Dedulhão: espécie de macaco dourado com olhos esbugalhados
Gote: espécie de ungulado alado
Napolina: passagem secreta
Ribou: pássaro da Floresta de Aycol
Marguel não ousou abrir os olhos por um bom tempo. Lembrando-se das palavras de Jalef, procurou manter a calma. Uma nova tormenta, no entanto, a cercou dentro de Nylda.
Esforçando-se em enxotá-la, franziu o cenho e contorceu os músculos. Contudo, as duas silhuetas se intensificaram em rostos aflitos. Se pudesse se mexer poderia quase acariciá-las. Com a mãe e o pai deixados para trás, o estômago se apertou e uma ânsia subiu à garganta.
Logo, a respiração trepidou e ela compreendeu estar dentro da criação de Tom. Com a fumaça dissolvida, pôde observar ao redor. Ansiosa, mirou à janela, mas encontrou apenas escuridão. Em seguida, passou as mãos no cinto, certificando-se estar em segurança.
Ao reparar as coordenadas brilhando em verde no painel, esticou o braço. A distância não permitiu, porém, que o tocasse. Mordeu os lábios, era pequena demais para calcular o tempo que ficaria ali. Então, se imaginou em um de seus passeios prediletos. Assim que apertou a vista, uma trilha na mata fechada ocupou a mente e o corpo amorteceu.
A imagem de Jalef surgiu se embaralhando entre as folhagens imaginárias. Dizendo algo que não entendeu, julgou ser ilusão. Os batimentos se apressaram como se desse modo resolvessem o deslocamento de uma vez. Logo, uma tontura aguçou o desespero e os olhos pesaram no rosto. Lutavam contra num sono profundo.
Num instinto pela vida, o cérebro a provocou. Afinal, estava sozinha, presa dentro de um cubículo e sem perceber o próprio corpo. Precisava acordar, reagir. Entretanto, sabia que a dormência era normal, pois o professor a alertara a respeito. Apesar de não sentir os músculos, ergueu as pernas. Pareciam pesar duzentos quilos. Acolhendo-as num abraço, se encurvou e esperou pelo término da jornada. Uma lágrima se antecipou ao ponderar ser o retorno impossível.
— Ah — o grito abafado da meia galaceana rodopiou pela cápsula e Marguel tampou os ouvidos. — Saia daqui!
Embaçando a figura dos pais, um semblante extra brotou à frente. Os pelos do braço se arrepiaram e pôde jurar sentir o hálito da mulher. O assalto foi como um raio e ela repetiu o berro. Assim que resolveu abrir os olhos, colidiu com a presença sorrindo.
A mesma senhora a espioná-la na casa de Tom a importunava dentro de Nylda. Contudo, a menina não teve medo conforme outrora, pois se deparou com uma feição gentil. Uma que, se pudesse, a aconchegaria no colo.
"O que quer de mim, afinal?" — tomada de coragem, soltou a pergunta feito um rojão.
A mulher, no entanto, não respondeu e Marguel assistiu a imagem borrar até se apagar. Pensou ser um aviso ou até um mau presságio. Sem se conter, abriu a boca.
Quando Nylda apitou três vezes, respirou fundo. Enxugando o rosto, viu um sinal vermelho acender no painel. Uma pressão pairou sobre o corpo e o cinto a pressionou.
Permaneceu em alerta até um solavanco jogar a cabeça para frente. Após um clique, a comporta destravou e um fio de luz penetrou a cabine. Com o coração aos saltos, aguardou até se sentir segura para se soltar e abrir a máquina. Num pulo, os pés tocaram uma areia fofa.
Olhando para trás, constatou o inimaginável. Nylda oscilava num zigue-zague como os desenhos que assistia na TV. Então, o metal empalideceu, dissolvendo-se até sumir por completo. Um calor atingiu a pele no instante em que a sombra da máquina evaporou. Foi a primeira vez que o sol de Galácena a aqueceu.
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Galácena E Os Escolhidos
PertualanganGalácena foi dividida. As pragas-vivas não têm direito de permanecer no planeta e sofrem com perseguições e banimentos. A fim de protegê-las, a guardiã Marguel Redin enfrentará a ira de seu ex-tutor e os traumas do passado, pois acredita que todos t...