O regresso.

277 34 0
                                    

Ali, sentada na poltrona velha e na escuridão daquele cômodo gelado, ao ouvi-la abrindo a porta sentiu seu coração disparando. Apertou os lábios e segurou a respiração, não queria ainda que ela a visse. Esperaria ela acender as luzes. Tinha medo dela não querer vê-la e fugir novamente. A viu entrando lentamente, ela não acendeu a luz, o local era parcialmente iluminado pelas luzes que vinham da janela.

Ela parecia que estava sentindo dores ao se mexer, fazia os movimentos lentamente e às vezes soltava um gemido baixo. Ela colocou uma sacola sobre o balcão e retirou um casaco, mostrava dificuldade para conseguir retirar a peça, depois deixou um óculos com armação grossa sobre o mesmo balcão, juntamente com o casaco. Caminhou e foi até o banheiro e acendeu uma luz fraca e amarelada e mexeu no armário.

De onde estava sentada não era possível ver o que ela fazia exatamente, e ela ainda não a tinha visto. O canto onde ficava a poltrona não tinha projeção de luz e era completamente escuro. Ela retornou lentamente para o cômodo apagando a luz do banheiro e foi até o antigo aparelho de som. Ligou o mesmo e ficou parada, depois começou a cantar baixo acompanhando a música.

Ao ouvir a música e a forma triste como ela cantava, sentiu-se angustiada. Ela demonstrava que estava sofrendo muito. A letra da música também a fez deixar cair algumas lágrimas sentada ali na poltrona. A mulher que amava estava sofrendo sozinha. Ela foi até a cama e sentou lentamente, gemendo. Parou de cantar e retirou os sapatos, depois se deitou e puxou o ar algumas vezes e gemeu de dor novamente.

Ela deitou, puxou um pequeno cobertor, fechou os olhos e continuou cantando baixinho, viu lágrimas descendo de seus olhos e molhando o seu rosto até sumirem em seus cabelos, que agora eram negros.

Resolveu que era a hora de conversar com ela, levantou-se calmamente da poltrona e ultrapassou os poucos metros que separavam a poltrona da cama. Quando percebeu que a mulher da cama iria fazer um movimento brusco, ela se apressou, segurou sua mão, se assustando ao ver o que ela tinha na mão e a chamou.

-Ka! Sou eu! - Lena disse calmamente, segurando a mão de Kara que havia acabado de retirar o braço debaixo do cobertor e tinha uma arma na mão.

Kara largou a arma e Lena a pegou com a pontinha dos dedos e a colocou sobre o criado-mudo, apontando para o lado oposto ao delas. Lena sentou na cama e Kara ficou deitada, respirando rapidamente. Sentia uma ansiedade e angústia ao ver Lena, não sabia o que dizer ou fazer.

-Lee... como você... me achou? - Kara falou baixinho, quase sem voz.

-Depois eu falo isso! Me diz porque você não nos procurou? Por que fingiu estar morta novamente? -Lena disse calmamente. Não queria afugentar Kara de novo. Não queria agir novamente com ela, como fez na Grécia.

- Eu não quero... colocar mais... a vida de ninguém... em risco... Não quero... que vocês... paguem... pelos meus erros! - Kara falava lentamente, parando de falar e retornando aos poucos, com a voz fraca.

Lena percebeu que ela não estava bem, pela voz dela. Levou a mão à testa dela e percebeu que ela queimava em febre.

-Ka, você está muito quente!

-Eu sei! - Kara disse baixinho e engoliu saliva. Sua boca estava seca e sentia calafrios que a faziam tremer.

Lena levantou e foi até a porta de entrada e acionou um interruptor que ficava ao lado da porta; acendeu uma luz que ficava no canto do cômodo e voltou para a cama onde estava Kara. Ao vê-la de perto com a luz acesa, Lena se assustou com a sua aparência.

Ela tinha diversos cortes pequenos no rosto, na boca, olheiras profundas, seu rosto estava muito pálido e magro, ela aparentava estar muito doente. Fazia dezenove dias que não via Kara, desde o hospital e ela aparentava ser outra pessoa.

Invadindo SentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora