Galácena foi dividida. As pragas-vivas não têm direito de permanecer no planeta e sofrem com perseguições e banimentos. A fim de protegê-las, a guardiã Marguel Redin enfrentará a ira de seu ex-tutor e os traumas do passado, pois acredita que todos t...
Após certas reuniões, Traium preferia dividir o tempo consigo mesmo. Sem intromissões repentinas ou petulantes, desfrutava o gosto do fumo e do futuro, imaginando Galácena livre dos dunas.
— Invadirei aquela sociedadezinha de araque sem que sequer sonhem como ou quando — as considerações saíram em meio a um sorriso ardiloso. — Meu tio não perde por esperar!
O cachimbo, saboreado repetidas vezes, revelava as ideias frenéticas bombardeando a mente hostil. Faria da paciência a maior virtude, algo difícil a um Terók, mas necessário. Agir com menos impulso que Taurim era a nova solução a ser colocada em prática. E isso havia aprendido com a vida.
— Ah, se meu pai pudesse ver, hã? — sugou o fumo tão forte quanto a chuva lá fora. — O tempo vai dissolver as incertezas e os pormenores. Desta vez, vou purificar o planeta e não pouparei nem os galaceanos adoradores de praga-viva!
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Sedento por vingança, projetou-se o dono do mundo. Bem-quisto ou não, conquistaria Galácena. Visualizando o mapa, os olhos se alteraram de um castanho claro a uma coloração avermelhada ao se lembrar de Marguel Redin. Há quase um ano não recebia notícias da mulher, a mestiça à qual criara e educara como sua carne. E, agora, o fantasma loiro aparecia transbordando em ousadia.
De imediato, a raiva invadiu o corpo e açoitou a alma. No entanto, culpava a própria ingenuidade por seu sofrimento. Por ela, ignorou os princípios do pai, burlando todo um sistema imposto por ele. Menosprezando convicções particulares, acabou sendo o responsável pela ascensão de uma inimiga, uma ameaça ao planeta.
Acostumado a lidar com mentirosos e trambiqueiros, ser enganado por alguém que um dia amparou, fora difícil de digerir. Um choque que completou a ruína de um resto de benevolência que, por ventura, trouxesse no peito. A aversão por ela só aumentou com os anos. O que ninguém presumia, contudo, era ainda ter um fio de sentimento paternal dentro de si.
— Abri a porta da minha casa a essa... — rangeu os dentes segurando um palavrão. Da janela lateral, assistiu seu exército lutar contra o mau tempo no pátio. — E como me correspondeu? Ingratidão e insolência!
Bufou ao idealizar o momento de glória: trazê-la para o seu time. A fórmula à façanha já estava na cabeça. Era fundamental pôr a jogada armada em prática. Para tanto, precisava de um jogador especial.
O que Jalef faria, então? Era isso ou colocá-la no topo da lista de banimento. Riu em sequência, cogitando a segunda opção mais divertida. Expondo os dentes desalinhados, imaginou a mulher agarrada à sina de retornar ao baixo-mundo, lugar de onde nunca deveria ter saído.
