Wings - Vidas Que Não São Suas

Capítulo ☆^☆ 10

Hoje é dia de enfrentar a morte.

Deitada em minha cama, abafei um pequeno grito em uma das minhas almofadas, enquanto batia as pernas, numa tentativa desesperada de conter a frustração que se instalava em mim. Nervosa e sem saber o que fazer.

Me levanto rapidamente; preciso organizar minhas atividades para não atrasar na matéria da semana. Ainda preciso manter a imagem de garota dedicada da turma. Afinal, próxima semana serei representante...

Uma semana se passou muito rápido desde que descobri que Abel morreria. Contudo, o tempo que passou não foi desperdiçado. Fiz algumas anotações mentais. A primeira é que: para quem diz ser a morte, Lycoris é bem desocupado. Sei disso porque o observei.

Procurei-o por toda parte.

Não me importo se ele notou; eu não estava tentando ser discreta. Na verdade, tenho certeza que percebeu, ele passou a se esconder melhor quando fiquei o procurando por toda parte. Acho que pensou que era um jogo.

Preciso de informações ou de um plano! Qualquer coisa que me seja útil e me confira alguma vantagem, além das que eu já tenho ou aquelas que ele mesmo fez questão de facilitar. Qualquer coisa pode ajudar.

E eu tenho algo; consigo sentir sua presença antes mesmo de ele estar visível aos meus olhos. Me pergunto se ele sabe disso. Seu olhar era de surpresa sempre que eu acertava onde ele estava. Já percebi que sempre que alguém está prestes a morrer, ele aparece e fica lá, encarando o local onde tudo vai acontecer. Essa é minha melhor pista.

☆^☆

Olho para o quadro de aviso da casa antes de sair e percebo que, mais uma vez, estarei sozinha em casa neste final de semana. Meus pais estão ausentes devido a compromissos de negócios. Eles trabalham no ramo do agronegócio, sendo proprietários de uma indústria de tecnologia e suporte na área, o que frequentemente os leva a viagens para o interior.

Meus pais poderiam deixar dinheiro para que eu pudesse pegar um carro, mas eles cresceram em uma família não muito abastada. Por isso, desde a infância, me ensinaram a economizar até mesmo em coisas simples, como papel higiênico e lanches. Eu preferia ser mais mimada. Ao invés disso, aprendi a fazer tudo sozinha.

Suspiro ao perceber que, mais uma vez, terei que recorrer ao ônibus. O teletransporte do ceifador seria incrivelmente útil em situações como esta.

☆^☆

O transporte demorou um pouco e, ao chegar, encontrei Dáfine e Lisandra esperando do lado de fora. Ambas acenam para mim quando me veem. É estranho ver pessoas que vejo diariamente optando por algo mais casual do que o usual. No entanto, opto por não expressar isso em palavras; apenas ofereço os elogios.

Dáfine exibia uma expressão descontraída, como se estivesse aproveitando e se divertindo com tudo da ocasião, vestindo uma calça e blusa que mostrava os ombros. Enquanto Lisandra, com seu vestido longo floral, e uma jaqueta jeans bem estilosa, parecia uma princesa, com os cabelos loiros presos em um coque.

Eu, por outro lado, sentia uma pequena pontada de arrependimento por não combinar melhor o traje com as meninas. Vestia um short, camiseta e um par de sapatos simples, estava básica demais. Eu deveria ter planejado melhor, pois estamos em um aniversário, mas só pensei em algo confortável caso precisasse correr. Afinal, Abel pode morrer a qualquer momento, Lycoris não me disse a forma e nem o exato horário.

Tento deixar esses pensamentos de lado. Percebo que, mesmo em uma escolha mais simples, minha roupa tem seu charme. Além disso, arrumei meu cabelo, que por si só já chama atenção. Fiz duas tranças no topo da cabeça e deixei metade do cabelo solto, destacando alguns cachos abertos e longos. Não tenho do que reclamar da minha aparência.