Saiu no noticiário que o incêndio foi provocado por uma falha na fiação da casa. Mas o demônio estava lá muito antes do fogo começar. Tenho medo de descobrir o tanto que eles conseguem interferir no mundo humano.
Todos conseguiram sair a tempo, e não houve muitos feridos. A maioria foi atendida no local e passa bem. Os únicos realmente machucados foram eu e o Abel. No entanto, quando olho para a queimadura no meu tornozelo, com aquela coloração que parece ferrugem, duvido que tenha sido causada pelo incêndio. Foi o demônio que me agarrou e me derrubou naquela hora. O machucado realmente incomoda, e não sei o que posso fazer para aliviar a dor sozinha.
Não acho que uma pomada resolveria... mas desde que eu acordei, ele está diminuindo aos poucos.
Abel está no hospital, e como hoje é domingo e não tenho muitas atividades, vou aproveitar para visitá-lo depois do almoço. Meus pais vão preparar a refeição, e estou um pouco nervosa com a possibilidade da cozinha não sobreviver, mas feliz por termos a chance de comer juntos. Enquanto a hora não chega, vou tentar finalizar as tarefas da escola.
Eu realmente preciso me concentrar. Tenho aula amanhã, uma prova se aproximando, e preciso seguir com a rotina escolar, mesmo com tudo isso acontecendo. Mas, quando olho para a mesa de estudos e vejo as folhas de cálculos espalhadas no caderno, simplesmente não consigo me desligar dos pensamentos sobre eles.
Onde será que eles estão? Sei que estão por perto, consigo sentir a presença deles, mas não os encontrei em nenhum lugar da casa. Queria tanto que houvesse uma forma de chamar os dois. Será que, se eu gritasse, eles apareceriam? Não posso fazer isso, não quero parecer tão desesperada pela atenção deles.
E não é como se eu estivesse desesperada por isso mesmo... eu só preciso conversar sobre ontem, entender o que realmente aconteceu. Mas, por enquanto, estou aqui, tentando calcular a resistência de um curto-circuito, enquanto sinto que minha mente está prestes a entrar em pane.
Empurro a cadeira de rodinhas para longe, afastando-me da mesa. Preciso de espaço. Não... preciso de respostas, e não estou falando da atividade da escola. Meu tornozelo está me incomodando bastante, e talvez, se eles estivessem aqui, não apenas me ajudassem a encontrar essas respostas, mas também a lidar com o machucado.
ㅡ Olha só... Falei para não chegar perto deles. ㅡ a voz de Lycoris ressoou pelo quarto, carregada de ironia. Ele me observava com um olhar curioso, sentado na cama, quase como se estivesse se divertindo com a situação.
Se em algum momento achei que ele pudesse se preocupar, estava completamente enganada. Ele me encarava com um olhar curioso, sentado na cama, como se estivesse se divertindo com a situação.
ㅡ Como se eu tivesse tido escolha. ㅡ murmurei, encarando meu tornozelo e tentando ignorar a presença dele. Por alguns instantes, até esqueci que havia desejado que ele estivesse no quarto.
ㅡ Está doendo tanto assim? ㅡ perguntou Maya, surgindo do nada ao meu lado, enquanto observava o machucado no meu tornozelo com atenção.
ㅡ N-não... ㅡ Minto, mesmo que a dor seja perturbadora. É como se queimasse a pele o tempo todo, desde o momento em que saí da cama. Não passou nem por um segundo.
ㅡ É pequeno... não foi nada grave para se preocupar, a infecção já está sumindo ㅡ disse Maya, com aquela serenidade indiferente que parecia ignorar completamente a minha inquietação.
ㅡ Vocês não conseguem simplesmente curar? ㅡ perguntei a Maya, tentando esconder o desespero na voz. Lycoris já curou um ferimento meu uma vez, mas Maya, com o poder de uma guardiã, alguém que supostamente deveria me proteger, nunca fez nada parecido. ㅡ Eu sei que essa praga não é um machucado comum, mas não tem nada que possa ser feito?
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Wings - Vidas Que Não São Suas
FantasyAkira é uma adolescente que leva uma vida tranquila, com poucas preocupações além da escola. Embora jovem, é bem resolvida e amadureceu rápido devido aos pais ausentes. Contudo, após salvar a vida de um desconhecido, acaba recebendo a visita de um...