Capítulo 5: Pensa com carinho

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07h:43min – Sábado

Sei que o alarme do meu celular está prestes a tocar pelas vozes que começo a ouvir no corredor e, tenho mais certeza disso quando ouço a porta do meu quarto ser sutilmente aberta.

E antes que achem que quem veio me despertar foi a minha melhor amiga ou até mesmo o meu pai, não. Não foi nem um e nem outro.

Acabo sorrindo quando sinto a Liby, a gatinha que a Sueli adotou da ONG, roçar o corpinho pelo meu pescoço.

O seu ronronar manhoso logo toma conta dos meus ouvidos, fazendo meu sorriso se ampliar ainda mais.

Suspiro pesadamente, sabendo que se eu não der um sinal de vida além da minha respiração, a bolotinha não vai ter dó e nem piedade ao arranhar o meu rosto com as suas garrinhas afiadas.

Queria poder dizer que isso é um drama meu, mas infelizmente não é.

Já aconteceu uma vez, anos atrás e foi trágico!

Naquele dia a danada conseguiu fazer a proeza de me arranhar quando decidi abrir os meus olhos. O que causou um machucado na parte interna do meu olho, pois é.

Mas, tive sorte de não ter sido algo preocupante e de o oftalmologista ter resolvido em um mês.

Para não correr esse risco novamente, levo a minha mão até a Liby e acaricio seu pelo sedoso, afastando-a um pouquinho do meu rosto para poder abrir meus olhos em segurança.

— Bom dia, minha bolotinha cinzenta! — Liby senta sobre a minha barriga, leva a patinha dianteira até a boca e a lambe, me ignorando completamente. — Já fez o seu trabalho, né? Por isso não está mais nem ai pra mim. — constato e Liby olha rapidamente para mim com seu famoso olhar indiferente.

Ela para de se lamber, afofa um pouco o edredom, porém ao invés de se deitar sobre a minha barriga, ela me olha novamente e se levanta.

Entreabro os lábios chocada ao vê-la pular para o chão, saindo do meu quarto pela fresta da porta. Pelo visto, uma gatinha não quer papo comigo hoje...

Levando em conta como eu acordei me sentindo, acho que nem eu gostaria de conversar comigo mesma hoje.

Provavelmente serei uma companhia melancólica para todos ao meu redor... O que me ferra muito! Principalmente quando trabalho com animais e eles têm uma facilidade ainda maior de sentir quando a nossa energia não está boa.

Tenho certeza que estou em um dia em que a minha energia está se assemelhando ao da tristeza de divertidamente.

Subi lentamente o edredom até que cobrisse o meu nariz e acabo me assustando com a Mel. Minha melhor amiga entrou no quarto como se fosse o próprio papa-léguas fugindo do coiote. Ela foi determinada até as cortinas e abriu-as totalmente, fazendo a pouca claridade tomar conta do quarto.

Ela gira nos calcanhares, estreita os olhos pra mim e sem perguntar nada; Mel afasta o edredom do meu corpo, fazendo o meu conjuntinho de pijama ficar a vista.

— Precisava mesmo disso? — questionei perplexa e permiti que meus olhos passeassem por suas roupas. Calça branca, sapato branco, cabelinho em um coque...

Ando tão avoada que esqueci que a Mel não teria folga hoje, que ela iria trabalhar também.

A Mel se formou em Enfermagem na Unesp, assim como eu. Hoje em dia a Melissa trabalha no Lavoisier. Ela chegou a atuar em hospital por dois anos, mas ao ver que não levava jeito para toda a pressão, a Mel preferiu focar em outra coisa.

— A Liby já havia me acordado, chuchu. — resmunguei e ela pulou em cima de mim, me abraçando.

— Mas acordar com mais amor não faz mal nenhum. — ela murmurou ao me esmagar mais.

A irmã erradaOnde histórias criam vida. Descubra agora