Capitulo ☆^☆ 9

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Prefiro não acreditar em fantasmas. Essa permaneceu sendo a minha abordagem; sempre busquei explicações racionais para eventos estranhos. No entanto, como posso explicar o balanço movendo-se sozinho?

Principalmente, quando sei que ele não está se movendo sozinho.

Esse é um dos motivos por que não gosto mais de sentar perto da janela da sala. Comecei a evitar olhar para fora. Consigo ver mais demônios do que na sala. Ao ar livre, normalmente os vejo agarrados em alguém. Eu não consigo descrever o quão bizarro e apavorante isso é.

Agora, não posso mais achar que o vento ou que a gravidade são responsáveis quando algum objeto cai aleatoriamente no chão ou começa a se mover sozinho.

A escola é mais assombrada do que qualquer coisa que consigo imaginar, talvez o cemitério seja pior, mas desde que isso começou a acontecer comigo, não me atrevo a passar de frente de um lugar assim. Os fantasmas de lá devem ser ainda piores do que os que vagueiam no colégio.

Por exemplo, todos os dias, vejo uma criança brincando, no mesmo horário. A garotinha está lá, sozinha, se divertindo sem que ninguém note suas brincadeiras naquele lugar, as pessoas apenas se assustam com o movimento repentino do balanço.

Lycoris mencionou que os fantasmas geralmente têm pendências na Terra ou não aceitaram a morte. Às vezes pregam peças e até são vingativos com os humanos. Tudo depende dos quão afastados da margem dos mortos eles podem ficar. Eles vagueiam entre o mundo dos vivos e dos mortos, mas a interação é tão limitada quanto a dos demônios.

Ele os detesta, alegando que lidar com fantasmas dá muito trabalho, principalmente porque são como bolos de energias vitais desprotegidos; significa que atraem muitos demônios. Por algum motivo me identifiquei com essa definição.

Fantasmas têm a habilidade de escapar dessas criaturas, desaparecendo até mesmo quando os ceifadores chegam repentinamente. No entanto, nem sempre conseguem evitar serem devorados por esses monstros, tornando os demônios ainda mais perigosos, é problemático só de imaginar.

Maya não se estende muito sobre o assunto dos mortos. Ela explica que seu foco está nos vivos, em protegê-los da melhor maneira possível, sem intervir demasiadamente em suas escolhas, particularmente não sei se entendi a última parte.

A energia do fantasma é diferente se comparada a das outras criaturas que sinto, ela transmite uma essência singular e específica. É como a energia de qualquer humano, mas muito mais pura e vulnerável. Tenho uma vontade de chegar perto e tocar, talvez os demônios sejam assim também, pensam tanto nisso que devoram a energia quando têm a chance.

Com o tempo, as energias se tornam cada vez mais distintas e consigo reconhecê-las com mais clareza, identificá-las quando estão próximas. E perceber até algumas diferenças entre a energia humana.

Os humanos têm uma energia mais fraca. Acho que, devido ao véu, elas ficam camufladas, ainda há alguns que se sobressaem, embora não saiba exatamente o motivo. Talvez seja aquele véu anômalo que Lycoris e Maya explicaram.

ㅡ Então o boi caiu na terra ㅡ disse Dáfine. Desviei o olhar da janela para a garota que fazia uma expressão exagerada. Lisandra ria ao seu lado.

Observava as meninas com uma careta que se formou quando percebi estarem zombando de mim.

Estávamos reunidas com as cadeiras encostadas, esperando até o início das aulas à tarde. Vestíamos o uniforme com calças hoje, o tempo estava meio frio para uma sexta-feira. Ainda assim, Lisandra era a que vestia mais peças, parecia um exagero comparada com as demais.

ㅡ O que foi? ㅡ perguntei, voltando a dividir minha atenção entre a janela e as garotas dessa vez.

ㅡ O que foi? ㅡ imita Dáfine, mais exaltada. ㅡ Você está completamente desatenta. Semana que vem, já será a representante da sala e eu estava explicando as funções.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora