capítulo 15

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   Segunda-feira. O outro pior dia da semana. Normalmente é o dia que eu levanto mais cedo para fazer as rosquinhas especiais de creme que são vendidas somente às segundas.  
   Porém, nesse momento, eu estava bem longe do meu trabalho e das rosquinhas idiotas do meu chefe, então acordei oito horas da manhã.
     Hoje vai ser a despedida de solteiro de Haley, e nós iremos para uma boate de strippers. É também é o dia que Alex chegará.
     Levantei, animada. Peguei um shorts jeans e uma camiseta simples do The Smiths. Coloquei um tênis e prendi meu cabelo em um coque.
     Quando desci para tomar café, encontrei com Luke no corredor. Ele tinha acabado de sair do banho. Estava apenas com uma toalha amarrada na cintura. Seu peito estava desnudo. Os anos foram bons para o garoto, que já não tinha o mesmo corpo de antes, e sim uma barriga levemente sarada e  braços mais fortes e torneados. As gotículas de água escorriam pelo seu corpo, e o cabelo estava molhado, grudado no rosto.
    -Bom dia.- ele falou, mas eu não respondi, estava vidrada demais no corpo dele para conseguir pensar-Sara?
     Quando percebi que estava secando ele, senti uma onda de constrangimento tomar conta de meu corpo.
    -Desculpa.- falei, virando o rosto- Eu tô meio de ressaca, sabe.
     -Sei.- ele falou, meio desconfiado.
     -Eu...- gaguejei, evitando contato visual- eu vou tomar café.
      -Tá...- antes que ele terminasse de falar, eu corri para as escadas, e desci o mais rápido que podia, dessa vez lembrando do degrau quebrado.
     Desacelerei quando cheguei ao pé da escada, e caminhei até a cozinha.
    Phil lia o jornal sentado no sofá, e Claire estava no fogão.
    -Bom dia, querida.- ela disse, tirando a frigideira do forno e despejando um omelete no prato que estava na bancada- Pode comer.
    -Bom dia, Claire.- falei, sentando no banco- Bom dia, Phil.
     -Bom dia, Sah.- ele respondeu.
    -Aqui.- Claire me entregou um copo de suco.
     -Obrigada.- agradeci, sorrindo.
    Eu cortei um pedaço do omelete e o comi. Estava uma delícia.
   Apreciava meu omelete quando Luke adentrou a cozinha.
    -Bom dia.- ele disse.
    -Bom dia, Luke.- Claire repetiu o mesmo ritual que fez comigo.
    Luke sentou ao meu lado, e eu evitei contato visual. Comi o mais rápido que pude e deixei a mesa, ajudando Claire com a louça.
    -Sabe que não precisa fazer isso.- ela me repreendeu, vendo que eu lavava os pratos que foram usados.
     -Preciso sim.- respondi, sorrindo- Já estou na sua casa comendo de graça.
     -Mas você sabe que fazemos isso porque te amamos.
     -Eu sei, mas mesmo assim, faz eu me sentir útil.
     A mulher sorriu, e deu dois tapinhas em meu ombro.
    Luke trouxe seu prato, e me entregou.
     -Já que você está fazendo às honras.- disse, e eu joguei um pouco de água nele.
     -Folgado.- falei, rindo. O menino riu de volta.
     -Luke.- Phil chamou o garoto, que se virou para o pai- Vem me ajudar com uma coisa.
     -Tá bom.- respondeu. Antes de sair, Luke enfiou a mão na água da torneira e jogou em mim. Eu tentei revidar, mas ele saiu correndo e rindo.
     -Filho da mãe.- murmurei, segurando o riso.
     Depois de terminamos de ajeitar a cozinha, eu fui para a varanda.
    Haley passaria me pegar dez horas, para irmos buscar Alex e ajeitamos os últimos preparativos da despedida de solteiro.
    Sentei no banco e comecei a vagar pela internet. Me sentia levemente inquieta, talvez a visão de mais cedo tivesse me deixado meramente atordoada. Eu, gostando ou não, iria demorar muito para superar Luke.
    Bloqueei o celular e encarei o quintal. Mesmo depois de anos, ele parecia o mesmo de antes. Os mesmo vasos, as mesmas flores, a cesta de basquete na garagem, o pula pula...
    Analisava o local com uma nostalgia boa quando senti alguém sentando ao meu lado.
    Dei um pulo, assustando com a presença.
    -Calma, sou eu.- Luke disse, rindo da minha cara de espanto.
     -Que susto!- exclamei, batendo em seu braço.
     -Quer?- ele disse, estendendo um maço de cigarro em minha direção.
      -Endoidou?- perguntei, empurrando sua mão para longe.
      -Meus pais saíram, Sah.- ele falou, voltando a estender o maço.
     -Sério?- perguntei, confusa.
     -Sim.- ele fez uma cara de estranheza- Você não os viu saindo?
      -Pois é...- murmurei. Às vezes isso acontecia. Ficava tão imersa em meus problemas e pensamentos que não prestava atenção em nada que ocorria a minha volta.
      Puxei o cigarro e agradeci quando Luke o acendeu. Traguei e olhei de soslaio para o garoto, que encarava o nada.
    -Se divertiu ontem a noite com Toby?- ele perguntou, um tom de escárnio em sua voz.
     -Por que quer saber, Dunphy?- ri de forma debochada- Ciúmes?
     Vi o maxilar dele se contrair, e meu estômago revirou. Pois é, pensei, ele está com ciúmes.
     - Nós comemos cachorro quente, e depois ele me trouxe pra casa.- respondi, mesmo sabendo que não havia necessidade em ficar me explicando para Luke.
     -Entendi.- ele murmurou, soltando a fumaça e pendendo a cabeça. Tentei desviar a atenção do fato daquilo ter sido extremamente sexy.
     -Animado pra despedida de solteiro do Dylan?- perguntei, já imaginado a resposta.
     -Da mesma forma que você se animaria com um livro de caça-palavras.- torci os lábio. Realmente, eu odiava essas merdas.
    -Por que?- perguntei- Vocês parecem se dar tão bem.
    -Nós nos damos bem. Apenas não estava afim de sair hoje.
    -Qual é, Lucas.- seu corpo se arrepiou quando ouviu o apelido. Havia anos que eu não o chamava daquele jeito- Todo dia é dia de encher a cara.- falei, tentando quebrar a tensão instaurada.
     -Tem razão.- ele concordou com a cabeça, virando para me olhar- Quem sabe eu não pego ninguém hoje.
    Meu peito apertou, mas fingi não sentir nada, apenas sorri de canto e concordei, tragando meu cigarro mais uma vez.
    -Esse é o espírito!
    Luke jogou a bituca no chão, pisando encima dela com o tênis.
    -Quando começou a fumar?- perguntei, curiosa, vendo ele recolher a bituca e guardar no bolso da camisa, provavelmente pensando em descartá-la mais tarde.
    -Faculdade.- ele respondeu, dando de ombros - Experimentei uma vez em uma festa, e depois disso, nunca mais parei.- ele sorriu e eu concordei- E você, miss pulmão saudável, quando começou?
   Ri com o apelido e encarei o céu azul.
   -Bom, quando comecei a trabalhar, conheci um cara.- Luke franziu o cenho- Ele era maneiro, sabe? Usava umas roupas estranhas e tinha tatuagem. Comecei a sair com ele, o namorado e mais uma amiga.- fingi não ver Luke relaxar a expressão quando ouviu eu dizer "namorado"- Eles eram legais, então não achei que seria ruim experimentar.
   Luke assentiu.
   -A vida na nova cidade é difícil?- ele perguntou.
    -Pra caralho.- suspirei - Meu chefe, Bob, é um idiota. Meu trabalho naquela merda de lanchonete me deixa louca. A faculdade de jornalismo está me deixando totalmente ocupada. Sinto que não tenho tempo pra nada. Mas, tirando isso, fico feliz por estar com a minha família, aqui. Eu demorei tanto tempo para trazê-los para cá, e agora eles estão muito bem. Meu pai trabalha em uma loja de peças, minha irmã em uma escola. Mesmo que seja difícil, não poderia estar mais feliz por eles.
    -E por você?- ele perguntou, a voz baixa- Você está feliz por você?
     Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu virei meu rosto para o lado oposto. A verdade é que não estava. Me sentia frustrada, cansada. Eu estava perdida. Sentia falta de Luke, e ainda sofria com aquilo. Eram bilhões de coisas que se passavam em minha cabeça, mas eu não verberizei nada.
   -Estou.- menti, acenando com a cabeça.
    Luke segurou minha mão, que estava apoiada no banco. Minha pele se arrepiou com o toque, e eu me virei lentamente para olha-lo.
    Quando tirei seus olhos, meu ar faltou. Ah, como eu amava aqueles olhos.
    Ficamos nos olhando fixamente, até que Luke começou a se aproximar.
    Eu sabia que não era certo, mas permaneci parada, apenas esperando para o encontro de nossos lábios.
    Antes que pudéssemos nos beijar, escutamos uma buzina.
    Demos um pulo pelo susto, e eu olhei a hora no meu celular. Já eram 10 horas.
    -É a haley.- falei, evitando contato visual com o menino- Preciso ir.- Luke não teve tempo de dizer nada. Eu levantei, rapidamente, e corri para dentro da casa. Peguei minha bolsa e sai.
   Haley me esperava do lado de fora, ela usava um chapéu de cowboy rosa, e uma música alta vinha do carro.
   -Aeeee, caralho!- ela gritou enquanto eu caminhava até o carro. Ri da comoção que ela estava causando na vizinhança- Hoje, Sara,- falou quando eu entrei no carro- nós vamos encher a cara, ver alguns strippers gostosos e, se Deus quiser, vamos arranjar um deles pra você transar.
    -Jesus, Haley.- disse, rindo- Calma aí.
    -Calma nada!-gritou, se curvando para pegar algo no banco de trás- Aqui.- ela me entregou um chapéu igual ao dela, mas roxo- Fiz vários desses com várias cores.
    -Não combina com a minha roupa.- fiz biquinho, colocando-o na cabeça.
    -Tudo bem, o que importa é que combine a noite.
    Concordei com a menina e peguei o celular dela, procurando uma música.
    -Gosto dessa.- falei, quando Bad Girls, da M.I.A começou a tocar.
    -Uhu!- ela gritou, arrancando o carro e acelerando.

18- Luke Dunphy (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora