Angustia.

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Os dois homens e a mulher destravaram delicadamente os dois cadeados e abriram o pesado portão de ferro. Era uma construção antiga, feita em tijolo aparente, o piso era de cimento rústico e a iluminação era precária. O galpão ficava na zona portuária da cidade e o local era simples. Mesmo sendo quatro horas da tarde, precisaram acender lanternas para verificar onde pisavam.

Checaram toda a parte inferior da construção e subiram pela velha escada de cimento para o segundo pavimento. Destrancaram outro cadeado e empurraram a porta de madeira. Os homens entraram primeiro, sendo seguidos pela mulher.

A única janela no ambiente iluminava parcialmente o local, seus vitrais estavam cobertos por poeira. Alguns vidros não existiam e tinham plásticos presos com fitas aderentes, fazendo a proteção contra chuvas e o vento frio que vinha de fora. E perto desta, tinha uma pequena mesa de madeira com um aparelho antigo de som e uma única caixa ao seu lado. O único equipamento elétrico no ambiente.

O piso de madeira mostrava-se ressecado e gasto pelo tempo e o telhado de madeira aparente, mostrava algumas telhas trincadas. Os três andaram pelo enorme cômodo, assim como no pavimento inferior; as paredes eram de tijolos aparentes e nuas, a única coisa na parede era uma antiga lareira.

No cômodo existia apenas uma cama grande encostada em uma das paredes com um pequeno criado-mudo ao lado. Nela tinham lençóis que provavelmente foram brancos outrora, mas agora estavam sujos e manchados; dois travesseiros no mesmo estado e um cobertor cinza, fino. No canto da parede, longe da janela, estava uma única poltrona de couro marrom, também surrada pelo tempo.

Ao lado da poltrona, tinha um pequeno armário, ao qual faltava uma das portas e mostrava-se em estado deplorável, prestes a tombar. No meio do ambiente existia um balcão feito de alvenaria que formava um L e assim como as paredes, era de tijolo e cimento com portas de madeira do lado interno, algumas portas tombando e visivelmente desgastadas, e na parede deste, uma pia, que também estava suja.

No canto próximo ao balcão havia uma porta que levava a um banheiro, que também estava sujo e empoeirado e dentro dele, tinham sacos de papel com resto de lixos e tecidos manchados. E uma tolha de banho pendurada em um cano, próximo ao chuveiro. Os dois homens desceram, trancaram os cadeados e foram para um carro parado próximo à antiga construção. Deixaram a mulher trancada no local.

A mulher andou pelo cômodo todo, abriu as portas embaixo do balcão e constatou que não existiam utensílios de cozinha e nem mantimentos. As únicas coisas que viu foram uma garrafa de água e um pacote de biscoito salgado. No banheiro o espelho estava trincado e dentro do armário da parede existia apenas uma escova de dentes, um creme dental, um pequeno frasco com um líquido e um colírio.

Na pia um frasco de shampoo e outro de sabonete líquido. A banheira branca estava manchada de ferrugem que vinha dos canos de água que pingavam constantemente nela. A privada estava em estado deplorável, mas não havia resíduos nela, estava funcionando, como constatou, acionando a descarga.

Ela regressou ao quarto e examinou o pequeno armário, que rangeu quando ela abriu a sua única porta. Dentro do armário estava uma mochila, uma calça, uma camisa, roupas íntimas e uma blusa de lã. Ainda dentro do armário em um saco de papel existiam frascos de remédios, injeções, agulhas, algodão, bandagens e ataduras.

Ela caminhou até a cama e se sentou nela, vendo a enorme mancha no meio dela. Seu coração estava apertado ao ver o local onde estava. Sentia a garganta embargada. Não entendia o porquê dela não limpar o local que estava vivendo. Sempre prezou pela higiene e nunca reclamou de limpar nada.

Ficou sentada, desolada ao ver aquilo tudo. Olhou pela janela e viu o mar ali na frente e a calçada que ficava em frente ao pequeno prédio. Oslo era uma cidade pequena, mas bem construída, mesmo estando no final da primavera, em maio, na Noruega as temperaturas nunca ultrapassavam vinte graus Celsius. E dentro daquele ambiente hostil, aparentava que o ar era ainda mais gelado.

Invadindo SentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora