Capítulo ☆^☆ 7

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Agora, só me resta aceitar que minha vida se transformou em uma bagunça fora de controle. Preciso me conformar com o fato de que, para sobreviver, dependo de uma guardiã em quem não confio — e que claramente também não confia em mim. Qual seria o motivo para ela não me contar o que realmente está acontecendo, se não fosse esse? Ela não confia em mim...

Suspiro, incomodada com a falta de resposta, temendo ter me metido em um grande problema, um golpe! Não preciso temer essa possibilidade — é um fato.

Afastando esses pensamentos de mim, o dia até parecia tranquilo, mas acabei de me deparar com algo peculiar enquanto terminava de usar o banheiro. Acho que essas descobertas vão continuar acontecendo sempre.

Uma criatura do tamanho da palma da minha mão estava agarrada à torneira da pia. Sua aparência lembrava a de uma aranha, mas tinha apenas um olho esbugalhado que girava incessantemente, sem se fixar em um único ponto.

— De onde será que veio? — murmurei, sentindo um calafrio percorrer meu corpo. Apesar de parecer inofensiva, a criatura me causava um desconforto difícil de ignorar, uma mistura de repulsa e nojo que me fez querer afastar o olhar, mas não consegui.

Talvez esse seja meu problema, preciso aprender a ignorar certas coisas. Claro, estou sozinha em casa novamente. Não que isso seja novidade. Olho ao redor, procurando algo para lidar com a criatura, meus olhos vasculham o banheiro. Talvez uma vassoura, qualquer coisa grande que me ajude a afastá-la. Um balde também seria útil — posso jogá-la lá dentro e me livrar do balde depois.

— Isso com certeza não é do meu mundo. — murmurei, segurando firme a vassoura que havia pego perto da porta do banheiro. Respirei fundo, tentando controlar o desconforto que crescia em mim. Com cautela, comecei a me aproximar lentamente da criatura, mantendo o olhar fixo naquele olho único e inquieto.

Recuei um passo, apertando a vassoura com mais força, quando o único olho da criatura parou de girar e se fixou em mim. Ela começou a se mover lentamente, esgueirando-se em minha direção. Talvez fosse o momento de convencer meus pais a considerar uma mudança... para bem longe de tudo isso.

— Claro que não é do seu mundo. — A energia de Lycoris preencheu o ambiente, e sua voz grave, carregada de sarcasmo, ecoou ao meu redor.

Me virei imediatamente e congelei ao ver o sorriso do ceifador tão próximo; ele empunhava sua foice. Observei o movimento dele ao encostar a lâmina afiada da arma na criatura, que se desfez em pó de ferrugem vermelha, dissolvendo-se no ar.

A foice sumiu logo em seguida. Uma pontada de inveja me atingiu ao observar sua habilidade com uma arma tão singular. Como eu poderia conseguir uma? Será que agora que estou envolvida com tudo isso, há alguma chance de eu ter uma também?

— Vou acreditar que você não pensou que resolveria isso com uma vassoura — disse o ceifador com certo menosprezo, encarando o objeto em minhas mãos.

— Eu não tenho uma foice guardada em casa — respondi com raiva, reagindo ao tom sarcástico de sua voz. Não queria agradecê-lo pela possível gentileza que acabou de fazer, já que sempre vinha acompanhada de depreciação. — Você não pode entrar no banheiro quando estou nele.

— Quem disse? — disse Lycoris, o tom jocoso escorrendo de sua boca de maneira presunçosa, enquanto se aproximava perigosamente de mim.

— É o óbvio, não é? — Tentei manter o controle. Ele estava me irritando, especialmente porque parecia gostar de me ver assustada com sua presença. Um sorriso percorreu meu rosto quando percebi que ele realmente me assustava. — Meu querido ceifador, pode não ser hoje, mas aguarde o momento em que vou tirar esse sorriso do seu rosto.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora