Capítulo 44: A irmã certa

558 34 85
                                    

(Anthony)

22h34min – Sexta feira

Por causa de tudo o que aconteceu, a Lily acabou indo se isolar no telhado que fica em frente a janela do seu quarto. É o cantinho seguro dela.

O cantinho que sempre buscou para se sentir bem. O lugar que a fazia ter inúmeras inspirações para pincelar suas telas e papeis. O lugar que nós dois conversávamos, sem que nos ouvissem.

O lugar que eu considerava ser nosso, o lugar que me imaginei beijando-a incontáveis vezes...

E, embora ela quisesse ficar sozinha, para absorver todas as informação que lhe foram jogadas, eu não me contive. Acabei seguindo-a até aqui, afinal, ainda tínhamos muito o que conversar.

Sequer precisei fazer barulho para que ela notasse a minha presença, Lily virou rapidamente o rosto para trás, vendo-me pular a janela e cautelosamente caminhar sobre as telhas pretas, sentando-me ao seu lado.

Emily estava abraçada a suas pernas, olhando fixamente para a lua encoberta por nuvens. Minha companhia não parecia a incomodar, o seu corpo não estava tenso por conta da minha aproximação.

Lily parecia perdida em pensamentos e parecia estar no seu mood: não quero sentir nada, cansei de sentir.

De mansinho encurtei completamente o espaço entre nós dois, tocando a minha perna na dela. Dizendo silenciosamente que eu estava aqui, estava aqui por ela.

— Como sabia que eu estava aqui? Não no telhado, mas na casa.

— A Bia me ligou pra dizer. Acho que ela pensa que é nosso cupido. — dei uma risadinha baixa.

— Ela queria que a gente ficasse bem. — Lily comentou meio robótica e ficou alguns segundos sem falar nada. — O lance da polícia você sabia? — Lily perguntou bem baixinho.

— Não fazia ideia. Eu acabei encontrando o seu pai no elevador. O Otto me disse que estava vindo pra cá, porque tinha assuntos para resolver e eu acabei aproveitando a carona. Quando eu e o Otávio chegamos, eu até me assustei ao ver as duas viaturas paradas aí na frente. — expliquei tranquilamente.

Ela soltou um longo suspiro e timidamente deitou o rosto sobre o meu ombro, fazendo-me sorrir e deitar minha cabeça sobre a dela.

— Nós precisamos conversar, você não acha? Sobre nós dois... — cochichei e ela resmungou baixinho um xingamento.

Apoiei minha mão sobre o seu joelho e fiz o mesmo de quando éramos adolescentes. Comecei a balançá-lo de um lado para o outro, o que a fez soltar um risinho nasalado.

— Ok. Mas eu começo. — ela disse depois de um tempinho. Lily se mexeu desconfortavelmente e virou o corpo, sentando de frente pra mim. — Agora que tudo ficou claro ou quase tudo. Eu queria te dizer que eu nunca te considerei um irmão, Tony. — Lily falou pesarosa. — E imagino que fosse sobre isso que a Mel queria que eu te ouvisse. Queria que eu soubesse que você também descobriu a verdade. — assenti com veemência, mostrando o quanto eu estava ansioso por conta desse assunto. — Tudo o que eu escrevi pra você naquela carta não mudou, só intensificou com o passar dos anos. Eu só não verbalizei por medo. Medo de mudarmos um com o outro. Medo de deixarmos de ser amigos. Medo de não ser recíproco. Enfim... — Lily admitiu envergonhada. — Embora eu tenha ouvido da boca delas que você tinha sentimentos por mim, acho que aos seus olhos eu fui sua melhor amiga e sua irmãzinha por um longo tempo, não é?

— Engano seu. Eu jamais te vi como irmã, Lily. Meus pensamentos são testemunhas disso, posso te garantir. — falei com sinceridade, fazendo-a arregalar levemente os olhos, surpresa. — Na verdade, eu percebi que estava apaixonado por você quando eu tinha 13 anos.

A irmã erradaOnde histórias criam vida. Descubra agora