Descanso.

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A viagem foi muito difícil, Kara sentia dores em todas as posições, principalmente deitada. A forma que Lena encontrou para diminuir sua dor foi colocar toalhas enroladas em seu pescoço para apoiar a cabeça e a colocar sentada quase reta, apoiando a cabeça no encosto do banco. A febre abaixou um pouco na Noruega, mas quando entraram no avião estava muito alta.

Kara praticamente ficou desacordada a viagem toda. Às vezes balbuciava palavras, delirando em algumas línguas, que nem Clark conhecia e não sabia traduzir para Lena. A respiração dela estava fraca e a aparência péssima. Dezesseis horas depois o avião deles pousou em Jacarepaguá e Lois já os aguardava com a van de Clark. Eles a colocaram deitada em um dos bancos e foram para a Urca.

Alex os aguardava na clínica de Lena, era sábado e a clínica estava fechada. Elas iriam suturar os ferimentos de Kara. Antes de Lena chegar com Kara, Alex havia preparado uma das salas com os instrumentos e os equipamentos necessários. Ela sabia que Lena não poderia levá-la para um hospital, uma vez que o ferimento era à bala e os hospitais registravam estas ocorrências. Alertariam a polícia.

Quando Clark, Lois, Lena e Kara chegaram a clínica, Alexia também estava lá, juntamente com Alex, Imra e Oliver. Lena que não falava com Alexia desde o dia que suas filhas nasceram, há três meses atrás, estranhou a presença da sócia.

-Olha Alexia, se você vai me dar um sermão porque vou suturar a Kara aqui, pode parar! Não tô a fim de discutir com você agora! E vou fazer aqui mesmo!

-Quem disse que vou te dar sermões? A Alex me disse a gravidade da situação, pelo que você informou a ela e vim para te ajudar! - Lexie sorriu para Lena.

Lena se desarmou e abraçou a amiga.

-Obrigada minha amiga! Senti tanto a sua falta!

- Eu também Lee! Mas vamos lá, vamos costurar essa mocinha que você arrumou e que a cada dia aparece com uma novidade! - Lexie riu e Lena também. Realmente, uma coisa que não existia ao lado de Kara era monotonia.

Kara estava zonza, não sabia bem o que acontecia, só se deu conta que estava em uma mesa de cirurgia quando suas costas tocaram o metal gelado da mesa. Ela abriu os olhos e viu Lena.

-Amor... o que... você vai... fazer?

- Precisamos fechar os ferimentos. Relaxa, vou te aplicar a anestesia. Você vai dormir um pouco!

- Amor... a bala... e os vidros... ainda estão... nos machucados! - Kara disse baixinho!

-Não acredito Kara! Porque você não disse antes? Como você tá suportando isso? - Lena acariciou o rosto de Kara. Imaginando a dor que ela estava suportando ao caminhar, se mover, sentar e deitar.

-Não consegui... tirar sozinha! - Kara respirava lentamente.

- Não se preocupa meu amor, vou cuidar de você! Agora relaxa!- Lena deu um beijo em K e aplicou a anestesia e ela lentamente adormeceu.

Lena ficou entregando os instrumentos e checando a respiração de Kara, Alex operando o tórax e Lexie o abdômen, simultaneamente. O primeiro corte com o bisturi, que Alex fez foi abrindo o buraco do tiro e ao mesmo tempo, Lexie colocou o extensor e abriu a ferida da barriga. Alex introduziu a pinça e não conseguia achar a bala.

-Droga! Deveríamos ter tirado radiografias em algum lugar! Pena não ter a máquina de raio-X aqui! Como vou achar a bala? Tem muito sangue saindo.

Lexie conseguiu segurar com a pinça um grande pedaço de vidro que estava dentro da ferida. Quando começou a puxar, Alex ainda procurava a bala no tórax de Kara. Retiraram a bala do tórax e os vidros da barriga. Lena ficou abismada, quando Alex informou que a bala passou a poucos milímetros da artéria subclávia. Lexie retirou os vidros que felizmente não haviam perfurado nenhum órgão de Kara.

Após suturarem os locais com pontos bem finos, para não ficarem cicatrizes grandes, viraram Kara e dessa vez foi Lena que retirou os pedaços de vidros que estavam nas costas e suturou o local, tentando fazer pontos de cirurgia plástica para não estragar a tatuagem que adorava.

Fizeram os curativos e colocaram Kara em uma maca. Lena saiu da sala e avisou aos amigos que estavam do lado de fora que tinha acabado, Kara estava bem e em repouso. Todos abraçaram Lena, sabiam que ela amava Kara e torciam para as duas. Ela se aproximou de Clark.

-Só uma coisa está me preocupando! Para onde vamos levá-la? Ainda não fui para meu apartamento e não queria levá-la para a casa da Imra e da Gayle. Já estamos dando tanto trabalho a elas!

- Leve-a para a casa dela.

-Casa dela? E onde fica isso, Clark? - Lena se assustou com a informação que desconhecia.

- O apartamento dela não era alugado?

- A casa onde moro pertence à Kara. Ela já tinha construído aquela mansão anos antes de eu vir morar aqui no Rio. Quando meus trigêmeos nasceram, ela me ajudou, deixando eu ficar lá! Ainda alegou que ali era muito grande para ela e preferia ficar naquela quitinete alugada na Tijuca. Eu nunca entendi isso, acho que era para a Bárbara não saber que ela tinha dinheiro, porque Bárbara sempre foi muito interesseira! Acho que também ela queria ter uma vida comum, por isso ela começou a trabalhar como advogada e morava naquela quitinete.

Lena fechou a expressão. Sempre sentiu ciúmes dessa ex-namorada de Kara. Detestava ouvir o nome dela. Ela respirou forte e tentou não transparecer seu ciúme para Clark.

-Mas Clark, já tem você, a Lois e os meninos, vai ficar muito ruim ali, com mais quatro!

- Que nada, lá tem oito quartos! Eu peço para duas das babás dos garotos te ajudar. E ainda tem a suíte máster de Kara que ela nem usava. Adorava ficar no subsolo, mas agora vocês podem usar.

-Tá bom, vamos pra lá! Vou avisar a Gayle e a Imra e depois eu vou para lá com as bebês. A Kara vai ficar anestesiada por algumas horas, vou esperar um pouco e depois enquanto ela dorme, vou na casa da Imra e pego tudo.

-Lena, vou indo. Vou arrumar o quarto da Mel para vocês e descansar um pouco. - Clark levantou e deu um abraço em Lena e saiu. Despediu-se de Alex, Lexie, Imra e Oliver que estavam do lado de fora e saiu com Lois que o esperava.

Kara acordou depois de duas horas e estava sozinha. Sentou com dificuldade na maca, sua cabeça estava zonza, tinha um frasco com soro em um pedestal e a agulha em sua veia do braço, ela usava uma camisola hospitalar. Calmamente foi descendo e começou à andar até o banheiro, arrastando o pedestal. Sentia-se muito zonza, mas precisava fazer xixi. Usou o banheiro e voltou para a sala de Lena, onde estava a maca, quando estava quase na maca, Lena entrou.

-Kara! O que você está fazendo em pé? Pode voltar para a maca! - Lena desacreditou ao vê-la caminhando.

-Lee!... Era justamente... isso que eu... estava fazendo! - Kara disse baixinho.

-Vem amor, deixa que eu te ajudo! - Lena segurou no braço esquerdo de Kara, pois o direito estava imobilizado. A bala havia atingido o músculo do tórax que tem extensão para o ombro dela. O braço direito deveria ficar em repouso até o músculo estar cicatrizado. O esquerdo também tinha sido baleado, mas já estava quase cicatrizado.

Ela ficou deitada mais algumas horas, Oliver ficou na clínica com ela. Lena foi para a casa de Gayle e Imra e arrumou as malas com as amigas. Três horas depois quatro carros chegaram à clínica da Urca, Kara foi colocada no carro com Oliver e Barry e todos seguiram para a estrada do Joá. Ajudaram Lena a levar as bebês para o quarto e as malas e Clark carregou Kara e a colocou na cama da suíte máster no segundo pavimento. Depois de duas horas todos se despediram e os moradores da mansão se recolheram, o dia havia sido longo e cansativo, principalmente para Lena e Clark.
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Invadindo SentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora