5:15 AM

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POV. LENA

Lena chegou em sua clínica naquela segunda-feira se sentindo dispersa, não entendia o que estava acontecendo, não conseguia tirar aquela mulher sentada na praia de sua mente. Teve que se esforçar para focar no trabalho. Ficou até mais tarde que o habitual, não queria voltar para casa, sentia uma estranha sensação de ausência que não conseguia identificar. Assim que chegou em seu apartamento à noite, dirigiu-se a varanda, rindo de si mesma por buscar o que não encontraria. Balançou a cabeça negativamente e sorriu, foi tomar seu banho e preparar seu jantar.

Rolou na cama lutando com seu sono, acordou de madrugada e sentou na varanda. Após alguns minutos viu uma moto parando em frente ao seu prédio, do outro lado da avenida. A figura desceu, retirou o capacete, deixando os cabelos castanhos claros e curtos, aparecerem. Colocou um chinelo no bagageiro da moto e foi para a areia.

Lena sentiu seu coração disparar quando a viu. Aproximou-se do parapeito e como no dia anterior se apoiou e ficou observando o que ela fazia, sentindo uma vontade incontrolável de seguir seus passos. Ela usava um short preto e uma camiseta regata branca. Começou a caminhar sentido Leblon com determinação e após uma hora retornou e ficou parada por um tempo, olhando para o Arpoador, depois começou a fazer movimentos lentos e precisos que lhe parecia uma espécie de Tai chi chuan. Lena sorriu quando viu a iniciativa dela e sentiu uma leveza, contemplando aqueles movimentos delicados.

Assim que a mulher se aproximou da moto, ela sentiu novamente seu coração disparar. Seguiu o trajeto da moto até que ela desaparecesse em uma esquina e ainda permaneceu ouvindo o ronco suave do motor até que desaparecesse pela distância. Ainda sentada na cadeira da varanda Lena se deixou ficar, olhando para o mar e sem compreender o que estava sentindo.

Novamente se arrumou e seguiu até sua clínica, sem identificar o que sentia e terrivelmente dispersa. Quando fechava seus olhos, lembrava-se da desconhecida parada e movimentando lentamente os braços e as pernas, desenhando figuras delicadas e inexplicáveis no ar.

A partir daquele dia, colocava seu relógio para despertá-la as cinco e quinze, o horário que a estranha chegava. E passou a seguir seus passos, deixando que aquela forma feminina invadisse seus sentidos e desejando vê-la todas as manhãs. Sentia uma leveza incomparável quando ela aparecia e descia de sua moto, seu coração disparava e sua respiração ficava intensa. Durante as madrugadas pensava nela e sentia seu corpo arder. 

Após vinte dias estava andando por um shopping e viu em uma loja um binóculo. E uma estranha sensação se apoderou dela, resolveu comprar, questionou o vendedor qual era o mais potente e de melhor nitidez. Saiu da loja se sentindo mal, uma sensação de que estava fazendo algo errado, mas queria ver o rosto daquela mulher e essa seria a melhor maneira de fazê-lo sem levantar suspeitas.

Naquela noite, ainda pensou diversas vezes sobre a besteira que tinha feito, que era errado invadir a privacidade daquela mulher, mas ao mesmo tempo a curiosidade que tinha em observá-la mais de perto a fez perder o sono. Muito antes de seu relógio despertar ela já estava na varanda munida com sua arma secreta.

Assim que ouviu o barulho da moto sua mão começou a suar e tremer, o binóculo parecia mais pesado que antes, seus braços tremiam levemente, seu coração e respiração estavam descompassados. Ela desceu da moto, retirou o capacete e virou-se para guardar o chinelo no bagageiro. Nesse momento Lena pôde contemplar seu rosto, como se estivesse a poucos metros de distância dela. Pode ver as formas delicadas de sua face, que era de formato retangular, seu nariz pequeno e a boca bem desenhada, carnuda e rosada, seu queixo ligeiramente proeminente, mas extremamente delicado.

