Capítulo ☆^☆ 3

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Nem mesmo o cansaço e a exaustão conseguem controlar minha ansiedade ao olhar o relógio na sala. Cada segundo parece uma tortura. Contudo, o momento não parece querer chegar.

Não é que eu desejasse um novo encontro com a morte, mas eu sabia que ele viria e a incerteza sobre quando isso aconteceria tornava a espera ainda mais angustiante. Será que ele está ocupado? Ou está brincando de me fazer esperar? Aposto que sente prazer em fazer isso.

A noite já havia caído e nada ainda, mas tenho certeza de que ele virá. Fechei todas as portas, janelas e entradas, como se isso pudesse impedir a entrada do ceifador em minha casa.

Desesperadamente, procurei por uma arma na cozinha, agarrando a maior faca que encontrei. Relutante, conferi todos os cômodos e me sentei no sofá da sala, olhando para a porta da frente.

Meus pais não estão em casa hoje, em viagem a trabalho, e eu ficaria esperando sozinha novamente. Já era difícil lidar com a visão da morte durante o dia; imaginar ele aparecendo durante a noite é ainda mais assustador. Quando será que ele aparecerá? Me sinto uma idiota esperando tanto tempo, segurando uma faca, como se isso fosse me proteger de alguma coisa. O que estou pensando em fazer? Esfaquear a morte quando ela chegar?

Minha visão está turva e fica pior à medida que o tempo passa. Se eu não me mexer, acabarei dormindo. Suspiro cansada, aquele lunático deve estar se divertindo, deixando-me tão paranoica.

ㅡ Não vou vê-lo chegando ㅡ confessei em voz alta, sem perceber, tentando me manter firme, mas quase caindo de sono. O cansaço estava me dominando e a espera pela morte parecia um sonho eterno.

ㅡ Está esperando uma visita? ㅡ Meu corpo estremece e pulei para fora do sofá, encaro o ser que estava o tempo todo sentado ao meu lado. Rapidamente levanto a faca para ele. ㅡ Que recepção calorosa.

Ele encara a faca e apenas sorri, depois volta o olhar para mim. Divertindo-se com minha realidade, não sei o que eu estava pensando, mas com certeza não era fazer graça para ele. Apenas abaixo a arma.

ㅡ Você finalmente chegou ㅡ disse cabisbaixa, não era assim que esperava recebê-lo, mas o cansaço que se instalou em meu corpo estava o deixando cada vez mais pesado. Sem força para segurar até mesmo a faca, largo-a no chão.

ㅡ É visível o quanto estava ansiosa pela minha visita ㅡ comentou, irônico. ㅡ Até preparou um cenário animador...

Ele olha ao redor, verificando o cômodo. Toda a casa estava fechada, e a sala parecia ter ganhado um ar melancólico. Recuo alguns passos por reflexo, achando que assim me manteria mais segura. Não parece ter efeito, sinto-me acorrentada por algo invisível, e paro de me movimentar.

O ceifador se levanta e se aproxima, com passos lentos. Dessa vez, tento me manter firme, olhando-o. Meu coração se agita à medida que ele se aproxima, talvez porque o medo tenha começado a despertá-lo. De certa forma, é diferente da primeira vez. Parece louco, mas contraditoriamente estou gostando dessa sensação. Porque agora percebo que, quando ele se aproxima, o medo dissipa o cansaço, e as correntes me mantêm em pé; essa energia sinistra que transborda de seu ser apenas me deixa mais atenta.

Quero que ele se aproxime, cada vez mais. Odeio me sentir cansada quando não estou cansada, essa exaustão não pertence a mim. A única coisa que posso fazer é esperar. Continuo a olhar com certa marra no rosto, sem dizer uma única palavra sobre o que realmente estou sentindo.

Ele para diante de mim. Sinto sua respiração quente, um detalhe que antes me causava desconforto, agora me satisfaz, sendo mais uma ferramenta para dissipar o cansaço. Não imaginava que gostaria desse momento. Meu corpo reage, arrepios percorrem minha pele, e uma sensação de calor se espalha, como se uma corrente elétrica tivesse sido acionada.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora