Cap 24 - A Miragem de Ítalo

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Gote: cavalo alado

Ribou: pássaro da Floresta de Aycol

Embora passasse das quatro da tarde, o sol insistia em esbanjar seu potencial

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Embora passasse das quatro da tarde, o sol insistia em esbanjar seu potencial. A areia quente e seca se arremessava sem rumo, mudando o ambiente de hora em hora. Vez ou outra, algumas nuvens se reuniam, mas se dissipavam com a força do vento.

Àquele dia, porém, havia uma exceção que se impunha no firmamento de Galácena e parecia solicitar uma trégua com o clima árido. Em plena tarde ensolarada, alcançava a superfície do Lago Palla na divisa com o deserto.

Um grupo de alunos da SOTE acabara de chegar no local para praticar levitação, quando um deles percebeu o monstro esbranquiçado preso no céu.

— Veja só o volume daquela nuvem — Jonas esqueceu dos amigos por um instante, largando a mochila num canto ao admirar a massa solitária.

— Deixa para lá — Caio protestou dando as costas. — Temos só duas horas de exercício para praticar.

— Vamos aproveitar a permissão do professor Zelfi — Ítalo o apoiou, tomando distância dos estudantes. — Aqui estamos livres dos curiosos de plantão.

Beirando seus quatorze anos, os três maiores de idade, abandonaram os pertences num banco de madeira. O limite da Floresta de Aycol oferecia pouca proteção com a vegetação baixa, mas o suficiente para manter as mochilas abrigadas do calor.

Enfiando-se no deserto, o grupo ergueu um caminho de poeira e gritaria. A nuvem intrometida era a única testemunha da algazarra. Usando roupas especiais, logo começaram a subir e descer pelo ar. O menor deles, tenso em seu primeiro dia de treino, balançava os braços como se fossem asas.

— Pare de se abanar, Jonas — o deboche de Caio revelou dentes bem alinhados. — Parece um ribou escaldado!

O menino, que planava a meio metro do chão, tremelicando feito um equilibrista na corda bamba, travou de imediato. Afinal, não era vantajoso virar chacota por parecer um pássaro maluco. Contudo, aparentou lutar consigo mesmo a fim de demonstrar certa confiança. Sentindo o rosto esquentar, disfarçou o desconforto e escalou o ar além do esperado.

— Quero ver me alcançar agora — ignorando o medo, chispou na velocidade e ultrapassou o provocador. — Você está um tempão parado como um gote manco.

Com os punhos cerrados e presos na lateral do corpo, Jonas se impulsionou na marcha vertical. Sem encontrar barreira, os olhos brilharam fixos no azul do céu. Olhou para baixo uma vez, porém não ouviu Caio bufar, nem a inveja se esmagar nos olhos escuros enquanto esmiuçava a figura voadora. Então, uma competição aflorou no deserto.

— Já te alcanço, verme — levando o sorriso sarcástico e o desejo de esmagá-lo, subiu com violência. — Não perde por esperar.

— Está complicado me concentrar com vocês aqui — ainda que em tom de brincadeira, o líder da turma soltou a voz. Alguns pelos no maxilar denunciavam a idade juvenil. — Parem de gracinhas. Já basta essa nuvem profética nos espionando.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora