Cap 17 - Os Três Teróks

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Galeano: moeda de Galácena

Praga-viva: termo ofensivo aos não galaceanos

Vampir: criatura lendária sugadora de alma

Traium e o pai aguardavam em frente aos aposentos do tio. Qualquer um que os visse diria carregarem cada qual sua nuvenzinha cinzenta de estimação. E que faíscas caíam sobre as cabeças tamanho aborrecimento adotavam. Em meio a pensamentos imaturos, o jovem trincou os dentes ao enxergar a culpa exibindo-se na porta trancada.

— Raios — Taurim ferveu a voz à medida que macetava a argola de ferro na madeira. — Onde está esse meu irmão?

De soslaio, o rapaz notou meia dúzia de cabeças brotarem de outras salas e evaporarem num passe de mágica ao topar com o autor da anarquia. Então, o sol clareou o ambiente e uma silhueta alta revelou-se entre eles. Um Jalef incrivelmente calmo surgiu, destoando das caretas dor de barriga de pai e filho.

Num julgamento interno, Traium cruzou os braços e soltou um ar de desaprovação ao grande dissimulado da família. As vísceras se aguçaram ao esbarrar em mãos unidas, ocultas pela manga da túnica. Questionou-se, ainda em segredo, se escondiam algo ali. Num relance desvairado, deslizou os dedos ao punhal, irritado por não captar sentimento algum. Tinha de admitir, o sujeito era habilidoso.

O movimento chamou a atenção do chefe da SOTE e, ao menor sinal, a mão insolente retornou para as costas. Não contente, exalou impaciência e espiou por cima do ombro do professor. Estava sedento por encontrar o covarde e sua burrada escondidos atrás de algum móvel. 

— O que deseja, Taurim? — Ignorando a atitude do sobrinho, o homem tremulou as pálpebras ao notar um rosto mais nocivo ao lado. — Estou no meio de uma...

— Ora, não se faça de desentendido. Onde está o duna? — O sexagenário passou pela entrada dando um tranco no irmão. — É inacreditável! Você continua o acobertando! 

Traium não era um vampir, mas ficou estacionado na linha de divisa aguardando o convite para entrar. Ao sinal de Jalef, acelerou por onde os caldeirões estiveram ardendo meses atrás.

Ao ouvir uma exclamação escapando do tio, contudo, parou de súbito e virou-se para trás. Os olhares se encontraram, mas nenhum deles ousou falar. Ainda assim, não imaginou que o anfitrião agradecia ao planeta pelo dom recebido. Se tivessem chegado mais cedo, a inspeção relâmpago teria sido um sucesso.

Ainda sem absorver emoções do familiar, desconfiou que àquela hora, o casal petulante deveria estar enfiado em algum ponto da mata. O tio deveria tê-los aconselhado a permanecer na surdina — como os tais zulis — na esperança de entrarem num consenso. Esboçou um sorriso torto ao julgar a insanidade do galaceano. Inclusive sentia-se confuso às vezes que ele permitia a ingenuidade dominar a esperteza. Desistindo da afronta, entretanto, Traium juntou-se ao outro visitante e ajeitou-se sofá.

— Então, teve a audácia de transmutar um terráqueo? — O chefe da SOTE cutucou a ferida com um soco no braço da poltrona. O filho endureceu ao lado. — Tem noção do que fez, homem?

 O jovem viu a cólera sair repleta de cuspes e,lançando o dom, captou a fúria de um tornado emanar dele. Torceu os lábiosdiscretamente quando o punho cerrado se afrouxou ao aceitar um cachimbo. 

— Acalme-se! — A paciência do professor era o contrapeso ao teatro que se formava. — Para tudo há explicação, sim?

Após três tragadas, o silêncio se quebrou com uma tosse seca. Traium virou o rosto, desgostoso com o hábito insalubre. O recurso era eficaz, porém, cada vez que o desequilíbrio ameaçava a lucidez do sexagenário.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora