Capítulo ☆^☆ 14

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Odiei quando meu irmão saiu de casa. Eu pedi para ele ficar, "mas a faculdade é mais importante do que o pedido da pestinha da irmã mais nova". Palavras dele. Então, ele apenas saiu.

Fiquei com tanta raiva que passamos quase um ano sem nos falar, até ele resolver aparecer no feriado de fim de ano. E me irritar tanto que não tive outra escolha. Já se passaram uns três anos desde então.

Talvez eu tenha sido egoísta e mimada, admito. Quando as coisas não acontecem do meu jeito, sinto uma frustração quase infantil. Mas a verdade é que nunca pedi muito a ele, nunca exigi demais. Até o dia em que ele decidiu partir. Só pedi que não me deixasse só. Acho que foi demais para ele, já que não me atendeu.

Tudo bem, tudo bem... está tudo bem agora. Ao longo do tempo, desenvolvi uma espécie de autonomia. Aprendi a me virar, a aceitar que estou sozinha, que não preciso de ajuda para conquistar meus objetivos, que não preciso de ajuda para quase nada. Estou sempre só para resolver meus problemas.

Convivi com isso, e está tudo bem. Minha vida não é um drama de verdade, e aprendi a amar minha família, mesmo que estejam ausentes. Eles me ensinaram lições valiosas. Uma das mais significativas foi aprender a não me envolver com estranhos.

Talvez a lição não tenha sido bem ensinada, porque, olha só, aqui estou, sentada em um ônibus, na companhia de um ceifador e uma guardiã. Papai, mamãe e irmão, serão esses os tais estranhos dos quais vocês me avisaram para não me envolver? Eles são como personagens de um conto surreal.

ㅡ Eu até entendo a Maya me seguindo... mas, querido ceifador, se não te conhecesse, diria que está fazendo o mesmo ㅡ provoquei. Depois, encarei Lycoris, que era o único em pé. Maya estava ao meu lado, sentada.

O ceifador respondeu com um sorriso sutil. Sei que ele quer encontrar o culpado, mas não acho que essa pessoa vá surgir do nada. Ela se manteve escondida até agora por um motivo, e se quiser aparecer, acredito que não será quando estou na companhia de Maya e Lycoris.

ㅡ Você disse que visitaria o hospital ㅡ ele respondeu, indiferente às minhas palavras. ㅡ Também preciso ir.

ㅡ Então por que... ㅡ Estalei os dedos. ㅡ Não se teletransporta? É muito mais rápido, não?

ㅡ Você quer que eu faça isso? ㅡ Ele arqueou o lábio, me provocando com deboche na fala, mas não respondi. Tentei copiar sua indiferença. ㅡ Vai pegar carona comigo, como da última vez?

ㅡ Não... claro que não. ㅡ retruquei, recuando meu corpo e tentando dissipar os pensamentos perigosos que pairavam no ar, sem admitir nada.

Embora o desejo se agitasse silenciosamente em mim, eu nunca admitiria, mas planejava orquestrar algo semelhante ao último incidente em que ele me levou para o hospital. Porém, desta vez, seria de propósito. Tudo isso apenas para evitar a tortura cotidiana de encarar um ônibus.

ㅡ E também, quando terei outra oportunidade de andar em um transporte desses? ㅡ indagou Lycoris.

ㅡ Está brincando, né? ㅡ perguntei em um tom irônico.

ㅡ Faz anos que não ando também ㅡ informou Maya. Ela desviou a atenção da janela para nós. ㅡ Mas não sinto saudades... eles são lentos e balançam demais.

A guardiã se esforçava para não me deixar sozinha com o ceifador. Seu poder era forte o suficiente para me proteger à distância, mas sempre deixou claro que simplesmente não confiava nele.

ㅡ Eu também não sentiria saudades de andar neles ㅡ falei. Acho Lycoris ainda mais estranho depois disso. ㅡ Você pode se teletransportar, não é, Maya?

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora