Capítulo Dezoito

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A força das amarras exercidas sobre a pele do pulso de Vieney estavam queimando. Fazia 3 dias que ela não havia nada além do que um pequeno feche de luz em um lado qualquer daquele lugar úmido. A comida era jogada em seus pés por Wesley, este que apenas a encarava naquele estado, mas nada dizia.

Não que Vieney tenha tentado um contato com ele, mas Wesley costumava ser tagarela e estava extremamente calado, mesmo após tudo que fez.

— Não vai comer? — perguntou ao chutar o prato de comida para mais perto dela, como se a garota fosse um animal.

Ela fitou o prato e cortou sua visão para o rosto do miserável em uma piscada rápida.

— Vai se foder, Wesley!

Como quem se diverte com um novo brinquedo, ele riu. Uma risada estridente e impetuosa o suficiente para fazer os músculos sob a pele de Vieney se contrariem ao ouvi-la.

— “Foder”, é essa a palavra que teria evitado tudo isso. Eu poderia ter sido seu, sabia? Mas ao escolher o merdinha do Connor, você me forçou a isso. — ao se ajoelhar em sua frente, ele usou o dedo indicador para erguer o dele dela. — Tudo isso é culpa sua, Vieney: o nude vazado, os comentários, a traição de Connor... até mesmo a morte daquela garota foi culpa sua. Tudo culpa sua!

Fallon.

Só de lembrar do corpo dela deixado no chão, sem vida, o estômago de Vieney começou a dar voltas à mesma medida que sua cabeça recebeu uma pontada.

E então ela cuspiu no rosto dele.

Ela nunca havia feito isso antes. Não foi criada dessa forma e nunca achou que faria isso a... Wesley. Não a ele.

O tapa dele em seu rosto ecoou pelo sótão.

— Vagabunda! — esbravejou, sentindo a humilhação e a raiva pulsando em suas veias.

Mas não era apenas isso.

Ao erguer a cabeça, mesmo na má iluminação, Vieney conseguiu ver as lágrimas brilhando nos olhos de Wesley.

— Eu me sinto um merda em fazer isso com você, Vieney. Um completo merda.

— Então não seja um merda. — tentou agir com racionalidade, mesmo que a parte atingida do seu corpo queimasse, como um lembrete para que ela fizesse quieta. — Me solta, Wesley. Vamos corrigir isso juntos. Toda essa bagunça ainda por ser revertida ainda, ainda há tempo! Eu só preciso que você me solte.

— Te soltar? Pra quê? Pra você voltar pra aquela sapatão? — sua boca só faltou espumar ao se referir a Maise. — Não sou idiota, Vieney. Sei que você não vai nem olhar na minha cara se eu te soltar, sei que isso é um erro, mas eu não sei outra forma de te mostrar que é comigo que você tem que ficar. Não sei mesmo... Até o Connor merecia você, eu sei que ele merecia, então eu fui lá e te mostrei ao contrário.

Sua postura se ergueu no exato ponto em que uma luz fraca adentrava o lugar úmido e escuro.

— Levei tempo pra caralho pra convencê-lo a te trair, sabia? Discretamente, claro. Connor era apenas a primeira peça do jogo, mas tudo caiu como uma luva quando vi aquele nude seu, sabia? Sei que se eu vazasse ele, Connor enlouqueceria. Tudo pareceu tão... perfeito. Eu até mesmo cheguei a acreditar que Deus estava ao meu favor dessa vez.

Wesley se dirigiu até as costas de Vieney e mordeu o lábio inferior com força quando puxou o cabelo da ruiva para trás e logo em seguida ouvi-a gemer de dor.

Mas o que era dor para ela, significava prazer para ele.

— Estava tudo indo bem, até você entrar naquele maldito elevador. — roçou os lábios frios na orelha dela, fazendo que lágrimas rolassem por seu rosto a medida que o medo se tornava mais forte. — Fallon fez um favor a si matar, porque se ela não tivesse feito, eu faria... Seria só uma questão de tempo até eu descobri o que tinha acontecido naquele elevador e então eu mataria ela, porque se eu não posso comer você, ninguém mais pode, porra.

Ele a soltou, tão frio quanto havia se aproximado. E mesmo que a distância fosse segura agora, Vieney levou muitos minutos para se permitir mexer algum músculo outra vez, ou até mesmo se permitir respirar. E quando puxou a ar para fazer seus pulmões pararem de arder, as lágrimas aproveitaram a oportunidade para caírem de seus olhos em direção à sua roupa úmida.

Porque ela tinha poucas esperanças em sua vida, e nenhuma delas era que alguém a acharia.

Notariam sua falta, mas ninguém a acharia.

Ela encostou sua cabeça na parede fria atrás de si, tentando buscar em sua mente alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse fazer com que alguém a achasse. Mas nenhuma memória veio. Ela tinha ido ver a competição e não havia avisado a ninguém, nem a Six e nem a Maisie, nem mesmo seus pais.

E pela ausência de barulho e os feches de luz que atravessava as paredes de madeira, ela chutaria que estava no meio de uma floresta úmida. O que a levou a acreditar que ela provavelmente estava a uma hora da cidade, provavelmente... Em outra cidade.

— Merda! — ela sussurrou... Para ninguém.

Que belo destino era o dela: acorrentada a um mausoléu no meio do nada com um psicopata doentio e rancoroso. E o filho da puta não era nenhuma Villanelle!

Ela riu com o pensamento. Não era possível que até mesmo em um momento como aquele, ela conseguia pensar em Killing Eve. É quase como se a falta de luz solar estivesse a enlouquecendo, além da fraqueza que sentia em seu corpo pela restrição alimentícia que Wesley estava forçando-a a passar, pois, segundo ele, ela estava um pouco fora de forma para o seu gosto e precisava emagrecer.

A segunda onda de riso se deu logo em seguida. Ele a queria magra, mas não se importava com as cordas cortando seus próprios pulsos.

Ela morreria ali. Essa é a parte mais triste de tudo. Morreria com um psicopata a torturando fisicamente e psicologicamente até que tudo fosse demais para ela. Ela morreria em três ou cinco semanas se continuasse daquela forma. Ela precisava que alguém a tirasse dali, que alguém se lembrasse dela, alguém que fosse inteligente o bastante para saber que tinha sido Wesley.

A questão era que ninguém suspeitaria dele... Não do doce, amigável e competitivo Wesley.

Ninguém de Maisie.

Antes que as portas se abram (girlxgirl)Onde histórias criam vida. Descubra agora