Capítulo Quinze

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— Me passa o sal. — murmurou o pai para Vieney, as únicas palavras que ela havia direcionado a ela nos últimos dias desde que a filha lhe contou que tudo entre ela e Connor havia acabado.

Já era a decepção da família desde que se assumiu pansexual, que diferença fazia mais uma decepção para a sua longa lista de motivos para receber o tratamento do silêncio? Bom... não era nada.

Se tinha uma coisa que Vieney havia aprendido bem em seus anos de vida era que seus pais a tratavam com frieza quando ela não fazia o que eles queriam, mas não havia muita coisa que ela poderia fazer sobre isso, havia? Vieney não deixaria de viver a própria vida para viver a vida que alguém planejou para ela. Isso ela não faria.

Então, com o passar do tempo, Vieney aprendeu que tudo bem ser tratada com o tratamento do silêncio... isso não significava que ela não poderia devolvê-lo.

— Vieney, eu falei com você! — o pai voltou a falar, visto que a filha o ignorou.

E ele odiava ser ignorado.

— Pegue o sal para mim. — após um minuto de silêncio para manter a calma, ele voltou a dizer: — Estou perdendo a paciência com você a cada dia que passa, sabia? Quando acredito que as coisas vão ser diferentes, você dá um jeito de me decepcionar ainda mais.

Aquilo não a machucou de forma alguma. Vieney havia ouvido aquelas palavras a sua vida inteira, portanto... que diferença fazia?

— Estou perdendo a fé em você, Vieney. — de todas as palavras ditas, aquelas foram as únicas que causaram algo diferente nela. Por mais ateia que fosse, aquilo não tinha a ver com fé em Deus ou qualquer entidade, era nela... sua única filha.

O pai suspirou com pesar.

— Com licença. — a mãe murmurou baixinho ao se levantar para abrir a porta. Vieney estava tão imersa em uma vontade de chorar que nem se deu conta que a campainha estava tocando há um bom tempo. Mas junto com a mãe, seu pai também se levantou.

— Esperando alguém?

Ela limpou a voz que por muito tempo não a usava dentro de casa.

— Não.

— É pra você. — disse a mãe ao retornar.

— Nós conhecemos? — indagou e a esposa negou com a cabeça. Seus olhos retornaram para a filha. — Diga que você não poderá recebê-lo.

— Recebê-la... é uma garota. — mesmo hesitante, a esposa ousou corrigi-lo.

— Por que tem uma garota à sua procura? — o pai quis saber.

Quis saber em vão, pois ela não o respondeu. Levantou-se da mesa e foi de encontro à porta. No hall, o coração dela quase saiu pela boca quando viu Maisie de costas para ela.

O órgão deu um salto tão ridículo quando ela a olhou, que Vieney ficou receosa em respirar, com medo de que seu pai ou alguém daquela cidade pudesse ouvir seu coração desesperado ao querer ir de encontro à outra, mas ela se manteve firme. Precisava disso se quisesse que Maisie tivesse uma vida sossegada na medida do possível para se viver naquela cidade.

— Que saudade que eu estava desse rostinho. — Maisie sussurrou, como se pudesse adivinhar o medo de que ela estava em ser ouvida.

— O que você quer? — não quis ser grossa, mas a sua voz acabou se saindo dessa forma. Sentia a tensão em seus ombros querendo romper seus músculos.

Maisie pigarreou, dando um passo para trás.

— Ontem eu ouvi uma discussão entre o seu namorado e o amigo dele, e então eu pensei que...

— Maisie, na boa... não quero saber, ok? Nada sobre essa história me interessa mais. Já deu o que tinha que dar. Connor já foi inocentado e nada que eu fizer vai mudar o fato que os pais dele tem rios de dinheiro e que vão acreditar nele até mesmo se eu provar ao contrário.

— Eu sei. É sobre isso mesmo que eu vim falar com você, Vieney. Não acho que foi o Connor quem vazou as suas fotos. Não apenas acho como posso provar... eu só preciso que você me deixe te mostrar a verdade.

Antes que pudesse abrir a boca para responder, Vieney ouviu a porta da frente ser aberta e nem precisou se virar para saber que era o seu pai. Sua energia era pesada demais... inconfundível.

— Para dentro, Vieney.

— Eu só vou me despedir del...

— Eu falei para dentro... agora. — os olhos afiados foram para Maisie, que em momento algum recuou. — E você, fique longe da minha casa ou eu chamo a polícia. Vamos ver quantas de você ainda restam por aí.

O comentário foi como enfiar uma faca em seu coração e girá-la lentamente. Vieney ficou paralisada onde estava, só se deu conta do que tinha acabado de acontecer quando sentiu o seu corpo sendo puxado por seu pai até o quarto dela, quando sentiu suas costas batendo contra o colchão. O choque de lembrar de Fallon em um cenário tão tenso foi tão grande que ela viu seu pai falando algo, esbravejando, mas um zumbido em seus ouvidos não deixou que as suas palavras fossem ouvidas.

Tudo que ela fez em seguida estava fora do seu controle.

Ela se levantou e empurrou seu pai até que ele estivesse fora do seu quarto.

O susto do homem foi tão grande que ele apenas deixou que a porta do quarto dela fosse fechada em seu rosto.

Vieney trancou a porta, tentou se recompor ao mesmo tempo em que pensava em uma forma de sair daquela casa o mais rápido possível. Quando olhou para o jardim, percebeu que Maisie ainda estava lá, parada em frente à sua moto, a moto que era de Fallon.

Ela olhou para cima em busca dos olhos da ruiva, mas Vieney, como de costume, já a olhava.

Ela fez sinal para eu Maisie ligasse a moto e assim ela fez, em seguida abriu a janela do seu quarto, passou suas pernas pelo batente e escorregou pelo telhado. O chão estava a sua espera, mas os braços de Maisie a ampararam e as duas foram direto ao chão com o impacto.

— Peguei você. — sussurrou em seu ouvido, deixando um rastro de corrente elétrica em sua pele. — Vem comigo, Vieney.

Ela iria, sabia que iria a qualquer lugar que Maisie pedisse. Portanto, não sentiu medo quando montou em sua moto e agarrou a cintura dela para um lugar que ela mal sabia onde era, mas que o conhecia... a biblioteca.

— Por que a gente está aqui? — puxou uma das cadeiras enquanto observava a morena ligando um dos computadores.

— Não foi Connor quem vazou as suas fotos e eu posso provar. Suas fotos foram vazadas às 16h48, e nesse horário, Connor estava jogando uma partida de competição, o que indica que ele não estava com o celular em mãos. — finalmente o computador ligou e ela pode ver as imagens da câmera de segurança da arquibancada. Em uma delas, Vieney viu um rosto conhecido encarando algo no celular de Connor e logo em seguida o deixando onde estava. 

— Ele não estava com o celular...

Vieney continuou olhando as filmagens aceleradas até o momento em que Connor pegou no celular dele.

Às 17h33.

Vieney viu a reação de Connor ao ver algo em seu celular, provavelmente o tweets. E foi a surpresa em seu rosto que comprovou que Maisie estava certa.

Não foi Connor quem vazou suas fotos. 

Antes que as portas se abram (girlxgirl)Onde histórias criam vida. Descubra agora