Lena sentiu suas pernas fraquejarem, seus braços tremiam e sua respiração ficava cada vez mais intensa, até que sentiu uma umidade entre as pernas, que não conseguia entender. Continuou acompanhando o trajeto dela na sua caminhada rápida e reparando nas formas do seu corpo. Assim que a viu se afastar, levantou-se e foi ao banheiro. Não conseguia entender o que sentia, lavou o rosto e ficou parada se olhando no espelho.

-“Eu não acredito Lena, que você está se apaixonando por uma mulher! Isso não pode estar acontecendo!” – Falava para a figura que a observava no espelho.

Resolveu lutar contra seus sentimentos e voltou para a cama, não queria ficar seguindo os passos dela.
Decidiu que iria deixar aquela estranha e não a observaria mais. Involuntariamente seus olhos buscavam o relógio de tempo em tempo sobre o criado mudo. E quando percebeu que já faria uma hora que a estranha havia chegado, levantou-se lentamente mordendo os lábios, com o coração disparado e sem saber o que fazer sentou novamente na varanda e pegou o binóculo.

Viu a desconhecida parando, com o rosto bem vermelho pelo esforço que tinha feito e a respiração ofegante, seu peito subia e descia diversas vezes. Ela fechou os olhos, uniu as mãos e inclinou sutilmente o pescoço em direção ao Arpoador. E iniciou seus movimentos delicados com um sorriso no rosto e os olhos fechados. Lena sentia seu coração disparar novamente e quando ela virava em algum movimento que fazia, via seu rosto feliz, os olhos incrivelmente azuis quando ela os abria e o sorriso lindo da bela desconhecida, delicado e com dentes claros e harmoniosos. Lena sentiu sua boca encher de água e passou a ponta da língua pelos próprios lábios. 

Todos os dias levantava sempre munida de seu binóculo e desejando que a estranha aparecesse. Quando completou um mês, percebeu que a estranha não estava caminhando aquele dia, ela corria, mas parava por um tempo, apoiava as mãos nos joelhos e retornava na corrida leve. Lena sorriu ao ver o esforço que ela fazia para continuar seu trajeto, mas quando parou novamente no ponto de origem, se preocupou, viu a estranha se ajoelhar e levar a mão ao peito, estava com o peito muito mais ofegante que o habitual.

Lena sentiu seu coração apertar ao ver que ela não estava bem. Levantou da cadeira com o binóculo e decidiu que se ela não levantasse iria até a praia. Era médica e poderia usar o pretexto para se aproximar, esperou alguns minutos e viu a bela mulher se levantar, retirar o short e a camiseta, ficando apenas de biquíni. Ela tinha uma tatuagem que lhe cobria toda a costa e descia até a nádega. Ela foi em direção ao mar. Viu como ela se jogava nas ondas nadando algum tempo.

Lena sorria, mordia os lábios e sentia seu corpo queimar e a umidade já conhecida dos últimos dias muito mais intensa, escorrendo sutilmente. Depois ela retornou toda molhada para a areia e pegou suas roupas, as vestiu e começou os movimentos lentos, sempre com o sorriso lindo nos lábios e os olhos fechados. 

Quando ela retornou para a moto e partiu, Lena sentia seu corpo em brasa. Deitou em sua cama e se tocou delicadamente, com os olhos fechados e se lembrando das expressões e do corpo de sua bela companhia da madrugada. Sentia seus dedos moverem-se e desejava que fossem aquelas mãos, que desenhavam no ar movimentos sutis em seu corpo.

Explodiu em um orgasmo intenso e ficou deitada de lado, quieta, com uma lágrima descendo pela face e se sentindo estranha, pelos pensamentos que tivera. Sua solidão que antes incomodava, agora parecia muito mais intensa, e machucava.
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Apartir do próximo capítulo entram os diálogos, aqui termina essa "introdução", espero que estejam gostando. ♡♡♡

Invadindo SentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora