O acerto de contas.

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Duas horas depois de embarcar, Kara desceu em uma pista clandestina que ficava em uma antiga vinícola. O carro que havia pedido já a aguardava dentro de uma construção anexa à pista. Ela dirigiu o carro belíssimo pelas estreitas e lindas ruas de pedra da cidade; ao se aproximar de uma antiga construção ela reduziu um pouco a velocidade para olhar melhor pelos portões.

O local tinha um antigo casarão medieval que ficava cercado por jardins verdes. Ela seguiu com o carro e se hospedou em um pequeno hotel da cidade. Precisaria aguardar anoitecer. Quando entrou no quarto do hotel, fez algumas ligações e após três horas entrou novamente no carro e partiu para se encontrar com alguns homens em um bar. Os homens lhe entregaram duas bolsas grandes, ela lhes entregou um envelope e todos saíram rapidamente do bar.

Ela retornou para o hotel e examinou o conteúdo das bolsas. Tudo que havia solicitado estava dentro das valises. Agora precisava descansar e aguardar a noite chegar. Tomou um banho e apenas de cuequinha deitou na cama. Ao fechar os olhos as imagens de Indra jogando Lara ao mar e Lena chorando desesperada, não lhe saía da cabeça. Ficou pensando em como pode expor tanto as pessoas que amava. E o porquê tinha de ser daquele jeito.

Os pensamentos a torturavam, ela queria descansar, mas tudo vinha em sua mente como um turbilhão de coisas. Lembrou de cada acontecimento, de cada dia tumultuado que teve. Queria tanto ter uma vida normal, rotineira e comum. Poder passear com sua mulher e suas filhas, poder viver sem ter outras pessoas as ameaçando. Nem mesmo em uma ilha remota no meio do mar mediterrâneo ela teve paz com sua família.

Compreendia os medos de Lena, compreendia cada acusação que ela fazia, mas acima de tudo, compreendia seu próprio coração e sabia que jamais amaria alguém como amou Lena. Se o desejo dela era que ela se afastasse, então ela respeitaria este desejo. Por amor àquela mulher, se afastaria se isso fosse trazer felicidade e paz a ela.

Não iria mais incomodar a mulher que já havia feito sofrer tanto, mas antes de abandonar definitivamente a vida de Lena, mataria Jack e todos que ameaçassem a vida dela e de suas filhas. Assim elas poderiam viver sem serem ameaçadas por ninguém. Após um bom tempo, finalmente Kara adormeceu.

Quando acordou já era alta madrugada, tinha dormido por horas seguidas. Tinha perdido um pouco a hora que programou para agir, mas ainda teria tempo suficiente. Colocou uma roupa rapidamente, lavou o rosto e saiu do hotel pelos fundos, chegou ao carro que estava estacionado em uma rua paralela. Começou a dirigir e após passar a entrada do casarão medieval ela manobrou o carro e o colocou em uma saída da estrada, em um local deserto.

Ela colocou uma luva de couro e uma máscara que lhe cobria todo o rosto, acomodou as bolsas nos ombros e caminhou rapidamente até chegar ao muro do casarão. Era um muro muito alto, por isso, ela retirou uma espécie de gancho triplo e o arremessou sobre ele, depois o puxou lentamente e quando este estava preso em algo, ela prendeu as bolsas nas costas e começou a escalar.

No alto do muro ela retirou o gancho e o prendeu em alguns ferros, que estavam à mostra entre o cimento do muro e começou a descida. O casarão estava todo apagado, apenas algumas luzes no jardim iluminavam parcialmente o local. Kara se esgueirou e subiu em uma árvore, ali retirou uma balestra, uma espécie de arco automático, que lançava flechas a longas distâncias. Prendeu a flecha no equipamento e amarrou uma corda nela e disparou.

A flecha, atingiu o topo de uma sacada, próximo a uma grande janela de pedra. Prendeu a extremidade da corda na árvore, retirou mais algumas coisas das bolsas e acomodou em um colete que vestiu, depois abandonou as bolsas e começou a escalar a corda que estava esticada. Subiu pela corda, puxando com as mãos e empurrando com os pés e pernas seu deslocamento.

Quando chegou à sacada, se pendurou pelas mãos e desceu sobre o parapeito da janela. Abriu a janela de madeira e entrou no quarto. Andou calmamente pelo quarto e com uma pequena lanterna acoplada em uma arma que carregava, iluminou o cômodo. Viu um casal deitado na cama, que roncavam sonoramente. Aproximou-se do lado do homem, apontou a arma com uma mão e com a outra ascendeu um abajur que ficava ao lado da cama. E chamou o homem que dormia.

Invadindo SentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora