Cap 15 - Quebrando As Regras

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Duna: não galaceano

Bálbatrez: planta medicinal

Ouvinte Lateral: dom da audição supersensível

— Desculpe a brincadeira, sim? — Recompondo-se da ousadia, Jalef inspirou algumas vezes e se endireitou no sofá. — Eu só... não resisti, eh.

Sofia estava aliviada em ter o amigo são e salvo após a aventura pessoal. O aceno que deu — não muito convincente — bastou para encerrarem o assunto. O jeito piedoso do homem, no entanto, a incomodou. Afinal, ele demorou segundos extras analisando o terráqueo.

— Agora, Alex, sua vez — ainda num andar penoso, levantou-se para dar seguimento à diversão. — Vamos finalizar durante esta madrugada, sim?

— Já? — A guardiã estufou o peito e a atenção pulou entre o mestre e a próxima vítima.

O casal o acompanhou até um dos caldeirões. Como que apreciando a presença do galaceano, as borbulhas se agitaram numa conversa de estouros. Jalef espiou o conteúdo por cima, virando-se à dupla na sequência. Sofia não gostou do olhar, mas escondeu o medo no fundo do cérebro ao notar que matutava algo. Seria uma desfeita interrogá-lo— das grandes —, visto que arriscara o pescoço para ajudar. Achou reconfortante pensar que fora de bom-grado e que nenhuma intenção a mais faria parte do caldo.

De soslaio, viu o rapaz pressionar as mãos. Estava convencida que hesitava. Apesar de todo preparo psicológico, agora era para valer. Num abraço, acariciou as costas do terráqueo, mantendo os olhos fixo nos dele. A ocasião exigia coragem.

— Quanto tempo vai durar o procedimento? — Dirigiu-se a Jalef com o coração aos saltos, enquanto os punhos na cintura disfarçaram o treme-treme dos braços.

— Se nos basearmos em minha transição, em torno de trinta minutos — a voz saiu alegre e ele mexeu a gosma com uma concha reforçada, satisfeito com o sucesso da poção. — Então veremos a contribuição de Galácena ao nosso querido duna, sim?

O casal se esbarrou e as bocas atreveram sorrir pelo canto. No entanto, dividiam-se em apreensão e euforia, sem saber explicar o gosto da experiência. Um selinho rápido foi a despedida arranjada.

— Vamos começar logo com isso ou melhor, acabar — ajeitando o cabelo para trás, a cobaia número dois se reorganizou num suspiro profundo. A felicidade entregue na habilidade de um Terók e na inteligência de uma completa desconhecida.

— Antes, preciso do toque final — com seringa e agulha em mãos, o amigo voltou-se à guardiã. — Tenha a honra, minha cara!

— Para que isso? — a voz subiu três degraus e as veias do pescoço saltaram. — Vai tirar mais sangue dela?

A mulher ergueu os ombros e armou uma cara de pato. Sabia do que se tratava, embora preferisse manter objetos afiados longe da pele. Afinal, sua cota de espetos transbordava o limite do aceitável.

— O sangue é o último ingrediente necessário para completar a poção — Sofia relaxou a feição e, desta vez, fez uma pose de aluna nota dez. Em seguida, acirrou a vista ao professor. — Deve ser acrescentado em menos de uma hora, se não me engano.

Jalef deu uma piscadela, feliz com a memória da galaceana.

— Calma, meu caro. Você está chacoalhado por causa da emboscada. Realmente os arqueiros não estavam nos planos, mas... — acariciou a barba e um arco cresceu na boca. — Ninguém melhor que ela para doar, não acha?

De cenho fechado, um sim a contragosto fora o máximo que o forasteiro cedeu. Então, Sofia esticou o braço bom quando o amigo se aproximou. Faria o que fosse preciso para ter Alex por perto. Contudo, tinha de admitir que a situação se estendia para além de uma simples brincadeira.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora