21| Lembranças

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Já em casa, e com os pensamentos ainda em Den, vi Joaquim correr para me abraçar.

ㅡ Feliz aniversário, maninha! ㅡ nem precisei me abaixar para abraçá-lo. Joaquim era grande demais para uma criança de nove anos, que estava perto de fazer dez.

ㅡ Valeu, Joaquim.ㅡ beijei sua cabeça e assim que ele me soltou do abraço, olhei ao redor, não vendo ninguém ㅡ Cadê o povo dessa casa?

ㅡ Diana está no quarto, porque acabou de chegar da escola, e Elsa está no trabalho.

Assenti e subi as escadas, doida para tomar um bom banho.

~~

Assim que saí do banheiro, vi um bolo, decorado com chocolate e granulado colorido, sobre a escrivaninha e Diana com uma caixa nas mãos, sentada na cama.
Nós não havíamos nos falado desde a briga, o que deixava o clima estranho, mesmo assim, ela me olhou cautelosa e estendeu o presente.

ㅡ Feliz aniversário, Pen.ㅡ sua voz saiu baixa ㅡ Espero que goste.

Suspirei deixando as brigas de lado e me aproximei lhe abraçando. Diana pareceu precisar desse abraço, pois me apertou, afundando o rosto em meu ombro.

Eu era mais velha, mas ela era alguns centímetros mais alta, me fazendo inclinar um pouco.

ㅡ Me desculpe...ㅡ sussurrou.

Sorri fraco, e esfreguei as suas costas com a palma da minha mão.

ㅡ Vamos esquecer isso.ㅡ disse e ela assentiu, ficando calada por um bom tempo.

Nos afastamos e eu peguei a caixa de suas mãos, abrindo e vendo um quadro de tamanho mediano e com uma moldura escrita "família".

Observei a foto, vendo eu ao lado de Elsa que estava Joaquim nos braços, e sentada na poltrona do hospital com um olhar cansado, mas brilhando ao olhar o pequeno pacotinho em seus braços; e depois olhei Nana com oito anos, nos braços de nosso pai, o qual nos olhava com orgulho e emoção. Joaquim era recém nascido e mamava no seio da nossa mãe.

Meus olhos se encheram d'água, e algumas lágrimas desceram pelas minhas bochechas.

ㅡ Encontrei essa foto no guarda roupa da mamãe.ㅡ ela falou com a voz embargada ㅡ Fiz uma cópia e resolvi te entregar, já que você não tem muita lembrança do nosso pai, assim como eu e Joaquim.

E era verdade. Nós mal tínhamos foto com nosso pai. Elsa que mostrava fotos do nosso pai de quando era mais novo para Joaquim, que não se lembrava de nada dele, já que quando ele morreu, nosso irmão mal tinha um ano de vida.

Para nós, nosso pai havia morrido em um assalto, o qual os bandidos não levaram nada, apenas mataram nosso pai, e depois deixaram o corpo lá.

Foi terrível, pois isso havia acontecido uma semana depois de eu quase ser abusada pelo filho do patrão dele, que na época tinha dezoito anos e eu dez, e meu pai quase o matar após ter flagrado a situação.

Na época, eu mal ia lá, mas sabia que a mulher do patrão tinha dois meninos. Um de dezoito e o outro de doze, uma menininha da minha idade e um recém nascido, o qual minha mãe também alimentou, mas que com o tempo, veio à falecer.

Lembro como hoje, e isso ainda me enche de pesar. É como uma ferida aberta, que nunca irá cicatrizar.
Meu pai havia sido um herói sem igual para mim, até o seu último suspiro.

ㅡ Pen? ㅡ escutei Diana me chamar.ㅡ Você não gostou? ㅡ me olhou preocupada, alheia aos meus pensamentos.

Abanei meu rosto afastando as lágrimas insistentes, assim como o aperto em meu coração.

ㅡ Poxa, Nana... Eu amei, de verdade...ㅡ sorri e sem hesitar, a abracei ㅡ Muito obrigada! É o melhor presente que eu poderia receber!

ㅡ Por nada, Pen.ㅡ se afastou pegando a caixa das minhas mãos e colocando sobre a cama ㅡ O bolo fui eu quem fiz também, então não garanto estar tão bom.

Acabei rindo, mas me assustei ao ouvir Joaquim entrar no quarto, ansioso.

ㅡ Já cortaram o bolo?! ㅡ Perguntou procurando o bolo com os olhos.

ㅡ Tu só vem pra comer, né? ㅡ Nama brincou e foi até a escrivaninha ㅡ Vamos comer lá embaixo.

Assenti deixando o retrato da nossa família em cima da cômoda, em um lugar bem visível. Logo em seguida, descemos para cortar o bolo.

Um Acordo ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora