Capítulo ☆^☆ 11

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Quando o carrasco começou a caminhar vagarosamente, as luzes se apagaram completamente e os gritos reinstalaram. Meus olhos, não mais adaptados ao breu, apenas vislumbravam vultos na escuridão, sem conseguir identificar o que eram.

Estávamos perto da parede, próximo às portas. Abel, instintivamente, correu e me puxou para uma delas. Girou a maçaneta, e dessa vez, como mágica, conseguiu abrir a porta facilmente.

ㅡ Calma Akira! Respira! ㅡ Abel se aproximava, enquanto falava, mas seu som mal conseguia chegar aos meus ouvidos.

Eu me recolho no canto da parede, sem prestar atenção aos detalhes do novo cômodo, onde havíamos entrado.

Uma pessoa morreu diante de nós, e eu me perguntava como Abel poderia manter tanta calma diante dessa situação terrível. Sentia a presença de Lycoris por toda parte, sua energia aterrorizante pairava sobre nós, como se o ceifador ainda estivesse à espera de mais uma vítima; e estava! Eu estava olhando para essa próxima vítima.

Meu coração martelava no peito, deixava minha respiração irregular. A visão da morte tão próxima era avassaladora, e parecia que eu nunca me acostumaria. Abel, em seu esforço para me acalmar, parecia distante.

ㅡ Aquilo era só teatro... Provavelmente alguém infiltrado.

ㅡ Não... não era, ele morreu! Sei disso porque... ㅡ Parei de falar, prendendo o ar no pulmão. Minha voz se perdeu nos pensamentos dos quais ele não acreditaria que senti, e ainda sinto a presença do ceifador.

Que ele seria a próxima vítima.

ㅡ Confia em mim, vai ficar tudo bem. ㅡ Abel se aproximou mais. Sinto seu toque suado no braço, mas queria distância, a cada segundo parece que me sufocaria mais.

ㅡ Você é quem precisa confiar em mim ㅡ rebati de maneira teimosa, queria espaço, mais do que aquela sala poderia oferecer. Se eu pudesse derrubar cada parede daquele pequeno cômodo, assim faria. Péssima ideia entrar nesse brinquedo.

Meu coração batia tão forte que sentia que a qualquer momento escaparia do meu peito. Eu estava ofegante como se estivesse correndo... Contudo, eu estava parada. Queria correr, queria gritar, fazer qualquer coisa, mas não conseguia me mexer. O que está acontecendo? Isso não pode ser normal.

Nem nos piores momentos com Lycoris foi tão desesperador assim. Minha mente estava travada, eu simplesmente não conseguia pensar em mais nada. Essa é a pior parte: não conseguir pensar.

O mais estranho é que sentia a raiva dominar meu corpo, queria empurrar Abel e reclamar com ele apenas pelo fato dele parecer tão calmo. Mais um sentimento negativo, além da ansiedade e do pavor, algo que não estou acostumada; não estava... não antes de embarcar nesse mundo.

ㅡ Olha... ㅡ Abel me fitava, aguardava alguma reação de minha parte, mas não conseguiu chamar minha atenção o suficiente para isso. ㅡ Posso contar um segredo?

O garoto na minha frente insistia em ficar calmo, enquanto minha mente entupia-se de pensamentos agonizantes que só ecoavam no meu ouvido.

ㅡ Não é hora para isso ㅡ murmurei. Abel, próximo o suficiente para escutar, recua.

Não estava falando dele, estava falando comigo mesma. ''Não é hora para isso'', eu vim aqui para evitar a morte do garoto a minha frente, e se não aconteceu... Por que já estou lidando com a derrota?

Preciso me acostumar com isso, eu sou boa nisso, em se adaptar. Repito tais palavras mentalmente como se fosse um mantra, mas até esses pensamentos se perdem em minha agonia. Essa situação definitivamente não está normal, e em meio a essa aflição toda, entendo finalmente o que está acontecendo.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora