Capítulo ☆^☆ 12

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Não enxergo nada quando abro os olhos. A escuridão me envolve novamente, e só o som da chuva quebra o silêncio. Estranho, porque não percebo nenhum sinal de que está chovendo, além do barulho insistente.

Sinto a terra macia e úmida fazendo cócegas nos meus pés descalços. É a única sensação que percebo no momento. O barulho de choro infantil sobressai aos demais.

Não adianta olhar para frente ou para trás; está escuro demais. Me guio apenas pelo choro, na esperança de que ele me leve a algum lugar diferente. Será que é perigoso seguir? Mas... ficar parada é pior e talvez igualmente perigoso.

Elas morreram! — disse uma voz, e por algum motivo, meu coração se aperta. ㅡ Elas morreram... Mas por quê, papai? Elas morreram!

Abri os olhos com o barulho do despertador do quarto. Demorei um pouco para recuperar os sentidos antes de desligar o objeto e perceber que se tratava de mais um sonho.

A janela do meu quarto, embaçada pela chuva, ecoa os sons à medida que as gotas de água se chocam com o vidro... A chuva, mais uma vez, embaralhando minha mente. Real e irreal se misturam, e preciso me concentrar para distinguir um do outro.

A maçaneta da porta gira vagarosamente. Observo a ponta da cabeça de uma garota ruiva se apresentar antes mesmo de sua dona. Não me surpreende; me acostumei com a presença constante de Maya e Lycoris, como sombras, cada vez mais familiares.

A mulher aparece por completo e fica animada ao me ver acordada. Seu cabelo enorme se destaca com sua altura; tudo nela chama atenção. Ela parece uma jovem modelo, se eu não soubesse que tem mais de um milênio de idade.

ㅡ Sabia que tinha acordado! ㅡ exclamou Maya, finalmente entrando no quarto com uma bandeja de comida. ㅡ É impossível não acordar com um troço desse fazendo barulho.

Ela apontou para o despertador com o olhar. Acontece que, pela primeira vez, acordei com o primeiro toque do alarme, um segredo que não revelaria tão facilmente. É melhor que ela acredite que consigo acordar com facilidade; pareço mais dedicada assim.

ㅡ Hoje é domingo... ㅡ comentei, a voz rouca e meio triste transparecendo. De todos os dias, hoje o alarme não era para ter tocado; eu deveria estar dormindo. Eu poderia estar dormindo.

Estava prestes a deitar novamente se não fossem pelos ovos mexidos, pão e café que estavam diante dos meus olhos. Fazia anos que alguém cozinhava para mim; normalmente, eu mesma fazia tudo, sempre sou eu sozinha.

Senti saudades disso. E agradeci com sinceridade.

ㅡ Experimente! Não importa a época, essa comida continua sendo bem clássica ㅡ disse Maya com um sorriso simpático de ponta a ponta no rosto. Ela deve saber que não deveria me mimar tanto; não sou fácil de lidar quando me tratam dessa forma, acabo ficando mais abusada que de costume.

Ainda estou atordoada por causa do sonho, por tudo o que aconteceu ontem, mas não recuso a comida à minha frente e começo a comer sem cerimônia. Contudo, sou interrompida antes mesmo da segunda mordida no pão.

ㅡ Provavelmente a única que aprendeu a fazer ㅡ disse Lycoris, ao entrar no quarto e se intrometer de repente na conversa. Eu o encaro por alguns segundos antes de finalmente morder o pão.

Sua presença também é marcante. Sua altura não se destaca tanto quanto a de Maya; ele é apenas alguns centímetros mais alto que eu. No entanto, sua energia é tão forte quanto a da guardiã, exceto quando alguém está prestes a morrer. Nestes casos, a energia dele se torna pior.

ㅡ O que você tem? ㅡ perguntou o ceifador, com um olhar ansioso, sem desviar o foco de mim. Mas devo estar imaginando coisas; não há como ele estar de alguma forma preocupado, por mais que isso seja o que parece.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora