6| Jantar

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Maratona


Acordei logo cedo, e já fui indo pra faculdade. Eu estava com a cabeça doendo, mas só tomei remédio e me obriguei à ir.

Já estava na hora de ir embora, quando Day me parou na saída.

ㅡ Oi.ㅡ sorriu.

ㅡ Oi.ㅡ respondi tentando não parecer grossa ou rude, eu não estava em um bom dia.

ㅡ Você vai à festa hoje? ㅡ perguntou na lata.

Tentei processar a pergunta.

ㅡ Ah... Qual? ㅡ tentei em lembrar de alguma festa dos universitários, mas nada me veio à mente, apenas uma do final do mês.

ㅡ Sei que você é amiga da Vivi. ㅡ falou um pouco tímida.

ㅡ Sabe, é? ㅡ acabei rindo sem humor.

ㅡ Diana me falou.ㅡ olhou para os próprios pés, corando ㅡ Eu e ela somos amigas.

Ah, claro.
Eu odiava o fato de Diana achar que eu precisava de amigos.

ㅡ Ah, eu não sei se vou.ㅡ respondi tentando amenizar a situação ㅡ E você?

ㅡ Eu vou, sim.ㅡ me olhou sorrindo ㅡ Espero que você vá, assim, podemos nos conhecer melhor, o que acha?

Tá. Day não era tão ruim assim, eu é quem era entediante.

ㅡ Vou ver, só não garanto a minha presença e nem a de Diana.ㅡ respondi e ela assentiu.

ㅡ Então tá. Não vou te ocupar mais.ㅡ olhou para trás ㅡ Preciso ir, até mais, Penelope.

Acenei e ela saiu indo até o carro preto do outro lado da rua. Vi uma silhueta masculina e presumir ser namorado dela... Ou sei lá, algum parente.

Não deu pra ver o rosto.

Dei de ombros e continuei a minha caminhada até o ponto.
Eu precisava comprar uma moto pra mim.

~~

Mais tarde, na janta, o silêncio prevalecia. Joaquim era o único disposto à fazer barulho o suficiente em seu joguinho no celular.

Joaquim era uma criança de nove anos. Lembro que nossa mãe, quando o teve, foi para a casa da moça em que ela trabalhava, cuidando dos filhos da senhora também. A patroa não tinha leite, então Elsa alimentava os dois bebês.

Nosso pai também trabalhava nessa fazenda, e era o braço direito do patrão, até as coisas darem errado.

Nossa mãe não gostava que a gente fosse pra lá, embora nossos pais passassem a maior parte do tempo trabalhando na casa. Eu e Diana, ficávamos com nossas avó paterna, que morreu no anos seguinte da morte do nosso pai. Eu acreditava que o desgosto de perder um filho havia sido tão grande, que ela adoeceu e morreu.

Foram duas perdas muito fortes na minha vida.

Não sabia o porquê da morte do papai, mas eu odiava o fato de Elsa ter nos privado dessa informação. Foi um ano conturbado, o pior da minha vida.

ㅡ Joaquim! ㅡ escutei a voz de Elsa ㅡ Mesa não é lugar para isso. Guarde, agora.

Joaquim resmungou, mas desligou o celular, fitando a comida com raiva.

Diana estava calada ao meu lado, mas senti quando sua perna cutucou a minha.
Eu sabia o que ela queria. A festa começaria em poucas horas, e nós nem mesmo havíamos comentado com Elsa.

ㅡ Mãe...ㅡ a chamei e ela me olhou ㅡ Hoje é aniversário da Vivi.

ㅡ Viviane? Aquela sua amiga que cheira pó? ㅡ franziu o cenho fazendo uma careta.

Minha mãe tinha um péssima lembrança de Viviane chegando bêbado aqui em casa, após brigar com os pais. À partir daí, pra ela, Viviane é usuária de tudo que é droga. E não adiantava dizer que não era, porque Elsa batia o pé fortemente dizendo que era.

ㅡ Mãe! ㅡ ela revirou os olhos, voltando à comer ㅡ Viviane é um amiga muito querida. Ela vai dar um festa pequena em sua casa, apenas com a família e os amigos mais próximos...ㅡ eu não queria ir, mas se eu pedisse por mim e por Diana, ela já podia ir e eu ficava no quarto trancada ㅡ Podemos ir?

Elsa parou de comer e me olhou com as sobrancelhas levantadas.

ㅡ Ir para onde, Penelope? ㅡ perguntou como se não tivesse escutado uma palavra minha.

ㅡ Para a festa dela.ㅡ respondi a encarando de volta.

Elsa riu pelo nariz e balançou a cabeça negativamente.

ㅡ Diana está de castigo.

Diana está de castigo? ㅡ ouvi a voz de Joaquim, confuso.

Diana o olhou com um olhar mortal.
Ignorei e voltei a minha atenção para a nossa mãe.

ㅡMas eu também vou! Posso cuidar dela, mãe!ㅡ insisti ㅡ Só hoje, deixa ela ir... Voltamos antes da meia noite.

Elsa olhou para o relógio atrás de mim, grudado na parede.

ㅡ Já são dez da noite, Penelope.

Por que os jovens daqui iniciavam a festa tão tarde?!

ㅡEu sei. Não passamos da meia noite, prometo.ㅡ continuei ㅡ É um aniversário, mãe. Não é uma boate ou algo assim.

Detalhe: a festa era muito pior.

Ela me olhou e depois olhou para Diana.

ㅡ Sem atraso, ouviram? E nada de bebida, droga ou algo do tipo.

Sorri e olhei para Diana, que continuava com a cara emburrada.

ㅡ Certo! Vamos Nana! ㅡ levantei fingindo animação e a puxei escada à cima, evitando mais conflitos.

~~

Vou soltar alguns caps hoje, ainda. Deixem a estrelinha🌟❤

Um Acordo ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora