Eu não vou pular. Não sou suicida como a minha irmã é... era. — solta uma lufada de ar gelado e se volta para o noite. — Por que você tá aqui?

Vieney não se viu na obrigação de responder, apenas ergueu as algemas.

— Não estou dizendo que você a empurrou. Fallon é corajosa o suficiente pra fazer isso por si só... e louca também.

— Você fala como se não sentisse nada. — ela diz, puxando as correntes ao máximo para alcançar Maisie, mas não adianta. — Sua irmã se matou, caralho! 

Maisie se afastou da beirada e olhou com tanta frieza para Vieney que ela estremeceu.

— Eu não estaria aqui se não soubesse disso, seja-lá-qual-for-o-seu-nome. — enfiou as mãos nos bolsos do moletom verde-militar e se dirigiu até onde Vieney estava amarrada. Ela quebrou o cadeado com tanta facilidade que Vieney se perguntou quantas vezes ela já havia feito aquilo antes. — Me agradeça depois.

— Depois? — não que ela pretendesse agradecer, de qualquer forma.

— Minha irmã está morta lá em baixo, precisamos lidar com isso primeiro das cordialidades. — sorriu de lado com deboche.

Vieney sabia que gostar de Fallon tinha sido fácil... Fallon era amável, mesmo quando não achava que isso fosse verdade. Mas Maisie era... insuportável.

Como era possível que duas pessoas tivessem o mesmo rosto e fossem donas de sentimentos tão diferentes?

Maisie desceu as escadas primeiro enquanto Vieney deu uma última olhada para o guarda-corpos que Fallon havia se jogado. Fechou os olhos por alguns segundos e pediu perdão por ter falhado com ela de alguma forma.

Se ela pudesse ter uma chance de voltar no tempo, teria agarrado Fallon com mais força. Poderia ter dado esperança pra ela.

Sua visão voltou a ficar embaçada, e ela sabia que seria apenas uma questão de tempo para que seu coração desabasse mais uma vez. Então ela guardou aquele sentimento de despedida e desceu as escadas com Maisie.

Quando estava há cinco metros da porta de Sara, a irmã que Fallon veio se despedir e que agora ela entendia o porquê, ela ouviu seu nome ser chamado.

— Vie, espera. — Connor chamou-a pelo apelido, o que só causou um gosto amargo na boca de Vieney. — A gente pode conversar?

— A gente já conversou. — tentou encerrar a conversa e evitar que Maisie, uma completa desconhecida, presenciasse um drama.

E por alguma razão que ela não conhecia, não queria que Maisie soubesse que Vieney era namorada de Connor.

— Connor, eu não tenho mais nada pra falar. — o garoto insistia em impedi-la de passar.

— Mas eu tenho, amor.

Vieney não se importou em prestar atenção no que aquela palavra havia significado pra ela, não; por alguma razão ela se importou mais no que aquilo significou para Maisie.

A gêmea franziu o cenho.

— “Amor”? — olhou de um para o outro e parou na garota. — Vieney?

A ruiva quis acreditar que seu nome não foi perguntado com expectativa e, quando afirmou que ela, quis não ter notado que a expressão de Maisie havia se fechado como uma carranca.

E ela não entendeu o porquê.

— O que está acontecendo aqui? — foram interrompidas por Sara, a irmã mais velha das gêmeas e vizinha de Connor.

— A sua irmã — Maisie respondeu antes de Vieney. — está lá embaixo.

Não foi preciso ser dito mais nada, Sara havia entendido.

Fallon não voltaria mais.

Aquela era a afirmação que ela esperou que não viesse, mas veio. E Vieney notou que a mulher parecia ter se preparado a vida inteira para aguentar aquele momento.

E talvez fosse isso mesmo. Talvez Fallon estivesse mesmo destinada ao fim desde o começo.

— A gente ainda pode conversar? — Connor interviu a ex-namorada que respirou fundo antes de voltar a olhá-lo.

— Uma pessoa morreu, cacete. — Maisie intervém.

Connor olha para ela como se tivesse notado sua presença somente naquele instante.

— E o que isso tem a ver comigo e com a minha namorada?

— Ex-namorada. — corrigiu antes que Maisie decidisse responder. — E eu não tenho mais nada pra falar com você. Só aceite o nosso término que é melhor para nós dois.

O garoto nega com a cabeça.

— O melhor pra mim é você!

Dava para notar a raiva começando a surgir no rosto de Maisie enquanto tudo que Vieney sentia era cansaço.

— Não foi isso que pareceu quando você tava enfiando o seu pau naquela garota de programa. — Maisie entrou na conversa mais uma vez.

Vieney suspirou, exausta demais para aquilo.

— Dá pra falar sério? Tem uma pessoa morta lá fora e vocês agem como duas crianças. — levantou a voz para que aquilo parasse. — Connor, eu não sou mais a sua namorada, então faz o favor de não falar mais comigo porque nada que você fizer vai mudar isso.

Deu as costas para tudo aquilo. Sua cabeça estava explodindo, seu peito doía como se estivesse sendo esmagado, e seus olhos implorável para serem fechados, mas, antes que as portas do elevador se fechassem por completo, Vieney poderia jurar que Maisie a olhou uma última vez.

Antes que as portas se abram (girlxgirl)Onde histórias criam vida. Descubra agora