Capítulo Dez

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— Primeiro dia de aula, senhorita Houston, e você já está causando problemas! — a diretora andava de um lado para o outro, ainda tentando entender o que havia acontecido no estacionamento.

— Eu quase fui estuprada! — Vieney interviu em defesa de Maisie. — Ela estava lá e me ajudou!

— O que você tem que entender, senhorita Hawkins, é que não havia ninguém naquele estacionamento além de vocês. Não há prova alguma de que o que está me dizendo seja verdade.

Querendo ou não, a diretora tinha razão. Não havia provas, apenas a palavra dela e a de Maisie Houston, a garota que não abriu a boca nem ao menos para se defender.

— Você não vai dizer nada? — perguntou.

Maisie limpou a garganta ao notar que até mesmo a diretora esperava um pronunciamento seu.

— Qual vai ser a minha punição?

Era com isso que ela estava preocupada? Vieney não conseguia acreditar que Maisie poderia ser egoísta ao ponto de não tentar nem explicar a situação, apenas aceitar as consequências dela que nem deveriam existir!

— Uma semana sendo assistente na biblioteca. — a diretora definiu, finalmente se sentando à cadeira. — E quanto a você, senhorita Hawkins, vou deixar passar dessa vez em respeito ao seu pai.

"Claro, como se ele já não fosse me punir em casa!", Vieney zombou mentalmente.

— Acabamos por aqui. — concluiu, se encostando na cadeira. — Podem ir agora. — quando elas se levantaram para sair, a diretora deu seu último aviso. - Senhorita Houston?

— Sim? — Maisie respondeu.

— Eu estou de olho em você.

Vieney estranhou essas palavras, no entanto, não as levou para muito além do âmbito escolar.

— Ei. — do lado de fora, ela a chamou. Maisie parou onde estava e a encarou. — Valeu por ter me defendido.

Ela deu de ombros como se aquele agradecimento não tivesse que ser feito.

— Eu faria isso por qualquer pessoa.

De frente uma para a outra, Vieney tentou imaginar o que Fallon faria no lugar de Maisie, e constatou que ela teria feito a mesma coisa que a irmã.

Talvez Maisie não fosse tão diferente da irmã tanto quanto ela pensasse que fosse.

— Por que você aceitou a penitência?

Nesse momento, Maisie riu.

— Desculpa, é que isso ficou parecendo uma prisão, ou sei lá. Mas respondendo a sua pergunta, aceitei porque ela não iria acreditar na gente. É melhor não nadar contra a maré.

Fallon nunca aceitaria aquilo como a irmã aceitou, Vieney percebeu.

— Mas você não fez nada de ruim!

— Tem razão, não fiz, mas não é isso que ela pensa. E eu já estou mesmo com uma mira nas costas, que diferença faz? — perguntou e não esperou uma resposta. — Enfim, tenho que ir pra biblioteca. A gente se vê por aí, 'Hawkins'.

Agora que havia descoberto seu sobrenome, Vieney sabia que ela nunca mais a chamaria pelo primeiro nome novamente.

Não soube se era impressão sua, mas Maisie parecia que não queria ir, ou até mesmo desviar os olhos dela pois deu vários passos para trás antes de finalmente ir para a biblioteca.

Ela era estranha, não havia maneira melhor de descrevê-la como "estranha".

— Você conhece? — como uma assombração, Gwendoline brotou ao seu lado. — Maisie Houston, se não me engano.

Vieney nem se deu ao trabalho de virar a cabeça para responder a garota:

— Se sabe o nome dela por que me perguntou?

— Fiquei pensando... por que você estaria conversando com a irmã da garota que se matou? — a menção indireta a Fallon fez os músculos dos ombros da ruiva se tensionarem, como se alguém estivessem os apertando e os forçando para baixo. — Como era mesmo o nome dela?

— Fallon Houston. — só então se virou para encará-la. Gwendoline retrocedeu ao ver o olhar ríspido, os lábios pressionados, contendo uma raiva de anos que a impedia de partir para a agressividade. — Tenha o mínimo de empatia pelas pessoas, Gwen.

A garota revirou os olhos.

— Empatia por quem se mata? Muitas pessoas morrem sem escolha, e ela escolheu isso. Ela pecou, não merece nenhum respeito por ser tão egoísta.

Queria não ter tido certeza que ouviu o que ela havia acabado de falar, mas não tinha como mudar ou fingir que aquela barbaridade não havia sido posto para fora.

— Ney-Ney! — quando pensou em falar algo, sentiu o braço de Six passando por seus ombros. — Detesto interromper, mas tem uma coisa que você precisa ver.

Agradeceu a amiga por tirá-la dali, pois na raiva que estava sentindo não tinha certeza se poderia confiar em seu próprio autocontrole.

Gwendoline era uma idiota, mas ainda assim as barbaridades que saia da boca dela surpreendia Vieney em um nível catastrófico.

Quando achava que pessoas tão ruins não poderiam existir, lembrava de Gwendoline, a garota que sabotou a própria melhor amiga só para poder adiar o desfile porque ela não queria ficar fora do evento.

Esse tipo de gente existia, e era em Roosevelt que maioria delas escolheram estudar.

— Onde estamos indo? — Vieney indagou ao desviar uma garota que estava andando distraída no celular.

— Você já vai saber. — Six torceu o lábio e abriu as portas do banheiro feminino. Deu espaço para que a amiga passasse na sua frente e trancou as portas.

"Vieney Hawkins tá trepando com Maisie Houston!"

— Que porcaria é essa... — Vieney começou a falar, mas foi interrompida por Six.

— Não é só isso. — ergueu o papel para a amiga e deixou que ela lesse. — Está espalhado por todo o colégio.

"Já deve ser do conhecimento de toda Roosevelt que o nosso casal perfeito, Connor Scott e Vieney Hawkins, não é mais tão perfeito assim...
Perdão. Deixe-me corrigir: eles nem mesmo são um casal mais. E a culpa disso é unicamente de Maisie Houston.
Você provavelmente nunca ouviu falar sobre essa garota, e eu vou esclarecer quem ela é: ninguém mais e ninguém menos que a irmã gêmea de Fallon Houston, a garota que se jogou do Columbia Center. Você deve se lembrar quem ela é.
E não acaba apenas aí.
Chegou aos meus ouvidos que Vieney tinha um caso com Maisie antes mesmo de confessar a ele. Não sendo o bastante para Vieney ter tirado aquelas nudes e as exposto, agora ela e a amante estão estudando na mesma escola.
Sim, meus amigos. Maisie Houston acaba de chegar a Roosevelt!
O que acham de irem lá e dar as boas vindas a nossa colega?"

— Ah, não... — Vieney devolveu o celular para Six.

Roosevelt não era apenas um colégio onde gente babaca se sentia livres para serem as piores versões de si mesmo. Roosevelt também era um colégio de princípios cristãos.

Uma lésbica em Roosevelt era prato cheio para essas pessoas.

O que significava que não demoraria muito até encontrarem Maisie.

— Porra. — murmurou enquanto saía do banheiro com Six em seu encosto.

Percorrendo os corredores de Roosevelt, Vieney viu as folhas espalhadas e Six até mesmo cogitou em parar para tirar das mãos dos idiotas que começavam a olhar torto para elas.

Mas Vieney não se preocupou com isso.

Ela precisava chegar até Maisie.

Antes que as portas se abram (girlxgirl)Onde histórias criam vida. Descubra agora