Cap 25 - O Regresso

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Dedulhão: macaco dourado com olhos esbugalhados

Gote: cavalo alado com chifre perolizado

Napolina: passagem nível I

Rapé: árvore extremamente alta

Ribou: pássaro da Floresta de Aycol

Por um bom tempo, Marguel não ousou abrir os olhos. Lembrando-se das palavras de Jalef, procurou manter a calma. Uma nova tormenta, no entanto, a cercou dentro de Nylda.

Duas silhuetas surgiram e ela se esforçou em enxotá-las. Franziu a testa e contorceu os músculos quando os rostos se intensificaram em aflição. Pareciam tristes como se tivessem perdido um presente. Estavam tão próximos que, se quisesse, poderia acariciá-los. Então, uma ânsia subiu à garganta ao se lembrar dos pais. Talvez a acompanhassem dessa forma e, depois, apareceriam no destino final, cogitou em meio a ingenuidade.

Logo, a respiração trepidou e a menina compreendeu estar dentro da criação de Tom. Assim que a fumaça se dissolveu, observou seu interior. As coordenadas piscavam num verde fosforescente no painel. Hipnotizada pela cor, esticou o braço. A distância, contudo, não permitiu que o tocasse. Em seguida, deslizou as mãos pelo cinto, puxando-o ao máximo que pôde. Estando mais firme que prego na parede, relaxou os ombros e, num resto de fôlego, soprou a franja. Nada poderia fazer a não ser aguardar algum sinal — o que pareceu ser uma eternidade.

Ao fechar os olhos, encheu os pulmões e um de seus passeios prediletos brotou entre os pensamentos. De cenho apertado, a trilha na mata fechada espichou até o corpo amortecer. Marguel se agarrou na poltrona conforme a imagem de Jalef surgiu embaralhando-se entre as folhagens. Disse algo que não entendeu. Com a ilusão, os batimentos se apressaram como se desse modo resolvessem o deslocamento de uma vez. Logo, uma tontura aguçou o desespero e as pálpebras pesaram no rosto. Lutavam contra um sono profundo.

Num instinto pela vida, o cérebro a provocou, uma chama acesa no meio da cabeça. Precisava acordar, reagir, afinal, estava sozinha, presa dentro de um cubículo e sem perceber o próprio corpo. Sabia que a dormência, entretanto, era normal, o professor a alertara. Apesar de não sentir os músculos, mordeu os dentes ao erguer os duzentos quilos de pernas. E, acolhendo-as num abraço, encurvou-se. Sua única alternativa era esperar pelo término da jornada. Pensar no destino, uma voz ecoou na mente e uma lágrima se antecipou ao ponderar ser o retorno impossível.

— Ah — o grito abafado rodopiou pela cápsula e ela tampou os ouvidos. — Saia daqui!

Feito um muro de pedras, um semblante extra dividiu as figuras dos pais que oscilou até desaparecer. Os pelos do braço se ouriçaram e pôde jurar provar o hálito da mulher. O assalto foi um raio e ela repetiu o berro. Assim que resolveu engolir o susto, colidiu com a presença estacionada bem a frente.

O mesmo olhar a espioná-la na casa de Tom importunava dentro de Nylda. Contudo, a menina não teve medo conforme outrora, pois se deparou com uma feição gentil. Uma que, se pudesse, traria uma cesta de quitutes.

— O que você quer? — Tomada de coragem, fez da pergunta um rojão.

No entanto, a mulher não respondeu e Marguel assistiu a imagem borrar até se apagar. Cogitando ser um aviso ou até um mau presságio, um nó na garganta se formou. O choro foi inevitável.

Quando a nave apitou três vezes, ela respirou fundo e enxugou o rosto. Entre soluços, viu um sinal vermelho ascender no painel e uma pressão pairou sobre o corpo. Então, as pernas subiram e o cinto cumpriu com o dever ao pressionar o peito. Desciam.

A meia galaceana permaneceu em alerta até um solavanco jogar a cabeça para frente. Ao ouvir um clique, a comporta destravou e um fio de luz amarelada riscou a cabine. Com o coração aos saltos, aguardou até se sentir segura para se soltar. A máquina abriu sozinha e ela se moveu lentamente. Ao dar um pulo, os pés tocaram algo fofo e os olhos arderam.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora