Cap 2 - A Passagem Subterrânea

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Chaves-peças: dão acesso às passagens secretas nível III

Duna: pessoa não galaceana

Ogrimor: palavra senha do Portal da Águia

SOTE: Sociedade Original Terók

Zaca: metal de Galácena

Marguel avançava quieta no novo ambiente. A umidade, o breu e as paredes rochosas sufocavam suas expectativas de uma fuga bem-sucedida. A ela, o lugar parecia a garganta de uma cobra, prestes a engoli-la para sempre. A sensação da loucura vivida momentos antes também insistia injetada no corpo. Os únicos detalhes a denunciar sua presença eram o arfar da respiração e o barulho dos passos ecoando ao longo do corredor.

A revolta com o impasse de Terók, os confinando a viver no limite, provocava uma repulsa no estômago. Há muito, os dunas eram caçados pelos soldados da SOTE como animais selvagens. E agora, eles mesmos faziam parte do circo. Em seu âmago, percebia a necessidade em colaborar, retornando ao posto que jurou defender anos atrás.

Os nervos da guardiã se retorceram ao imaginar o rosto de Traium. Ironia do destino ou não, precisava estudar cada movimento para não ser massacrada pelo ex-tutor.

"Se ainda tivéssemos a posse das chaves-peça... — refletiu, enjoando com a lembrança do roubo. — Mas até isso aquele patife nos tirou".

Marguel sempre adorou conversar, contudo, a mente digladiava por uma saída prática. Afinal, encostavam num ponto em que as arestas da Sociedade de Gala se romperiam ao menor sopro.

— Depressa! Jalef precisa estar a par da perseguição. — Zincon ofegava pelas narinas e sentia uma das mãos quente e úmida. O suor estampado no rosto umedecia os fios de cabelo próximos às orelhas e nuca. — E sabe-se lá desde qual região da mata.

Mantendo as ideias em banho-maria, ela despertou com a voz suspeita do marido. "Já era tempo dele se recompor", pensou, desconfiando também do cenário cavernoso. Não era possível, no entanto, ver alguma coisa naquele breu.

— Que infelicidade a nossa terem nos visto na volta — o guardião destrinchou a própria agonia com a jornada feita a uma outra sociedade. — Tomamos tanto cuidado ao retornarmos da missão...

Se Marguel pudesse substituir suas objeções por uma solução, assim o faria. Não era o caso, pois precisavam ser assertivos e se concentrar na rota singular. Logo, o silêncio novamente dominou o lugar, à exceção dos passos.

Durante o percurso, ambos lutavam contra os pingos gelados que insistiam em despencar do teto como se quisessem alvoroçá-los e distraí-los ainda mais. Vez ou outra, passavam a mão na cabeça, arrepiando os cabelos molhados ou alisando alguma mecha fora do enredo.

Em minutos, a marcha aumentou seguindo a proporção da ansiedade do casal. Então, viram-se correndo, ousando em meio a escuridão de uma galeria subterrânea secreta.

A guardiã lançou a mão na lateral de pedra. Em alguns pontos, as cavidades pareciam morder os dedos. Tateava-a certificando-se de não encontrar obstáculos que a ferisse. Zincon imitava o gesto com o outro lado. Ela ouvira o marido reclamar uma ou duas vezes, dando a impressão de que algo o incomodava. Sentenciou a queixa, contudo, um resultado do trajeto.

O túnel de pedra interligava o Lago Palla aos domínios da Sociedade de Gala. A luminosidade precária vinha de alguns relutantes poços de luz abertos no teto. A maioria, porém, estava obstruída com cascalho e vegetação exterior.

O corredor era revestido por rochas reforçadas que sustentavam a escavação e ofereciam ao ar úmido um gosto de ferro. Mal sabia ela, que o galaceano fazia do cheiro um cúmplice perfeito.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora