Cap 23 - A Visão de Marguel

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Marguel fortaleceu o dom ao completar as sete primaveras na Terra

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Marguel fortaleceu o dom ao completar as sete primaveras na Terra. Já não era a menina insegura de antes e conseguia barrar as vozes indesejadas. Após meses de preparação, sentia-se confiante de que a dádiva viajaria consigo àquela manhã. No entanto, somente ao desembarcar em Galácena faria o teste final.

Observando o céu pela sacada do quarto, pôde jurar que até as nuvens lhe desejavam boa viagem. Debruçada no parapeito, fantasiou sobre quem encontraria primeiro e o que faria ao chegar no planeta. A dúvida de uma recepção chata, porém, amassou a garganta e engolir saliva ficou difícil. Espremendo a vista em direção ao jardim, reparou em um ninho na ponta do galho e pensou na própria moradia.

Voltando-se ao quarto, apertou os lábios ao ver a cama feita. Nunca mais leria seus livros sobre ela ou brincaria com as bonecas ou montaria suas casinhas,...

Os olhos se encheram borrando o palco que acolheu diversões e agasalhou prantos em diversas ocasiões. Tudo seria diferente depois que fosse embora. Era o que desejava desde que se conheceu por gente. Não andaria para trás por um medo bobo ou apego material. Enxugando a tristeza, bateu o pé no tapete.

"Adeus, meu quartinho" — abraçou a si mesma com o coração cheio de ternura. Quando o relógio de pulso soou oito horas deu um pulo.

— Vamos, vamos — agarrada ao corrimão como se a vida dependesse do ferro, esganiçou escada abaixo. — Hoje é o grande dia!

A euforia apressou os batimentos e o fôlego mal deu conta de preencher os pulmões. Custava a crer que em poucas horas pisaria em Galácena.

Ao chegar na sala, contudo, travou os pés e a respiração teceu um pânico interno ao revelar os traços fechados da avó recebendo-a. Era uma neta mestiça e isso não poderia e nem iria esconder. Sabendo da aversão de Kaline ante o relacionamento dos pais, deduziu não ser diferente o tratamento para com meio galaceanos feito ela.

Ao notar dois rostos paralisados a frente, preferiu esconder o pensamento no fundo do cérebro. Sentimentos ruins de passados distantes deveriam ser trancafiados em baús cheios de pedras e atirados ao mar. Riu com a ideia.

"Se me virem com medo, vão desistir e ficar na Terra."

Prevendo o risco de a operação infeccionar antes do curativo, guardou a ansiedade dentro do peito. Ao dar passagem a uma postura equilibrada, congelou os lábios num sorriso confiante e entrou na sala.

— Nossa — encarou o relógio com as mãos coladas nas bochechas, num fingimento teatral. — Olhem a hora!

Marguel os puxou à cozinha, e arrastou as cadeiras para se sentarem.

— Vocês precisam comer algo e de preferência doce — adicionou uma rosquinha de creme com granulado a cada um. Uma delas não aguentou o tranco e escorregou do prato. — Palavras de Jalef!

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora