Wings - Vidas Que Não São Suas

Capítulo ☆^☆ 2

⚠️ Esse capítulo aborda temas sensíveis --> (Suicídio)

☆^☆

Quando quero esquecer um pouco de tudo, subo até o topo do colégio e começo a pintar o céu. Parece bobo, mas é um trabalho tão dedicado que me faz desligar dos problemas e pensar só nisso, pensar no dia que está passando.

Um dia a mais ou a menos, ainda não sei o que sinto quando olho o céu rosado do pôr do sol e os pelotões de nuvens que sempre ganham um formato diferenciado nesse horário. É um tipo de desenho que costumo repetir constantemente, a mesma paisagem, mas diferente. Já que o entardecer continua sempre existindo todos os dias de maneira semelhante, mas ainda assim com distinção.

Era para estar dando certo, a pintura me faz distrair a mente e é prazeroso, ou era para ser. Mas agora, estou entediada com o pincel deslizando pela tela. Não... O que realmente sinto é exaustão. Meus olhos pesam, meu corpo clama por descanso, e tudo o que desejo é concluir logo essa pintura e encontrar um lugar onde possa fechar os olhos, mesmo que ainda esteja na escola. Na verdade, considero a possibilidade de descansar bem aqui, no terraço do prédio principal.

À medida que minhas pinceladas terminam o cenário de um céu que se despede do dia, meus olhos vagam. Me pergunto, por que temos aulas até tão tarde? Nunca me queixei tanto desse horário, sempre o aceitei como parte da rotina. Realmente, algo está muito errado comigo e deve ser por conta dele... por conta da morte. Estou cansada demais para conseguir colocar culpa em outra coisa.

ㅡ O que está fazendo? ㅡ Dou um sobressalto e quase borro a tela, quando escuto a voz da garota que fez a pergunta.

A garota parecia ter minha idade, cabelos em um tom de castanho quase dourados, um pouco abaixo do pescoço, a pele clara e o rosto sardento. Ela me lembra, estranhamente, um esquilo com medo, com suas bochechas redondinhas. Não estudava na minha sala, porém, ainda assim, recordo que já frequentamos algumas aulas juntas, o que significa que somos do mesmo ano.

Ela usava o mesmo uniforme que eu, uma saia azul-marinho e uma camisa branca, embora ela tivesse escolhido cobrir os braços com uma camisa interna de mangas compridas e as pernas com uma meia-calça escura. Podemos usar acessórios e outras peças de roupas, contanto que o símbolo em formato de escudo da camisa da farda esteja visível. Contudo, é estranho ver tantas peças em um dia tão quente.

ㅡ Olha só ㅡ apontei para o desenho, mostrando os detalhes.

Costumava desenhar sentada, o terraço estava tão acostumado com a minha visita que eu já deixava o cavalete e o banco nesse mesmo local. A garota olhou para o desenho com um olhar admirado e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. Voltei a pintar, estava quase finalizando.

ㅡ E você? ㅡ perguntei.

ㅡ Eu... ㅡ Ela começou em um tom choroso, chamando minha atenção, a qual até agora estava focada no desenho. ㅡ Nada, é o que normalmente estou fazendo.

Nada? Ninguém faz cem por cento nada. Mas, antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, na minha última olhada para frente, a presença mais desagradável que parecia persistir em me perseguir apareceu.

A morte estava parada na cobertura do prédio adjacente, fazendo um movimento negativo com a cabeça. Com um sorriso sádico, como se soubesse que eu interferiria, expressando claramente que eu deveria ficar contida. Era uma presença aterradora, e eu sabia que não poderia fazer nada para mudar seu propósito. Não testaria sua paciência, dessa vez vou apenas ignorar, como o acordado. Resta saber como será essa morte, assim não interferirei.

Evito encarar a garota, pois temo encontrar em seus olhos algo que dificulte a ideia de não interferir.

ㅡ Você acha que, se a gente cair daqui, morreríamos? ㅡ pergunta à menina com a mesma voz chorosa.