Capítulo 2: Carta de Amor

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Três anos atrás...

— Pronta pra se despedir deles, minha bebê? — Mel me tira do meu devaneio e eu cubro meu rosto com o travesseiro.

— Não quero ir ao aeroporto, meu coração não vai aguentar. — digo chorosa contra a fronha.

— Compreendo que a despedida será dolorosa, principalmente pelo tempo que o Tony e a Mih passarão em Milão, mas você precisa fazer algo. Precisa principalmente sair dessa cama.

Baixo lentamente o travesseiro e permito que apenas os meus olhos fiquem à vista.

Observo a Sueli escorada na porta do quarto com um sorriso pequeno, me dando um pouco de conforto e olho para a Mel que, além de ser minha melhor amiga, é a minha meio-irmã por ser filha da Sueli.

Aliás, por falar na minha madrasta, atualmente eu trabalho com ela no Rio de Janeiro. A Sueli tem uma clínica veterinária chamada "Fisio for pets" e ela também tem uma ONG chamada "for pets", no qual cuidamos de animais abandonados, maltratados e especiais.

Eu sou médica veterinária fisioterapeuta e acupunturista da clínica e também sou voluntária da ONG. Não recebo nada para cuidar dos animais da ONG, mas cuido com todo o amor do mundo. E participo de diversas campanhas para conseguir que sejam adotados e bem cuidados.

Sou imensamente grata pelos meus anos de residência no hospital veterinário da faculdade, na Unesp de Botucatu. Eles foram extremamente úteis para eu ter confiança, segurança e prática. Além da minha pós graduação em reabilitação pelo Instituto Bioethicus Botucatu, que me trouxe ainda mais experiências.

E, eu amo reabilitar os animais, é gratificante demais ver a eficácia do tratamento dia após dia. Sem dúvidas, foi a melhor escolha que eu fiz.

— Não estou pronta pra me despedir deles. Dele principalmente. Não quando tenho tanto coisa pra dizer... — desabafo em um choramingo.

Apesar de ter beijado o Tony anos atrás, foi só isso. Um beijo por conta de um jogo. Não teve um olhar diferente depois disso, nenhum clima propício. Nada que pudesse indicar que seríamos algo a mais... Porque realmente nunca fomos.

Na realidade, acho que para o Tony eu sempre serei vista como amiga.

Queria que fosse diferente? Sim. Queria que déssemos certo, mas sendo realista, é bem improvável. Então, apenas preciso me conformar com isso e me contentar com o que ele pode me dar. A amizade.

— Por que você não escreve uma carta? — minha madrasta sugere ao entrar lentamente no quarto. — Escreve tudo o que sente pelo Tony nela, e pede pra Mikaela entregar, caso você não tenha coragem de fazê-lo.

Por falar na Mikaela...

Ela se formou em design de moda na faculdade Anhembi Morumbi da Vila Olímpia. Ela foi morar em São Paulo por um tempinho junto com o Pietro, primo e melhor amigo do Anthony e, a Sabrina, melhor amiga da minha irmã.

Mas, até onde eu sei, minha irmã e o Pietro nunca chegaram a ter nada. E, nem sei se a Mih me falaria caso tivessem.

Ultimamente ela tem me deixado de fora de tudo. Tem me tratado com a mesma frieza que a nossa mãe me trata.

E, apesar da minha irmã estar indo viajar para outro país, de eu internamente estar querendo passar todos os últimos momentos com ela, eu não posso fazê-lo.

Sobretudo quando me sinto mais confortável aqui; no apartamento duplex do meu pai, do que na minha própria casa. Do que com as duas pessoas que eu deveria ser mais próxima.

A irmã erradaOnde histórias criam vida. Descubra agora